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Esta pequena empresa está colocando brinquedos sexuais no Walmart

Jamie Leventhal e o Walmart sabiam que a Amazon e outras lojas estavam tendo sucesso com a venda de produtos para adultos e que era possível ganhar dinheiro

O escritório da Clio, de brinquedos sexuais: empresa de Jamie Leventhal criou uma linha que está sendo estocada e vendida pelo Walmart (Tony Luong/The New York Times)

Mariana Fonseca

Publicado em 11 de agosto de 2019 às 08h00.

Última atualização em 11 de agosto de 2019 às 08h00.

NEWTON, Massachusetts – No ano passado, Jamie Leventhal, diretor-executivo da Clio, uma pequena empresa fabricante de dispositivos como cortadores pessoais de cabelo, recebeu um telefonema de um comprador que ele conhecia no Walmart .

"O que você acha de brinquedos sexuais ?", foi o que perguntou o comprador, segundo Leventhal.

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Foi uma pergunta um pouco surpreendente, vinda de um varejista conhecido por sua cultura corporativa conservadora. Mas Leventhal sabia que a Amazon e outras lojas estavam tendo sucesso com a venda de produtos para adultos e que era possível ganhar dinheiro. E o Walmart também sabia.

Agora, 45 anos depois que as feministas começaram a vender vibradores por catálogos pelo correio, 20 depois que o bonequinho Rabbit foi elogiado em "Sex and the City" e em um momento no qual marcas como Goop estão adotando "o bem-estar sexual" das mulheres, a empresa de Leventhal criou uma linha de brinquedos sexuais que está sendo estocada e vendida pelo Walmart.

A linha PlusOne da Clio começou a ser oferecida em 4.300 lojas do Walmart e no Walmart.com em outubro. A empresa varejista planeja começar a vender mais quatro produtos PlusOne em agosto.

"Não é uma categoria nova para nós", afirmou o Walmart em um comunicado, lembrando que já vende vibradores feitos pelas empresas de preservativos Trojan, Durex e Lifestyles. Mas a PlusOne significa um passo muito maior para os brinquedos sexuais.

Os produtos são projetados para serem de ponta. São impermeáveis, recarregáveis e feitos com silicone seguro, recursos antes só encontrados em produtos vendidos em sex shops e online. No entanto, os preços estão entre US$ 10 e US$ 35, muito menos do que os "vibradores de designers" de empresas como a Lelo, que podem custar de US$ 75 a US$ 200.

A linha PlusOne também é mais abertamente sexual do que os outros dispositivos nas prateleiras do Walmart. A Clio vai lançar um estimulador clitoriano como parte de sua expansão em agosto, junto com um minimassageador pessoal, lenços de limpeza e um lubrificante.

Embora a Clio tenha desenvolvido os produtos para o Walmart e o varejista seja seu maior cliente, os vibradores da empresa também são vendidos pela Target e pela Amazon. Nos últimos oito meses, a Clio já vendeu mais de um milhão de unidades PlusOne. A empresa tem agora mais de 26% do mercado de massageadores sexuais, segundo a Nielsen.

"Quero me tornar a Kleenex dos brinquedos sexuais, a marca que todos associam a brinquedos sexuais", afirmou Leventhal.

Jamie Leventhal, da Clio (Tony Luong/The New York Times)

A Clio espera chegar às mulheres que nunca compraram um brinquedo sexual antes, especialmente mães com mais de 25 anos, que estão aceitando a ideia de que "o bem-estar sexual" é bom para elas e pode ser empoderador.

"É como levar uma miniloja de brinquedos sexuais para cada pequena cidade dos EUA. É muito revolucionário, de uma forma tranquila", disse Hallie Lieberman, autor de "Buzz", uma história dos brinquedos sexuais.

"Esse parece ser o ponto de inflexão", disse Chad Braverman, executivo da fabricante de brinquedos sexuais Doc Johnson, fundada em 1976, quando os brinquedos sexuais ainda eram um negócio meio clandestino. "É mais um passo em direção à normalidade."

Ao desenvolver a linha, a Clio considerou vários fatores, inclusive preço e estética, mas, sobretudo, contou Leventhal, "como fazer algo que não ofenda os acionistas do Walmart?".

Leventhal, de 46 anos, também precisa descobrir como comercializar um dispositivo que alguns ainda veem com desconfiança. Era proibido vender brinquedos sexuais no Texas até 2008, e ainda é no Alabama. Este ano, na CES, a maior feira de produtos eletrônicos ao consumidor dos Estados Unidos, um prêmio de inovação a um brinquedo sexual foi revogado; uma regra proíbe produtos que sejam "imorais, obscenos, indecentes, profanos" ou que não reflitam bem a imagem da feira.

Mesmo assim, o sexo vende muito bem. O mercado "femtech", que inclui a categoria de bem-estar sexual, pode chegar a US$ 50 bilhões em 2020, de acordo com um relatório feito pela Frost and Sullivan em 2018. O setor de lojas para adultos teve ganhos de US$ 9,5 bilhões em 2018, e os brinquedos sexuais são responsáveis por quase 80% dessa receita, de acordo com um relatório de 2018 da Ibis World.

A Trojan começou a vender vibradores em 2005, que logo chegaram a farmácias como a CVS e a Walgreens. Em 2008, o Walmart começou a vender objetos como anéis vibradores, que são projetados principalmente para os homens.

Leventhal fundou a Clio em 2002. Na época, ele viu uma abertura no mercado para produtos de higiene menos caros. A empresa agora tem cinco departamentos: higiene, cuidados com as unhas, cuidados com a pele, aparelhos cosméticos e dispositivos de bem-estar sexual. Os brinquedos sexuais, em pouco tempo, viraram o principal produto da Clio.

Leventhal admite que é um novato na indústria de brinquedos sexuais. O livro de Lieberman sobre a história desses aparelhos está em seu escritório, mas ele ainda não o leu. "Estou curioso, mas também estou muito ocupado", disse ele.

Ele pratica ioga quente na hora do almoço, quando consegue, e dirige um Toyota 4Runner de 11 anos que responde pelo nome de Whitney, por causa de Whitney Houston. Joga tênis com seus dois filhos pequenos e dedica seu tempo a pensar em produtos inovadores como o protetor labial esférico da EOS e o sabonete líquido em forma de lágrima da Method. E ele não sabe por que vender brinquedos sexuais em um grande varejista seria um problema para alguém.

"Não vejo isso como um tabu", disse Leventhal. Ele reconhece que nem todo mundo se sente da mesma maneira. "Acho que há um grupo de homens que realmente vê o brinquedo sexual como uma ameaça à intimidade em seu casamento", disse ele.

Produção dos brinquedos sexuais da Clio (Tony Luong/The New York Times)

Os concorrentes da Clio estão acompanhando de perto. Alexandra Fine, executiva-chefe da Dame Products, acha que o investimento do Walmart na PlusOne poderia ajudar sua empresa a atrair investidores, o que nem sempre tem sido fácil, disse ela. A Dame Products processou a Metropolitan Transportation Authority de Nova York em junho por se recusar a colocar anúncios da empresa no metrô.

"É um desafio mostrar às pessoas o valor e a importância do prazer sexual feminino. Pode ser frustrante lutar por essa causa e, em seguida, ver como é mais fácil para os homens ter lucros com isso", disse Fine.

Leventhal cresceu em Sharon, Massachusetts, e seu pai e seus tios compravam e vendiam mercadorias para empresas de varejo. Estudou no Instituto de Tecnologia da Flórida e na Universidade Hofstra de Nova York, em Long Island, e foi trabalhar para uma empresa em Chicago que produzia ventiladores.

Leventhal acha que o Walmart o procurou porque sua empresa é pequena e trabalha com rapidez. Há apenas cerca de 20 funcionários, incluindo dois designers de produto.

Os designers da PlusOne, vários deles do sexo feminino, também não conheciam os brinquedos sexuais e se inspiraram em lojas especializadas, itens na Amazon e produtos premium fabricados por empresas como a Lelo, a WeVibe e a Womanizer. Uma das designers disse que também tirou ideias da pornografia, embora Stephanie Trachtenberg, diretora de marketing da Clio, tenha afirmado que a empresa queria se distanciar desse mundo por causa das associações negativas que consumidores podem fazer. "Não somos pervertidos", disse ela. "Isso é bom para você."

Jason Cornaro, de 28 anos, um dos designers da PlusOne, pensou muitas vezes em como fazer os produtos acessíveis e convidativos para um comprador de primeira viagem. Ele queria torná-los atraentes, nada vulgares, mas também imediatamente reconhecíveis e fáceis de usar. "Precisa ter um apelo para todos, ou pelo menos não afastar ninguém", disse Cornaro.

A Clio já está trabalhando em um novo produto que parece uma pena de silicone vibratória. Os funcionários a estão chamando de "cócegas". Foi ideia de Trachtenberg. "É incrível", Leventhal disse, enquanto o produto vibrava. "Vamos lançar no primeiro trimestre de 2020."

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