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Sem PowerPoint: a estratégia da Wildlife para reuniões na pandemia

O estúdio paulistano de games Wildlife, avaliado em mais de 1 bilhão de dólares, acelerou a expansão durante a pandemia de coronavírus

Arthur e Victor Lazarte, os fundadores da Wildlife: a pandemia é teste para o trabalho do futuro  (Germano Lüders/Exame)

Arthur e Victor Lazarte, os fundadores da Wildlife: a pandemia é teste para o trabalho do futuro (Germano Lüders/Exame)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 7 de maio de 2020 às 05h00.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 13h14.

A crise provocada pela pandemia do coronavírus, como se sabe, tem causado estragos nos negócios de milhões de empresas mundo afora. Alguns setores, porém, estão se beneficiando. As ações de varejistas online, como a americana Amazon e a brasileira B2W, subiram desde o início da pandemia. Com as pessoas confinadas em casa (ou quase isso), outro setor que recebeu um grande impulso é o de games.

De acordo com o instituto de pesquisa SuperData, da Nielsen, os gastos com games digitais chegaram a 10 bilhões de dólares em março, um recorde histórico. O mercado mundial de games fatura mais de 150 bilhões de dólares ao ano. Uma startup criada no Brasil, o estúdio de games Wildlife, tem atingido números recorde na pandemia. Com dez anos de história, a empresa foi fundada pelos irmãos paulistanos Victor e Arthur Lazarte quando tinham cerca de 25 anos de idade.

A quantidade de downloads diários avançou de 40% a 50% com a pandemia, e o custo de aquisição de clientes caiu, já que as pessoas estão mais dispostas a buscar novidades para passar o tempo. Um de seus principais jogos, o Sniper 3D, passou de 500.000 para 1 milhão de down­loads por dia nas últimas semanas. Assim como suas principais concorrentes, a Wildlife adota o modelo de negócios conhecido como freemium — o jogo é gratuito, porém o usuário paga para ir avançando.

No primeiro trimestre, a companhia, que tem escritórios em São Paulo, Argentina, Irlanda e Estados Unidos, contratou 140 novos funcionários para a equipe, que agora tem mais de 600 pessoas. Um terço dos novos contratos foi feito à distância, já que a equipe está trabalhando remotamente desde o dia 13 de março. A meta é fazer mais 300 contratações até o fim de 2020. O desenvolvimento de novas fases para os jogos também foi intensificado. Para dar conta de tanta demanda durante a pandemia, a empresa se valeu de recursos de gestão pensados antes da emergência de saúde, mas que se mostraram valiosos neste momento de isolamento.

Para começar, inspirada na Amazon, a Wildlife aboliu apresentações feitas em ­PowerPoint em suas reuniões. Os temas tratados devem ser escritos em até cinco páginas, com contexto, opções avaliadas e recomendações de decisões. Antes da reunião, os participantes leem o documento e depois deliberam durante 15 ou 20 minutos. Depois, o documento é divulgado aos demais funcionários e serve de memória do que vem sendo tratado — uma forma de manter todos informados, mesmo à distância e em diferentes fusos.

A segunda medida é ter clareza sobre a estratégia do negócio. A empresa criou um documento, também por escrito, de dez páginas com os objetivos para os próximos três anos, incluindo as metas de cada departamento. Outro ponto que se mostrou fundamental é uma comunicação interna clara, e presente. A empresa fornece diariamente dicas de como trabalhar à distância e com filhos por perto, além de ministrar aulas de ioga todas as manhãs e de ginástica no início da noite.

Passada a pandemia, as mudanças ficarão? Nos primeiros dias de home office, a produtividade tende a crescer porque é possível resolver com mais agilidade o que estava pendente. Mas, com o passar do tempo, fica claro o tamanho do desafio que é criar e resolver problemas à distância. Numa indústria essencialmente criativa como a de games, e num ritmo de expansão como o da Wildlife, de 80% ao ano, a proximidade física continuará fundamental quando a pandemia de covid-19 passar.

“A empresa nasceu e cresceu com testes A/B para analisar a viabilidade dos novos produtos. Estamos encarando isso como um grande teste para nosso modo de trabalhar no futuro”, afirma Victor Lazarte, um dos fundadores da companhia. Um ponto da cultura que não deve mudar é a preocupação com a rentabilidade. A Wildlife nasceu rentável, em 2011, e sempre deu lucro. Agora que as startups devem ser cobradas por seus resultados de forma mais intensa, como mostra a reportagem na página 40, o unicórnio brasileiro precisa apenas manter o percurso — com ou sem pandemia.

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