Os mimos das startups fazem mesmo os funcionários serem mais produtivos?
De pets até comida de graça: negócios veem métricas de engajamento e aprovação aumentarem com ações de baixo custo
Mariana Fonseca
Publicado em 10 de agosto de 2018 às 06h00.
Última atualização em 10 de agosto de 2018 às 06h00.
São Paulo - Bermudas e chinelos, partidas de sinuca, pufes, happy hours e muito trabalho pela frente. Esse quadro tanto se tornou um clichê dos escritórios das startups que muitas empresas e funcionários mais tradicionais se perguntam: esses benefícios extras de fato ajudam os funcionários a se sentirem mais felizes, apesar do ritmo frenético, e a entregarem melhores resultados ?
Para três startups ouvidas por EXAME, os números dizem sim. Pequenas atitudes, com pequenos investimentos, podem fazer uma grande diferença na avaliação que os empregados possuem da empresa. Quem está mais satisfeito se propõe mais a bater as metas - e o negócio colhe os lucros dessa estratégia.
“Usar terno e gravata, em um ambiente cinza, não irá fazer ele produzir mais. São atitudes que muitas empresas não praticam e fazem uma grande diferença na produtividade e inclusive no orçamento. Sai muito mais barato do que fazer uma viagem de final de ano em um resort e o pessoal valoriza mais", afirma Eduardo L'Hotellier, CEO do marketplace de serviços Get Ninjas.
O escritório virou casa
Com mais de mil funcionários, o Nubank não possui mais as proporções de uma startup - mas espera que sua equipe seja tão eficiente quanto no início do negócio de cartões de crédito sem anuidade e 100% online.
A falta de dress code e a possibilidade de levar seu bichinho de estimação ao trabalho existem desde que o Nubank ocupava um sobrado, em 2013. “As pessoas não precisam se vestir do jeito que a empresa quer e nem precisam passar o dia preocupadas com seu cachorro. Elas se sentem mais à vontade para trabalhar, o que traz mais foco, além de os pets serem uma boa forma de começar relacionamentos”, afirma Lilian Kazama, responsável pela área de benefícios do Nubank. Com a expansão, o Nubank foi adicionando outros benefícios, como uma quadra para esportes.
Usar as roupas que quiser também é comum no GetNinjas, um dos pioneiros da geração atual de startups brasileiras. Criado em 2011, seus 100 funcionários também podem descansar em pufes, jogar em mesas de sinuca e usar a churrasqueira da empresa para happy hours após o expediente. Benefícios mais recentes focam na saúde dos empregados, como descontos em academias e cafés patrocinados com frutas, pão de queijo e pipoca. “Queremos ter um escritório informal, parecido com a casa do funcionário”, afirma L’Hotellier.
Já a startup de cashback Méliuz começou a investir mais nos benefícios (e na produtividade) dos seus 150 funcionários em outubro do ano passado, com a criação de uma equipe especializada em bem-estar e a inspiração em empresas como o Google. A palavra de ordem se tornou “descontração”: assim como no Nubank, os funcionários não possuem dress code, fazem horários flexíveis e podem ouvir música durante o expediente.
“As pessoas passam boa parte do tempo no trabalho e contam as horas para poder saírem e se divertir. Quisemos inverter essa lógica”, afirma Renata Martins, coordenadora de bem-estar do Méliuz.
Nem tudo são flores
Alguns dos benefícios foram criados para lidar com o descontentamento dos funcionários em relação às startups - muitas vezes, por conta da alta carga horária e das várias tarefas que um negócio inovador pede aos seus poucos empregados.
A equipe de bem-estar do Méliuz, por exemplo, identificou que as pessoas ficavam muito tempo no computador e não praticavam uma alimentação saudável. Por isso, contratou um serviço de massagistas e colocou frutas frescas e picadas na copa de cada andar da startup, adotando uma política de comida grátis similar à do GetNinjas.
Enquanto isso, o marketplace de serviços ouviu críticas quanto ao ambiente aberto de trabalho - que é ótimo para integrar, mas péssimo para focar em tarefas. Uma crítica, diga-se de passagem, que já é mundial. Por isso, o GetNinjas mudou seu teto para um que reduz ruídos e está criando salas específicas para concentração.
Resultados quantificáveis
As startups sobrevivem por meio de uma operação enxuta - então, é lógico que todos esses benefícios devem ser justificados. Nubank, GetNinjas e Méliuz possuem métodos quantificáveis para medir o impacto das políticas de bem-estar na satisfação dos funcionários com as empresas.
O Nubank afirma que sua taxa de engajamento dos funcionários está em 87%, enquanto a média do mercado é de 70 a 75%. O índice é medido por meio de perguntas como “você entende o que a empresa espera de você?”, “você tem liberdade de ser o melhor de você mesmo?” e “como você entende os valores da empresa?”.
Para Kazama, a métrica é importante porque empregados mais engajados entendem que possuem voz e dão opiniões que podem impactar diretamente na maneira como o Nubank opera - e, portanto, em seus resultados.
A empresa de serviços financeiros possui taxas de engajamento acima de 80% desde 2015 e espera superar os 90% em breve. Para isso, formou uma equipe focada em experiência dos funcionários e cogita adotar benefícios flexíveis, de acordo com as necessidades de cada empregado. Uma startup focada nesse tipo de serviço é a Allya, eleita o empreendimento mais atraente para as empresas no ranking 100 Open Startups deste ano.
O GetNinjas realizou pela segunda vez pesquisas oficiais com seus empregados. O ambiente de trabalho foi percebido como positivo por 81% da equipe, enquanto as ações internas tiveram a aprovação de 83%. Para L’Hotellier, as respostas se refletem principalmente na retenção de talentos.
Por fim, o Méliuz faz trimestralmente uma pergunta aos funcionários: “de zero a dez, quanto você indicaria o escritório para outras pessoas como um espaço ideal para se trabalhar?”. A satisfação da equipe aumentou 34% no segundo trimestre em relação ao período anterior. “A produção melhor foi um reflexo disso”, afirma Martins.