Oportunidade na crise: startups de eventos online deslancham na pandemia
As empresas brasileiras Congresse.me e InEvent cresceram durante a quarentena, conquistando investimentos e clientes internacionais
Carolina Ingizza
Publicado em 31 de agosto de 2020 às 14h45.
Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 14h52.
O setor de eventos foi imediatamente atingido pela pandemia do novo coronavírus . Em março, a recomendação das autoridades de se evitar aglomerações impediu a realização de shows, palestras e feiras de negócios agendadas. Segundo pesquisa do Sebrae, 98% do setor estava parado já em abril. Neste cenário difícil, algumas startups com soluções inovadoras conseguiram se dar bem.
Uma delas foi a Congresse.me, criada em dezembro de 2018 pelos sócios Luiz Gustavo Borges, Guilherme Torrejon, Dérick Pimenta e Maráia Rodrigues. A empresa desenvolveu uma ferramenta para a criação de congressos 100% online. Sua plataforma permite que os organizadores façam desde o lançamento do evento, com fotos dos palestrantes e programação, até as palestras em vídeo e a emissão de certificados.
A grande maioria dos eventos realizados pela startup é gratuita. A estratégia da empresa consiste em atrair o maior número possível de participantes e depois vender certificados e outros cursos para eles. Nesse modelo, as associações e empresas que organizam os congressos não precisam pagar nada para usar a plataforma, mas têm de dividir os lucros gerados pelo evento com a Congresse.me. Para eventos menores, o cliente pode pagar um valor fixo para utilizar a ferramenta.
O modelo de negócios da startup se provou vencedor durante a pandemia. O faturamento mensal, que era de 80.000 reais em março, saltou para 700.000 reais em junho. O sucesso deu confiança para que os fundos Gávea Angels e Investidores.vc aportassem 1,1 milhão de reais na empresa no mês passado.
Com o recurso, a startup está ampliando seu time, que era de seis pessoas antes da pandemia, com mais de 15 novas vagas. O reforço de pessoal tem como objetivo ampliar a capacidade da empresa de realizar de eventos — a meta da companhia é fazer 220 congressos neste ano, quase nove vezes mais do que os 25 feitos em 2019. “Queremos entrar em 2021 como um player forte, com infraestrutura para cursos online e streaming de jogos de futebol. Já iniciamos conversas nesse sentido com alguns clubes”, diz o presidente Luiz Gustavo Borges.
Plataforma global
Outra startup brasileira que decolou com a pandemia foi a InEvent. Diferentemente da Congresse.me, a empresa não nasceu fazendo eventos online. A startup foi criada há sete anos pelos engenheiros Mauricio Giordano, Vinicius Figueredo Neris e Pedro Góes, para ajudar grandes empresas a organizar eventos presenciais com um software de gestão. Entre seus clientes, estão companhias como Santander, Coca-Cola, Embraer e Amazon.
O negócio nasceu nos corredores do campus de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP). De lá, os três sócios começaram a conquistar clientes de todo o estado, se mudaram para a capital e passaram a atender o Brasil todo. O negócio foi se expandindo gradualmente até que, em 2018, a empresa decidiu mirar o mercado internacional, abrindo dois escritórios nos Estados Unidos, um em Nova York e o outro em Atlanta. Em 2019, a empresa foi selecionada para o programa de aceleração da Y Combinator, uma das mais disputadas aceleradoras dos Estados Unidos.
O sucesso que parecia estar em uma crescente inabalável foi interrompido pela pandemia. Quando os primeiros países decretaram quarentena para evitar a propagação da covid-19, a InEvent perdeu 98% de seu faturamento. A solução encontrada pela empresa para sobreviver durante a crise foi lançar um software para eventos virtuais. “Estávamos desenvolvendo um produto para esse fim. Com a crise, antecipamos o lançamento”, diz Pedro Góes, fundador e presidente da startup.
Hoje, o produto já é usado por empresas de 184 países, sendo os principais mercados da startup hoje os Estados Unidos, o Canadá e a Europa. Diferentemente de uma conferência por Zoom ou Google Meet, o produto da InEvent permite replicar a lógica de um evento presencial, com palestras simultâneas e salas privativas onde as pessoas podem socializar e fazer negócios.
Para usar o software, as empresas clientes precisam pagar uma assinatura anual, precificada com base no número de participantes de cada um dos eventos realizados por ano. Caso o contrato ultrapasse o número previamente estipulado, as empresas podem comprar mais licenças. O custo inicial é de 1.800 dólares, mas pode chegar a centenas de milhares de dólares a depender do tamanho e da frequência dos eventos.
Com a nova plataforma, a startup passou a crescer de três a quatro vezes por mês em relação ao período pré-pandemia. “Nunca vimos um crescimento do tipo nos nossos sete anos de história”, diz Góes. Para dar conta da demanda, a empresa dobrou o tamanho de sua equipe, chegando a 50 funcionários, e planeja seguir contratando até o final do ano. Com clientes em diferentes fusos horários, é preciso ter equipes de atendimento funcionando 24 horas por dia.
A empresa acredita que a nova realidade de eventos online não irá desaparecer com o fim da pandemia. “Mesmo quando voltarem os eventos presenciais, os organizadores vão querer oferecer estrutura para transmissão ao vivo, o futuro será híbrido”, diz o cofundador Vinicius Neris. Por isso, os sócios trabalham para manter a startup como uma das principais soluções globais de gestão de eventos — sejam eles físicos, online ou híbridos.