Indicadores financeiros: como acompanhar a saúde do seu negócio (Foto/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 17 de junho de 2021 às 12h27.
Última atualização em 18 de junho de 2021 às 08h14.
Por Paula Bazzo, planejadora financeira
Gosto de falar de indicadores financeiros para pequenas empresas comparando-os com as luzes do painel de carro. Se você está na estrada e a luz do combustível acende, você já sabe que terá que parar o carro para abastecer em breve. Se for a luz do motor, ou da injeção eletrônica, talvez se preocupe um pouco mais e avalie chamar um especialista. Independente da ocorrência, de menor ou maior gravidade, aquelas luzes são uma referência confiável para seguir a viagem com tranquilidade e, no caso de algum imprevisto, ser alertado antes que o problema se torne difícil de contornar.
O que os empreendedores de sucesso têm em comum? Inovação será a chave de 2021. Fique por dentro em nosso curso exclusivo
Semelhante ao painel de carro, os indicadores financeiros têm a função de dar uma informação rápida e confiável sobre a situação da empresa, proporcionar decisões seguras e corrigir rotas de gestão e estratégia quando necessário. Contudo, só podemos falar de indicadores, se os registros estão corretos e atualizados, especialmente controles de entradas e saídas de dinheiro, contas a pagar e receber documentados, registro de pedidos e situação de estoque.
Certa vez a Rosana, da região Nordeste do país, procurou-me pedindo ajuda para entender melhor como ler as finanças da sua empresa. Ela trabalhava com fabricação e venda de perucas e estava indignada que seus produtos estavam entre os mais caros do país e mesmo assim ela se via com pouco dinheiro no final do mês. Não tinha clareza de quantas vendas precisava fazer, nem qual o mínimo que deveria vender para não ter prejuízo. Historicamente, ela acompanhava o faturamento, mas compreendeu que apenas isso já não era suficiente para tomar decisões.
O primeiro passo foi organizar a forma de registro das contas a pagar, pagas, a receber e recebidas: o famoso fluxo de caixa, que já apareceu nesta coluna semanal. Criamos um padrão de registro (plano de contas) e uma disciplina de trabalho para que nada ficasse de fora. Com os dados bem documentados, escolhemos 4 indicadores para começar a acompanhar.
Rosana escolheu acompanhar a margem de contribuição, porque queria entender o quanto cada venda que realizava ajudava a pagar as despesas e custos fixos do negócio. Para chegar neste indicador usamos a seguinte fórmula:
MC = Valor da venda - (Custos variáveis + Despesas Variáveis).
Em outras palavras, ela descontava os gastos que tinha para produzir do que vendia e a margem que sobrava seria a contribuição daquela venda para pagar a estrutura fixa do negócio e ainda gerar lucro.
Tendo a margem de contribuição em mãos, ficou muito mais simples para Rosana calcular qual o mínimo que ela deveria vender para cobrir gastos fixos e variáveis sem ficar no prejuízo, o chamado ponto de equilíbrio. Ela passou a entender que a partir deste ponto, em que as entradas e saídas estão “empatadas”, ela começaria a ter lucro. Isso trouxe muita clareza para definir metas e monitoramento de vendas mensais. Para chegar neste número, ela dividiu os gastos fixos pela margem de contribuição.
Outro indicador muito significativo que escolheu acompanhar foi a porcentagem do que sobra para a empresa depois de pagar todas os custos e despesas, inclusive imposto, em relação ao faturamento total. Isto é, qual o percentual do que foi vendido sobrou no caixa depois de honrar todos os compromissos e o quanto isso representava proporcionalmente às vendas totais. Rosana obteve esse indicador dividindo o lucro líquido pelo faturamento. Confirmou o que já sabia: sua lucratividade estava muito baixa. Mas tendo um número como referência, tratou de criar estratégias para chegar no valor saudável para seu perfil de empresa.
Para ter mais uma ferramenta de apoio às vendas e construir tática de aumento de lucratividade, passou a acompanhar a média de gasto dos clientes por venda. A conta não é difícil de fazer: basta dividir o faturamento total pelo número de pedidos e ali estará o resultado de quanto, em média, cada cliente consume do seu produto. Naturalmente, que de nada adianta acompanhar isso em um único mês. É bastante significativo ver como este valor médio varia ao longo do tempo para entender aspectos de sazonalidade, comportamento do cliente com o negócio e também traçar estratégias de aumentar o consumo médio por cliente, de forma a impactar num aumento de lucros, já que é mais barato vender para clientes da base do que prospectar novos.
Esses quatro indicadores podem parecer simples mas, juntamente com o fluxo de caixa organizado, a empreendedora da nossa história passou a se sentir muito mais segura com suas decisões financeiras, sabendo como e porque escolhia. Além disso, assumiu a condução da sua empresa, em vez de ser conduzida por ela, priorizando o seu tempo para as partes do negócio que trazem mais resultados e curtindo a “estrada”. Por fim, viu resultados e dinheiro no bolso, não dependendo de malabarismos para as contas fecharem e colhendo os frutos concretos do seu trabalho. Quais desses indicadores você já implementa ou poderia implementar?
Tem dúvidas sobre como administrar a sua pequena empresa? Assine a EXAME e tenha acesso a conteúdos semanais sobre o assunto