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Startup de games Wildlife passa a valer US$ 3 bilhões após novo aporte

Nove meses após sua primeira rodada, empresa conquistou aporte de US$ 120 milhões liderado por fundo criado pelo cofundador da Microsoft

Arthur Lazarte, Victor Lazarte e Michael Mac-Vicar, fundadores da Wildlife: empresa, criada em 2011, é dona dos games de sucesso Sniper 3D e Tennis Clash (Germano Lüders/Exame)

Arthur Lazarte, Victor Lazarte e Michael Mac-Vicar, fundadores da Wildlife: empresa, criada em 2011, é dona dos games de sucesso Sniper 3D e Tennis Clash (Germano Lüders/Exame)

CI

Carolina Ingizza

Publicado em 12 de agosto de 2020 às 07h31.

Última atualização em 13 de agosto de 2020 às 11h52.

Nove meses depois de a Wildlife entrar no seleto clube de startups "unicórnios", com um valuation de 1,3 bilhão de dólares, a empresa de games mobile criada no Brasil volta a impressionar. Com o crescimento da indústria de jogos acelerado pela pandemia do novo coronavírus, a companhia atraiu um novo investimento e foi avaliada em 3 bilhões de dólares.

A startup, fundada pelos irmãos Victor e Arthur Lazarte e o chileno Michael Mac-Vicar, estava buscando capital em 2020, mas chamou a atenção dos investidores com os números alcançados na pandemia. A empresa acumulou mais de 2,6 bilhões de downloads e viu a base de usuários de seus principais jogos, Tennis Clash, Zooba e Sniper 3D, crescer entre 30% e 50% nos últimos cinco meses.

Os sócios só aceitaram receber um novo investimento quando o fundo americano Vulcan Capital, braço de investimento da empresa filantrópica criada pelo cofundador da Microsoft Paul Allen, mostrou interesse em liderar a rodada de 120 milhões de dólares. Além de ter investido em gigantes como Uber e Spotify, o fundo conhece bem a indústria de games. Em 2018, participou da rodada de 1,25 bilhão de dólares da Epic Games, companhia por trás do sucesso Fortnite, avaliada em 17,3 bilhões em agosto de 2020. 

Segundo Rafael Costa, sócio do fundo americano, o investimento na Wildlife foi motivado pelo bom momento que vive a indústria de entretenimento na pandemia e justificado pelo histórico da empresa, que cresce 70% ao ano desde 2014 e lança pelo menos um jogo de sucesso a cada 12 meses. 

O aumento do valor de mercado, que passou de 1,3 bilhão para 3 bilhões em menos de um ano, foi provocado pelo lançamento de novos hits. Na série A, assinada em outubro, a empresa não havia publicado ainda dois de seus maiores sucessos: Zooba e Tennis Clash. “Os dois games são parte grande do crescimento de 50% em receita e lucro que estamos tendo nos últimos meses”, afirma Lucas Lima, vice-presidente de operações da startup.

A história do negócio

A Wildlife foi fundada em 2011 pelos irmãos paulistanos Victor e Arthur Lazarte, que tinham cerca de 25 anos de idade na época. Quando se formaram na escola politécnica da Universidade de São Paulo, eles foram trabalhar, respectivamente, em um banco de investimento e em uma consultoria. Mas, pouco tempo depois, deixaram os empregos e voltaram para a casa dos pais decididos a abrir uma empresa de jogos para celular. Na época, eles não sabiam sequer programar jogos — aprenderam com vídeos online.

Nos primeiros meses, quando tinham dúvidas sobre programação, consultavam o amigo chileno Michael Mac-Vicar, que estudou com Arthur na França. O engenheiro, que trabalhava nos Estados Unidos na época, rapidamente passou de conselheiro informal a cofundador do negócio. Hoje, ele comanda a equipe de tecnologia da Wildlife, que se divide entre os escritórios da companhia no Brasil, na Argentina e nos Estados Unidos.

Juntos, eles colocaram a Wildlife — que até 2019 se chamava TFG, sigla para Top Free Games — entre as dez maiores empresas de games móveis do mundo. O último jogo lançado pela companhia, Tennis Clash, foi o mais baixado em mais de 100 países na semana do lançamento. Alguns dos maiores sucessos do portfólio incluem ainda o Sniper 3D, de 2014 — que, até o lançamento do game Fortnite, em 2017, foi o jogo de tiros mais baixado do mundo. 

A estratégia por trás do sucesso

Aos longo de seus nove anos, a Wildlife virou uma empresa global que emprega mais de 700 pessoas, com escritórios em quatro países. Foram as decisões tomadas pelos sócios em 2011 que moldaram a trajetória da startup até hoje. A empresa teve o mérito de entrar no início da ascensão dos smartphones e cresceu com o mercado de games móveis. Hoje os jogos para smartphones e tablets faturam quase 77 bilhões de dólares ao ano (ou 48% do mercado de games, ante 18% em 2012), segundo a consultoria especializada em games Newzoo.

No começo da indústria de jogos para dispositivos móveis, enquanto concorrentes apostaram na cobrança pelo jogo na hora do download, a Wildlife decidiu oferecer os games de graça e depois vender melhorias e itens exclusivos dentro do aplicativo — modelo conhecido como freemium.

Além disso, desde o seu primeiro sucesso, Racing Penguins, a empresa investe tanto na criação quanto no marketing para distribuir os jogos. 

A estratégia é tão eficiente que um jogo antigo, como o Sniper 3D, de 2014, consegue atrair ainda 30 milhões de usuários por mês. O título, que é o grande sucesso da companhia, foi o ponto de virada do negócio. “Não havia mais espaço para amadorismo naquela época. Percebemos que, se não nos tornássemos grandes, iríamos sumir”, diz Mac-Vicar.

Ao longo dos anos, essa ambição do trio fundador atraiu um ecossistema poderoso de apoiadores, com nomes como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, da 3G Capital; Jeff Weiner, presidente do Linkedin; e Carlos Saldanha, diretor de filmes como A Era do Gelo e Rio. As grandes mentes, e os grandes bolsos, do mundo entraram de vez na onda dos games. 

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