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Culinária voltada para Meca dá certo nos EUA

O paquistanês Adnan Durrani enfrentou hostilidades para criar uma marca de comida pronta para os muçulmanos residentes nos Estados Unidos

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2013 às 06h00.

São Paulo O empreendedor Adnan Durrani, de 53 anos, paquistanês radicado nos Estados Unidos, fez uma escolha ousada para atuar no saturado mercado americano de comida pronta .

Em 2009, ele lançou a linha Saffron Road (Caminho do Açafrão, numa tradução livre), que produz comida halal, um tipo de alimento cuja preparação respeita a tradição islâmica. Carne de porco e bebidas alcoólicas, por exemplo, são proibidas e o abate dos animais segue uma série de regras.

A empresa de Durrani, a American Halal, faturou 10 milhões de dólares no ano passado, mais que o dobro de 2011. Boa parte do crescimento se deve ao fato de Durrani ter descoberto um nicho de poucos concorrentes. Suas receitas de comida indiana e paquistanesa têm um bom apelo entre os quase 3 milhões de muçulmanos que vivem nos Estados Unidos.

Embora hoje represente apenas 1% da população americana, o número de muçulmanos vivendo no país deve dobrar até 2030. Além disso, seus consumidores têm renda superior à média do país. "Aproveitamos uma demanda pouco explorada nos Estados Unidos", disse Durrani à revista americana Inc.

Ao se voltar para um público de características específicas, Durrani acha que é possível transformar o mercado de comida halal em algo semelhante ao de alimentação kosher, que obedece aos preceitos do judaísmo. A indústria americana de comida kosher movimenta algo em torno de 12,5 bilhões de dólares por ano e há 16.000 empresas disputando esse mercado no país.

Com o passar dos anos, os alimentos kosher ganharam adeptos fora da religião judaica. Hoje, 75% dos consumidores de comida kosher não são judeus, mas compram os produtos porque os consideram mais saudáveis e de procedência segura.

"Nossos produtos são voltados para consumidores cujos princípios espirituais guiam os hábitos alimentares", diz Durrani. "Outros consumidores potenciais são americanos que apreciam os sabores da comida da Índia e do Paquistão."


Durrani já deu um passo importante para disseminar a comida halal entre os americanos. Em 2010, ele firmou um acordo de distribuição com a rede varejista Whole Foods, que vende produtos naturais e orgânicos. Primeiramente, o acordo previa a distribuição em 300 lojas da rede.

Hoje, a American Halal está presente em mais de 6.000 pontos de venda, resultado de um esforço de expansão feito por Durrani e pelo vice-presidente da empresa, o executivo Jack Acree.

Tamanha exposição já fez Durrani enfrentar uma crise de imagem. Em 2011, a Whole Foods fez uma campanha na televisão para promover os produtos da linha Saffron Road pouco antes do ramadã — período sagrado em que os muçulmanos respeitam um jejum da alvorada ao pôr do sol. Pouco tempo depois, começaram a surgir críticas em blogs e redes sociais de pessoas que não gostaram da propaganda por acreditar que cultura muçulmana e extremismo religioso andam necessariamente juntos.

Durante a crise, Durrani concedeu entrevistas e fez comunicados em que combatia as críticas e ressaltava a alta capacidade do povo americano de se integrar a culturas diferentes. Em meio à polêmica, a Whole Foods o apoiou e manteve os produtos da American Halal em suas prateleiras.

Depois do episódio, a empresa intensificou as precauções para evitar mal-estar. Suas embalagens não trazem uma palavra sequer escrita em árabe, e todos os produtos contam com selos de certificação.

Durrani também tem se esforçado para diversificar os produtos da American Halal. Recentemente ele aumentou as opções de pratos, incluindo alguns típicos da cozinha tailandesa e do Oriente Médio.


Além dos congelados, a American Halal também passou a oferecer sopas instantâneas e petiscos. O próximo passo é lançar uma linha de comida coreana. "Todos os alimentos seguirão os mesmos preceitos", diz Durrani.

A ideia de produzir alimentos fabricados de acordo com as regras da cultura muçulmana não é exatamente uma novidade. No Brasil, por exemplo, quase metade da exportação de frangos em 2012 foi para países de maioria muçulmana que exigem a certificação halal. Um dos maiores exportadores é a BRF, grupo que controla as marcas Sadia e Perdigão.

No ano passado, 36,6% das exportações tiveram como destino o Oriente Médio, ante 30% em 2011. O que chama a atenção no caso da American Halal é o fato de Durrani ter adequado seus produtos aos hábitos de consumo dos muçulmanos residentes nos Estados Unidos — gente que, embora siga os preceitos religiosos, já se acostumou à comodidade de comprar comida pronta.

Parte dessa percepção se deve ao grande conhecimento que Durrani tem sobre o mercado de alimentação americano. Ele já criou quatro empresas nesse setor.

Duas delas foram vendidas para grandes empresas, como a engarrafadora de água Crystal Rock e a fabricante de alimentos Danone. Durrani ainda fundou a empresa de investimento Condor Ventures, que tem participações em negócios do setor de alimentação. "Estou sempre atento a novas maneiras de explorar o mercado de comida americano", diz ele.

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Em 2009, ele lançou a linha Saffron Road (Caminho do Açafrão, numa tradução livre), que produz comida halal, um tipo de alimento cuja preparação respeita a tradição islâmica. Carne de porco e bebidas alcoólicas, por exemplo, são proibidas e o abate dos animais segue uma série de regras.

A empresa de Durrani, a American Halal, faturou 10 milhões de dólares no ano passado, mais que o dobro de 2011. Boa parte do crescimento se deve ao fato de Durrani ter descoberto um nicho de poucos concorrentes. Suas receitas de comida indiana e paquistanesa têm um bom apelo entre os quase 3 milhões de muçulmanos que vivem nos Estados Unidos.

Embora hoje represente apenas 1% da população americana, o número de muçulmanos vivendo no país deve dobrar até 2030. Além disso, seus consumidores têm renda superior à média do país. "Aproveitamos uma demanda pouco explorada nos Estados Unidos", disse Durrani à revista americana Inc.

Ao se voltar para um público de características específicas, Durrani acha que é possível transformar o mercado de comida halal em algo semelhante ao de alimentação kosher, que obedece aos preceitos do judaísmo. A indústria americana de comida kosher movimenta algo em torno de 12,5 bilhões de dólares por ano e há 16.000 empresas disputando esse mercado no país.

Com o passar dos anos, os alimentos kosher ganharam adeptos fora da religião judaica. Hoje, 75% dos consumidores de comida kosher não são judeus, mas compram os produtos porque os consideram mais saudáveis e de procedência segura.

"Nossos produtos são voltados para consumidores cujos princípios espirituais guiam os hábitos alimentares", diz Durrani. "Outros consumidores potenciais são americanos que apreciam os sabores da comida da Índia e do Paquistão."


Durrani já deu um passo importante para disseminar a comida halal entre os americanos. Em 2010, ele firmou um acordo de distribuição com a rede varejista Whole Foods, que vende produtos naturais e orgânicos. Primeiramente, o acordo previa a distribuição em 300 lojas da rede.

Hoje, a American Halal está presente em mais de 6.000 pontos de venda, resultado de um esforço de expansão feito por Durrani e pelo vice-presidente da empresa, o executivo Jack Acree.

Tamanha exposição já fez Durrani enfrentar uma crise de imagem. Em 2011, a Whole Foods fez uma campanha na televisão para promover os produtos da linha Saffron Road pouco antes do ramadã — período sagrado em que os muçulmanos respeitam um jejum da alvorada ao pôr do sol. Pouco tempo depois, começaram a surgir críticas em blogs e redes sociais de pessoas que não gostaram da propaganda por acreditar que cultura muçulmana e extremismo religioso andam necessariamente juntos.

Durante a crise, Durrani concedeu entrevistas e fez comunicados em que combatia as críticas e ressaltava a alta capacidade do povo americano de se integrar a culturas diferentes. Em meio à polêmica, a Whole Foods o apoiou e manteve os produtos da American Halal em suas prateleiras.

Depois do episódio, a empresa intensificou as precauções para evitar mal-estar. Suas embalagens não trazem uma palavra sequer escrita em árabe, e todos os produtos contam com selos de certificação.

Durrani também tem se esforçado para diversificar os produtos da American Halal. Recentemente ele aumentou as opções de pratos, incluindo alguns típicos da cozinha tailandesa e do Oriente Médio.


Além dos congelados, a American Halal também passou a oferecer sopas instantâneas e petiscos. O próximo passo é lançar uma linha de comida coreana. "Todos os alimentos seguirão os mesmos preceitos", diz Durrani.

A ideia de produzir alimentos fabricados de acordo com as regras da cultura muçulmana não é exatamente uma novidade. No Brasil, por exemplo, quase metade da exportação de frangos em 2012 foi para países de maioria muçulmana que exigem a certificação halal. Um dos maiores exportadores é a BRF, grupo que controla as marcas Sadia e Perdigão.

No ano passado, 36,6% das exportações tiveram como destino o Oriente Médio, ante 30% em 2011. O que chama a atenção no caso da American Halal é o fato de Durrani ter adequado seus produtos aos hábitos de consumo dos muçulmanos residentes nos Estados Unidos — gente que, embora siga os preceitos religiosos, já se acostumou à comodidade de comprar comida pronta.

Parte dessa percepção se deve ao grande conhecimento que Durrani tem sobre o mercado de alimentação americano. Ele já criou quatro empresas nesse setor.

Duas delas foram vendidas para grandes empresas, como a engarrafadora de água Crystal Rock e a fabricante de alimentos Danone. Durrani ainda fundou a empresa de investimento Condor Ventures, que tem participações em negócios do setor de alimentação. "Estou sempre atento a novas maneiras de explorar o mercado de comida americano", diz ele.

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