O brechó de luxo de R$ 117 mi que atraiu Iguatemi pelo consumo consciente
Recém-adquirida pela Iguatemi S.A por R$ 27 milhões, a startup Etiqueta Única foi uma da pioneiras na venda online de artigos de luxo de segunda mão
Maria Clara Dias
Publicado em 16 de março de 2022 às 18h36.
Última atualização em 17 de março de 2022 às 11h10.
O mercado de luxo de segunda mão caminha a passos largos. Um exemplo recente está na compra da startup Gringa pela Enjoei. Agora, com uma estratégia similar e de olho na economia circular, o Iguatemi S.A acertou a compra da Etiqueta Única, brechó online de luxo, em uma transação de 27 milhões de reais. Com o investimento do grupo em 23% das ações primárias e secundárias, a empresa passa a valer 117 milhões de reais.
Fundada em 2013 por Nelson e Patricia Barros, a Etiqueta Única é uma plataforma online que vende itens de luxo usados. Hoje a empresa conta com mais de 600 labels nacionais e internacionais e mais de 65.000 produtos autenticados de marcas como Chanel e Gucci.
A compra celebra um relacionamento entre as empresas que já foi estabelecido há pelo menos um ano. Desde 2021, clientes que adquiriram produtos pelo e-commerce da Etiqueta Única recebiam cashbacks para compras no Iguatemi 365, marketplace do Iguatemi. Agora, a sinergia entre as duas empresas deve causar um “encerramento do ciclo de consumo”, nas palavras do fundador da startup, Nelson Barros.
Na prática, isso traduz o desejo crescente de empresas em manter um consumidor retido em todas as etapas de compra, com um olhar especial para a circularidade dos produtos, ou seja, na capacidade de reutilizar um item comprado em lojas físicas ou em sites.
Trata-se de um mercado ainda inexplorado pelo Iguatemi, apesar da tradição lidando com marcas luxuosas. O segmento já virou alvo, inclusive, de empresas de menor porte. Nesta semana, por exemplo, o brechó TROC anunciou que irá ampliar as vendas de produtos de luxo — a empresa fatura 10 milhões de reais por ano.
Há alguns racionais por trás da ascensão desse mercado. De um lado, a demanda por produtos de marca, mas que por se tratarem de itens de segunda mão, são mais baratos. De outro, há o interesse pelo ESG (sigla para ambiental, social e governança), um imperativo entre as empresas da atualidade. Com a compra da Etiqueta Única, o Iguatemi amplia o olhar sustentável e faz adesão a esse movimento.
Do ponto de vista da da circularidade, a Etiqueta Única cumpre bem o papel do “ciclo de consumo". A empresa se responsabiliza por todas as etapas envolvendo os produtos anunciados no site, da coleta a precificação, entrega e venda.
A inovação da empresa, segundo o presidente, está também no investimento tecnológico. Com raízes digitais, a startup nunca saiu do online e, há quatro meses, lançou seu primeiro aplicativo — hoje responsável por 35% das vendas.
Agora, a startup vai aproveitar a força de vendas físicas do Iguatemi. A startup planeja inaugurar uma série de guide shops, espaços dentro de shoppings da rede, onde clientes podem deixar produtos para serem vendidos, avaliar produtos anunciados online e também comprar itens para serem entregues em casa.
O investimento também ajudarão a trazer novos incrementos no e-commerce e no aplicativo. “A proposta é que as pessoas possam vender com o mínimo esforço possível”, diz. “Estamos animados com todas as melhorias que estão por vir”.
Um exemplo está na criação de um recurso que permite a verificação da autenticidade de um produto fotografado da casa do cliente, com a ajuda de inteligência artificial. A startup também vai passar a atender empreendedores, com um modelo white label que permite a venda de produtos para terceiros, incluindo itens fora da categoria de moda.
Juntos, esses investimentos também devem ajudar nas receitas da startup. Segundo o fundador, a empresa cresce em média 40% ao ano, e deve chegar a 70 milhões de reais de faturamento nos próximos três anos, prazo em que o Iguatemi pode assumir o controle total da operação.