Para startup do Vale do Silício, futuro do leite está na ervilha
Desde 2016, a Ripple vendeu 2,5 milhões de garrafas de produtos e gerou US$ 20 milhões em receitas, utilizando leite feito de simples ervilhas amarelas
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2017 às 20h37.
Última atualização em 12 de setembro de 2017 às 21h02.
Nova York - Nos últimos anos, fontes alternativas de leite começaram a perturbar a indústria leiteira, como a soja, as amêndoas e o arroz. O novo item que disputará espaço na sua geladeira é o leite feito a partir de ervilhas amarelas.
Em 2015, a venda de leite de vaca caiu 7 por cento (US$ 17,8 bilhões) e a projeção é que recuará mais 11 por cento até 2020, segundo a agência de inteligência de mercado Mintel. Ao mesmo tempo, segundo publicado pela Bloomberg, as vendas de leite de amêndoas cresceram 250 por cento entre 2011 e 2015.
Mas existem barreiras à adoção ampla: o leite de soja pode ter um sabor calcário e é notório que os grãos de soja são geneticamente modificados. O leite de amêndoa, por sua vez, apesar da reputação de ser rico em proteínas, tem apenas um oitavo da proteína do leite de vaca e sua produção exige grandes quantidades de água. O leite de arroz tem um sabor bastante agradável, mas também é pobre em proteínas.
Nesse contexto surge a Ripple, uma nova linha de produtos lácteos que recebeu financiamento de US$ 44 milhões do Google e de capitalistas de risco do Vale do Silício. Desde que foi criada, em abril de 2016, a empresa vendeu 2,5 milhões de garrafas de produtos e gerou US$ 20 milhões em receitas, utilizando leite feito de simples ervilhas amarelas. O cultivo do vegetal é barato e o sabor produzido também é surpreendentemente puro.
A dupla por trás desse leite vegetal é uma equipe formidável. Adam Lowry é cofundador da linha de limpeza ecológica Method, que gerava mais de US$ 100 milhões em receitas quando ele a vendeu à Ecover, uma empresa belga, em 2012. Neil Renninger ajudou a erguer a Amyris Biotechnologies, que usa tecnologia para criar combustíveis renováveis, criada com uma doação da Fundação Gates; ele também foi empreendedor residente da firma de capital de risco Khosla Ventures, de Menlo Park.
Usando a tecnologia de Renninger, eles iniciaram experimentos para extrair proteína de diferentes plantas que tivessem quantidade notável de biomolécula. “Pode mencionar qualquer uma, nós testamos”, diz Renninger. A maioria tinha um sabor horrível.
E então a dupla experimentou as ervilhas amarelas, de cultivo barato, que não geram um produto de sabor forte. O resultado foi uma bebida com um quê de leite em pó concentrado e uma textura suave e cremosa.
Além disso, o produto da Ripple oferece a mesma quantidade de proteínas que o leite de vaca (8 gramas por porção, comparável à do leite de soja, mas muito superior à do leite de amêndoa). Mas o que realmente diferencia a Ripple de outras alternativas ao leite é sua pegada ecológica.
Segundo pesquisa deles, cada garrafa de 48 onças, ou 1,41 litro, de Ripple (com envoltório feito de material 100 por cento reciclável após o consumo) representa uma economia de 1,58 quilo de emissões de dióxido de carbono e 3.500 litros de água em comparação com o leite de vaca. Os 2,5 milhões de garrafas vendidas pela Ripple somam cerca de 3,1 mil toneladas de emissões de CO2 a menos -- o equivalente a tirar mais de 600 carros das ruas por um ano. E para conseguir a mesma quantidade de proteínas com o leite de amêndoa seriam necessários 249 bilhões de litros de água adicionais.
Embora o maior desafio seja convencer as pessoas a experimentar o produto, o custo atual do leite de ervilhas amarelas também pode ser elevado demais para os consumidores mais cautelosos em relação ao preço (vendida a US$ 5,99, a porção de 950 mililitros é cerca de um dólar mais cara que o leite de soja e cerca de 30 por cento mais cara que o leite de vaca orgânico). Mas Renninger mira o futuro. “Dentro de alguns anos, poderemos fazer leite líquido por um custo inferior ao do leite”, disse.