Cristina Junqueira: "[Trazer as melhores pessoas] é crítico para o nosso crescimento” (Denise Maher e Felipe Tazzo/Endeavor/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 27 de outubro de 2017 às 16h57.
Última atualização em 27 de outubro de 2017 às 18h51.
São Paulo – O Nubank começou há cerca de quatro anos apenas. Mas, se você tirasse uma fotografia da startup a cada seis meses, veria que cada uma delas mostra uma empresa muito diferente.
A análise é da própria co-fundadora e vice-presidente de branding e desenvolvimento de negócios do Nubank, Cristina Junqueira.
Não é para menos: nesse meio-tempo, 13 milhões de pessoas pediram pelo cartão de crédito “roxinho”. Com 2,5 milhões de clientes na carteira, a startup recentemente anunciou a criação da NuConta, uma espécie de conta-corrente digital.
Junqueira falou com empreendedores durante o Scale-Up Summit 2017, evento organizado pela Endeavor que ocorre hoje, em São Paulo.
Ao lado de Anderson Thees, sócio-administrativo da Redpoint eventures, e Eric Santos, fundador da empresa de marketing Resultados Digitais, a empreendedora falou um pouco sobre como manter a cultura empresarial e qual o principal desafio do Nubank hoje: contratar os melhores talentos.
“No setor em que eu estou, muita coisa é difícil. Mas, como empreendedores, nosso grande desafio é continuar crescendo o time, para suportar esse hyper growth que temos agora, mas mantendo o mesmo nível de qualidade que nos propomos a ter lá no começo. Isso é o que tira o meu sono”, afirma Junqueira.
Ela conta que há atualmente mais de 30 vagas de emprego no Nubank, todas difíceis de serem preenchidas por conta do nível de qualidade exigido. Há várias posições-chaves que estão em processo de seleção há meses, sem sucesso.
“A gente recebe centenas, senão milhares de currículos todas as semanas. É uma questão realmente de trazer as melhores pessoas, o que é difícil para caramba quando você tem 600 ou 700 funcionários. Isso é crítico para o nosso crescimento.”
Junqueira aconselha que empreendedores não caiam no erro de, por conta do cansaço após inúmeras entrevistas, dar a chance para candidatos apenas razoáveis, que não se apaixonaram pela empresa (e nem ela por eles). Quando isso ocorreu no Nubank, tais funcionários saíram poucos meses depois e recursos investidos em treinamento foram perdidos.
Então, como contratar os melhores, na prática? Junqueira deu como exemplo o time de atendimento do Nubank: apelidados de "heróis", tais 300 a 400 funcionários são o maior investimento em marketing que a empresa realiza. Isso porque eles são os responsáveis por falar com os clientes todos os dias.
“A gente precisou reinventar a maneira de atrair, contratar e selecionar essas pessoas. Foi muito bom para a gente colocar olhos novos sobre crenças antigas”, conta. “Peguei uma pessoa do meu time com um background totalmente diferente, um consultor formado em engenharia, e pedimos para ele resolver esse problema do processo seletivo. E a solução dele está lá até hoje.”
Uma das etapas do processo seletivo é pedir para o candidato tirar uma selfie – isso ajuda a entender mais sobre quem é o potencial funcionário, segundo a empreendedora. “Fomos criando etapas diferentes, que ninguém nunca tinha testado, mas nos ajudou demais a conferir se a pessoa tinha um fit cultural conosco ou não. Ninguém aguenta mais o processo seletivo tradicional.”
Porém, não adianta investir muito em atrair funcionários descolados se a sua empresa é uma startup apenas na fachada.
“Ter pebolim, mesa de sinuca e cachorro é muito legal. Mas vocês já experimentaram ter autonomia? No fim, é isso: as pessoas vêm trabalhar conosco porque sabem que farão a diferença. Mesmo com 600 pessoas, com o nível de autonomia que damos ela sabe que poderá tocar um assunto e vê-lo até o fim, fazer acontecer. Seja na tração, na seleção ou na retenção, temos coisas diferentes que garantem que, na guerra de talentos, nós saiamos na frente.”
Junqueira também falou sobre a receita para ter uma cultura forte na sua empresa. De acordo com a empreendedora, o segredo é se preocupar com a transmissão de missões e valores desde o primeiro dia de empreendimento.
“Tem muita startup que começa e, só dois anos depois, para e pensa: ‘a gente deveria fazer esse negócio de cultura, é importante, não é?’. Infelizmente, você já tem uma cultura – só não sabe como ela é”, afirma. “A gente se preocupou desde cedo em como seria nossa cultura, para mantê-la ao longo do tempo.”
Para a empreendedora, não é porque a empresa muda e ataca desafios diferentes e maiores que a essência dela deve mudar.
“Temos um espaço lá no Nubank que chamamos de Day One: é um lembrete na nossa memória de que estamos apenas começando. Isso é algo que queremos manter, porque é essa mentalidade de startup que nos torna ágeis e que nos faz desafiar a crença convencional.”