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Empresa mais inovadora do Brasil mostra que vespas podem substituir agrotóxicos

Bug Agentes Biológicos foi considerada a 33ª empresa mais inovadora do mundo pela Fast Company. Startup vende insetos que combatem pragas em grandes plantações

A cartela da Bug consegue proteger 1 hectare de plantação. São 24 células destacáveis contendo ovos de vespas, colocadas a cada 20 metros de lavoura (Jéssica Mangaba/Veja)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de março de 2012 às 10h00.

Ela não tem os modernos laboratórios da Apple , nem os 800 milhões de ‘clientes’ do Facebook , mas também está na lista das 50 empresas mais inovadoras do mundo, compilada pela revista americana de empreendedorismo Fast Company. Fundada há 11 anos, a empresa brasileira Bug Agentes Biológicos foi considerada mais inovadora do que gigantes conterrâneas como Embraer e Petrobras e serve de exemplo para mostrar que o cenário acadêmico do Brasil pode ser um próspero celeiro de inovação.

Criada dentro dos laboratórios da Esalq — a escola de ciências agrárias e ambientais da Universidade de São Paulo, em Piracicaba —, a Bug disputa uma fatia do bilionário mercado de pesticidas no Brasil. Para tanto, aposta no controle biológico de pragas como uma alternativa segura aos agrotóxicos - e até 40% mais barata. Na ponta do lápis, o prejuízo causado pelas pragas dói no bolso do agricultor. “Se for considerado 1% da plantação infestada, a perda é de 75 reais por hectare no caso da cana-de-açúcar”, diz Heraldo Negri, um dos fundadores da  Bug. O número pode parecer pequeno, mas ganha escala nas grandes plantações. Por exemplo, em uma área de 10.000 hectares, com 10% da cana infestada, o prejuízo seria de 7,5 milhões reais - cerca de 5% do valor do safra. Para evitar o prejuízo, o Brasil gasta cerca de 7 bilhões de dólares por ano com pesticidas - é o maior consumidor do gênero no mundo.

Todos os anos, a revista americana de empreendedorismo Fast Company compila um ranking das 50 empresas mais inovadoras do mundo. A equipe de editores faz uma pesquisa com especialistas da área, analisa a saúde financeira das empresas e verifica cada produto. Em 2012, a Apple foi eleita a empresa mais inovadora do mundo. Apenas duas brasileiras apareceram no ranking mundial: a Bug Agentes Biológicos (33º) e a Boo-box (45º), uma empresa de publicidade para mídias sociais.

Pulo da vespa - A arma da Bug são vespinhas do gênero Trichogramma. Estes insetos, de até um milímetro de tamanho e sem ferrão, são os inimigos naturais de pragas que atacam lavouras de grande importância econômica, como cana e soja. Os bichinhos, encontrados naturalmente no Brasil e em diversas partes do mundo, parasitam os ovos de mariposas e borboletas e impedem que eles deem origem aos maiores inimigos dos agricultores: as lagartas. A Bug conta com cinco “fábricas biológicas”, ou biofábricas, que criam insetos em massa e embalam seus ovos em pequenos papelotes. O agricultor posiciona esses papelotes na lavoura, as vespinhas nascem e passam a atacar as pragas.


O controle de infestação de lavouras por meio de insetos não é novo. A técnica já existe na Europa há 30 anos, mas em pequenas plantações e estufas, não na escala das grandes lavouras brasileiras. Mesmo o potencial da Trichogramma já era conhecido dos cientistas. O assunto corre na literatura científica desde o fim dos anos 80. Em tese, os insetos deste gênero levam vantagem substancial sobre uma vespa de outra espécie já usada no controle da cana, a Cotésia. Isso porque a Trichogramma ataca os ovos, interrompendo o ciclo de vida da praga, enquanto a Cotésia ataca a lagarta. “Como a lagarta nasce dentro do caule da planta, o controle da Cotésia só ocorre depois que a cana foi infestada”, explica Negri.

Faltava tirar a ideia do papel. E este foi o salto da Bug: unir o conhecimento acadêmico a métodos inovadores (e guardados a sete chaves) de produção em massa e liberação do inseto, na forma de um produto capaz de competir com os agrotóxicos.

A Bug Agentes Biológicos não trabalha apenas com vespas. No fim de 2011, a empresa se fundiu com a Promip, do agrônomo Marcelo Poletti, com a ajuda de 500.000 reais de incentivo da Fapesp. Com a fusão, a Bug passou a vender ácaros, inimigos naturais de pragas que atacam plantações de hortifrúti, como morango, alface, pepino e pimentão.

Superação - A Bug nasceu durante o mestrado do agrônomo Diogo Carvalho, hoje seu diretor comercial, na Esalq. Ele criou a empresa em sociedade com o biólogo Negri e o agrônomo Danilo Pedraezoli. “A fase mais difícil foi o tempo que levou entre desenvolver a tecnologia e convencer o produtor”, diz. “Não desistimos porque acreditamos no nosso produto."

Pedraezoli deixou a empresa em 2011, e outros dois sócios entraram no negócio: o agrônomo Roberto Konno, que faz parte da equipe na parte de produção para hortifrúti, e Marcelo Poletti, que fundiu à Bug a empresa que havia fundado em 2005, a Promip. Com a fusão, a Bug passou a atuar também na produção de ácaros, inimigos naturais de pragas que atacam morango, alface, pepino e pimentão, entre outras culturas.

A economia da inovação - "Empresas como a Bug estão se tornando mais comuns", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp. Em entrevista a VEJA.com, ele lembra que as principais universidades já contam com agências de inovação. O que falta, explica, são investidores com experiência em apoiar empresas de altíssima tecnologia - falta o capital de risco. E pesam, claro, os conhecidos entraves ao desenvolvimento brasileiro: a alta carga tributária, a barafunda fiscal, a burocracia e a inconstância de políticas para ciência e tecnologia.

Ao contrário, em países campeões de inovação todo o esforço é feito para facilitar o trânsito entre o laboratório e a empresa. Brito Cruz cita o caso dos Estados Unidos. "Ali há uma forte cultura empreendedora, um ambiente econômico estável, baixos custos trabalhistas, um sistema legal efetivo e boa proteção da propriedade intelectual - além de pouca burocracia", diz.


Tanto a criação da Bug, em 2002, como sua fusão, no ano passado, com a empresa Promip, contou com o apoio de um programa da Fapesp pensado justamente para aproximar o empreendedorismo da pesquisa científica. Chamada Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), esta linha de financiamento foi criada em 1997 e hoje exibe indicadores comparáveis aos de um programa americano equivalente, da National Science Foundation: 5% das empresas apoiadas nos termos do Pipe conseguem alcançar faturamento superior a 25 milhões de reais. Contados cinco anos da fundação, apenas 8% das empresas apoiadas pelo Pipe fecham as portas. No país, a mortalidade média das pequenas empresas é de 70%, segundo o Sebrae. Conforme estudo de Sérgio Salles-Filho, da Unicamp, cada 1 real aplicado pela Fapesp em seu programa de fomento retornou 11 reais para a economia.

Inovação de papel - O principal produto da Bug é uma cartela de papelão dividida em 24 células suficiente para proteger uma área de 1 hectare. Cada célula é posicionada em intervalos de 20 metros na plantação, contendo entre 50.000 e 100.000 ovos deTrichogramma. Cada cartela custa entre 14 e 20 reais, dependendo da aplicação e do nível de infestação. “Em alguns casos, o custo total pode sair até 40% mais barato que os agrotóxicos”, explica Poletti.

Os produtos da Bug atendem atualmente 500.000 hectares, o que permite estimar a venda de 7 a 10 milhões de reais em cartelas - a empresa não divulga quanto fatura. Entre os clientes estão grandes produtores de cana no Brasil, como o Raízen, responsável pela produção de mais de 2,2 bilhões de litros de etanol por ano, segundo dados da própria empresa, o que equivale a quase 10% do total produzido no país.

Voos maiores - A sede da empresa é simples e discreta. Não tem placa e fica à beira da rodovia nos arredores de Piracicaba. Seus prédios de tijolos à vista parecem estar em constante reforma, acompanhando o ritmo de crescimento da empresa. A sala construída para guardar mariposas, necessárias à produção das vespinhas, por exemplo, está operando acima da capacidade.

É por isso que a empresa está erguendo unidade, na região de Charqueada, e desativando a de Limeira. O novo empreendimento terá laboratórios maiores e ajudará no plano de dobrar a produção em 2012. “A nova planta vai aumentar em 10 vezes nossa capacidade”, diz. Com isso, a empresa vai aumentar a oferta de outros tipos de serviços, como consultoria e criação de insetos para outras instituições e laboratórios.

Para abocanhar uma boa parcela do mercado bilionário de pesticidas, a Bug terá que desenvolver novas tecnologias e aumentar ainda mais sua capacidade de produção. A empresa está buscando, por exemplo, um jeito de liberar as vespas por avião, à maneira dos agrotóxicos convencionais em grandes lavouras, de 10.000 hectares ou mais. “Hoje, não é possível atender todo o mercado que queremos conquistar, mas estamos chegando lá”, diz Carvalho.

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Ela não tem os modernos laboratórios da Apple , nem os 800 milhões de ‘clientes’ do Facebook , mas também está na lista das 50 empresas mais inovadoras do mundo, compilada pela revista americana de empreendedorismo Fast Company. Fundada há 11 anos, a empresa brasileira Bug Agentes Biológicos foi considerada mais inovadora do que gigantes conterrâneas como Embraer e Petrobras e serve de exemplo para mostrar que o cenário acadêmico do Brasil pode ser um próspero celeiro de inovação.

Criada dentro dos laboratórios da Esalq — a escola de ciências agrárias e ambientais da Universidade de São Paulo, em Piracicaba —, a Bug disputa uma fatia do bilionário mercado de pesticidas no Brasil. Para tanto, aposta no controle biológico de pragas como uma alternativa segura aos agrotóxicos - e até 40% mais barata. Na ponta do lápis, o prejuízo causado pelas pragas dói no bolso do agricultor. “Se for considerado 1% da plantação infestada, a perda é de 75 reais por hectare no caso da cana-de-açúcar”, diz Heraldo Negri, um dos fundadores da  Bug. O número pode parecer pequeno, mas ganha escala nas grandes plantações. Por exemplo, em uma área de 10.000 hectares, com 10% da cana infestada, o prejuízo seria de 7,5 milhões reais - cerca de 5% do valor do safra. Para evitar o prejuízo, o Brasil gasta cerca de 7 bilhões de dólares por ano com pesticidas - é o maior consumidor do gênero no mundo.

Todos os anos, a revista americana de empreendedorismo Fast Company compila um ranking das 50 empresas mais inovadoras do mundo. A equipe de editores faz uma pesquisa com especialistas da área, analisa a saúde financeira das empresas e verifica cada produto. Em 2012, a Apple foi eleita a empresa mais inovadora do mundo. Apenas duas brasileiras apareceram no ranking mundial: a Bug Agentes Biológicos (33º) e a Boo-box (45º), uma empresa de publicidade para mídias sociais.

Pulo da vespa - A arma da Bug são vespinhas do gênero Trichogramma. Estes insetos, de até um milímetro de tamanho e sem ferrão, são os inimigos naturais de pragas que atacam lavouras de grande importância econômica, como cana e soja. Os bichinhos, encontrados naturalmente no Brasil e em diversas partes do mundo, parasitam os ovos de mariposas e borboletas e impedem que eles deem origem aos maiores inimigos dos agricultores: as lagartas. A Bug conta com cinco “fábricas biológicas”, ou biofábricas, que criam insetos em massa e embalam seus ovos em pequenos papelotes. O agricultor posiciona esses papelotes na lavoura, as vespinhas nascem e passam a atacar as pragas.


O controle de infestação de lavouras por meio de insetos não é novo. A técnica já existe na Europa há 30 anos, mas em pequenas plantações e estufas, não na escala das grandes lavouras brasileiras. Mesmo o potencial da Trichogramma já era conhecido dos cientistas. O assunto corre na literatura científica desde o fim dos anos 80. Em tese, os insetos deste gênero levam vantagem substancial sobre uma vespa de outra espécie já usada no controle da cana, a Cotésia. Isso porque a Trichogramma ataca os ovos, interrompendo o ciclo de vida da praga, enquanto a Cotésia ataca a lagarta. “Como a lagarta nasce dentro do caule da planta, o controle da Cotésia só ocorre depois que a cana foi infestada”, explica Negri.

Faltava tirar a ideia do papel. E este foi o salto da Bug: unir o conhecimento acadêmico a métodos inovadores (e guardados a sete chaves) de produção em massa e liberação do inseto, na forma de um produto capaz de competir com os agrotóxicos.

A Bug Agentes Biológicos não trabalha apenas com vespas. No fim de 2011, a empresa se fundiu com a Promip, do agrônomo Marcelo Poletti, com a ajuda de 500.000 reais de incentivo da Fapesp. Com a fusão, a Bug passou a vender ácaros, inimigos naturais de pragas que atacam plantações de hortifrúti, como morango, alface, pepino e pimentão.

Superação - A Bug nasceu durante o mestrado do agrônomo Diogo Carvalho, hoje seu diretor comercial, na Esalq. Ele criou a empresa em sociedade com o biólogo Negri e o agrônomo Danilo Pedraezoli. “A fase mais difícil foi o tempo que levou entre desenvolver a tecnologia e convencer o produtor”, diz. “Não desistimos porque acreditamos no nosso produto."

Pedraezoli deixou a empresa em 2011, e outros dois sócios entraram no negócio: o agrônomo Roberto Konno, que faz parte da equipe na parte de produção para hortifrúti, e Marcelo Poletti, que fundiu à Bug a empresa que havia fundado em 2005, a Promip. Com a fusão, a Bug passou a atuar também na produção de ácaros, inimigos naturais de pragas que atacam morango, alface, pepino e pimentão, entre outras culturas.

A economia da inovação - "Empresas como a Bug estão se tornando mais comuns", diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp. Em entrevista a VEJA.com, ele lembra que as principais universidades já contam com agências de inovação. O que falta, explica, são investidores com experiência em apoiar empresas de altíssima tecnologia - falta o capital de risco. E pesam, claro, os conhecidos entraves ao desenvolvimento brasileiro: a alta carga tributária, a barafunda fiscal, a burocracia e a inconstância de políticas para ciência e tecnologia.

Ao contrário, em países campeões de inovação todo o esforço é feito para facilitar o trânsito entre o laboratório e a empresa. Brito Cruz cita o caso dos Estados Unidos. "Ali há uma forte cultura empreendedora, um ambiente econômico estável, baixos custos trabalhistas, um sistema legal efetivo e boa proteção da propriedade intelectual - além de pouca burocracia", diz.


Tanto a criação da Bug, em 2002, como sua fusão, no ano passado, com a empresa Promip, contou com o apoio de um programa da Fapesp pensado justamente para aproximar o empreendedorismo da pesquisa científica. Chamada Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), esta linha de financiamento foi criada em 1997 e hoje exibe indicadores comparáveis aos de um programa americano equivalente, da National Science Foundation: 5% das empresas apoiadas nos termos do Pipe conseguem alcançar faturamento superior a 25 milhões de reais. Contados cinco anos da fundação, apenas 8% das empresas apoiadas pelo Pipe fecham as portas. No país, a mortalidade média das pequenas empresas é de 70%, segundo o Sebrae. Conforme estudo de Sérgio Salles-Filho, da Unicamp, cada 1 real aplicado pela Fapesp em seu programa de fomento retornou 11 reais para a economia.

Inovação de papel - O principal produto da Bug é uma cartela de papelão dividida em 24 células suficiente para proteger uma área de 1 hectare. Cada célula é posicionada em intervalos de 20 metros na plantação, contendo entre 50.000 e 100.000 ovos deTrichogramma. Cada cartela custa entre 14 e 20 reais, dependendo da aplicação e do nível de infestação. “Em alguns casos, o custo total pode sair até 40% mais barato que os agrotóxicos”, explica Poletti.

Os produtos da Bug atendem atualmente 500.000 hectares, o que permite estimar a venda de 7 a 10 milhões de reais em cartelas - a empresa não divulga quanto fatura. Entre os clientes estão grandes produtores de cana no Brasil, como o Raízen, responsável pela produção de mais de 2,2 bilhões de litros de etanol por ano, segundo dados da própria empresa, o que equivale a quase 10% do total produzido no país.

Voos maiores - A sede da empresa é simples e discreta. Não tem placa e fica à beira da rodovia nos arredores de Piracicaba. Seus prédios de tijolos à vista parecem estar em constante reforma, acompanhando o ritmo de crescimento da empresa. A sala construída para guardar mariposas, necessárias à produção das vespinhas, por exemplo, está operando acima da capacidade.

É por isso que a empresa está erguendo unidade, na região de Charqueada, e desativando a de Limeira. O novo empreendimento terá laboratórios maiores e ajudará no plano de dobrar a produção em 2012. “A nova planta vai aumentar em 10 vezes nossa capacidade”, diz. Com isso, a empresa vai aumentar a oferta de outros tipos de serviços, como consultoria e criação de insetos para outras instituições e laboratórios.

Para abocanhar uma boa parcela do mercado bilionário de pesticidas, a Bug terá que desenvolver novas tecnologias e aumentar ainda mais sua capacidade de produção. A empresa está buscando, por exemplo, um jeito de liberar as vespas por avião, à maneira dos agrotóxicos convencionais em grandes lavouras, de 10.000 hectares ou mais. “Hoje, não é possível atender todo o mercado que queremos conquistar, mas estamos chegando lá”, diz Carvalho.

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