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Cardápio ampliado

Ao comprar uma porção de concorrentes, a iFood passou a dominar 80% do mercado de sites e aplicativos para entrega de comida. A ambição da empresa: descobrir como manter o ritmo de crescimento

Felipe Fioravante, fundador da iFood: "O Brasil tem potencial para ser um dos cinco maiores mercados de entrega de comida em domicílio do mundo" (Daniela Toviansky / EXAME PME)

Felipe Fioravante, fundador da iFood: "O Brasil tem potencial para ser um dos cinco maiores mercados de entrega de comida em domicílio do mundo" (Daniela Toviansky / EXAME PME)

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Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2015 às 05h56.

São Paulo - Pelo menos duas vezes por mês o paulistano Rubens Ortolani, de 26 anos, pede pizzas para o jantar. Na maioria das vezes, ele usa um aplicativo para celular criado pela iFood, de São Paulo. “É mais rápido do que esperar alguém anotar o pedido pelo telefone”, diz ele. “No aplicativo, os restaurantes mantêm o cardápio atualizado, o que facilita na hora de escolher.”

Para os estabelecimentos cadastrados, a vantagem é atender mais consumidores sem ter de aumentar o número de funcionários para receber telefonemas — empresas com mais de um restaurante também podem concentrar todos os pedidos num único canal.

A pizzaria Kadalora, onde Ortolani costuma encomendar suas pizzas, cadastrou as três unidades que mantém na zona oeste de São Paulo há cerca de um ano. “Hoje, 20% de nossos pedidos chegam pelo aplicativo da iFood”, diz Valmor Friedrich, de 45 anos, sócio da pizzaria. “Quero que chegue a 40% até o começo do ano que vem.”

O mercado de entrega de comida em casa no Brasil deve movimentar 9 bilhões de reais em 2015, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes. Cerca de 10% desse total virá de pedidos feitos por meio de sites e aplicativos, e ainda há muito potencial para uma empresa como a iFood crescer, na medida em que mais consumidores podem passar a preferir fazer pedidos pela internet.

“O Brasil deve se tornar um dos cinco maiores mercados de delivery online do mundo nos próximos quatro anos”, afirma Felipe Fioravante, de 31 anos, fundador da iFood.

Os primeiros aplicativos para pedir comida surgiram no Brasil em meados de 2011. Na época, dezenas de empreendedores enxergaram a possibilidade de que o delivery online se tornasse a próxima grande onda da internet. Como costuma acontecer em mercados altamente competitivos, os negócios mais bem estruturados logo se destacaram.

A iFood foi um deles. Quando surgiu, o negócio era parte da Disk Cook, empresa de tecnologia criada no final da década de 90 cujo principal produto era um software para administrar o departamento de entregas de restaurantes e lanchonetes. Com o crescimento do mercado de aplicativos e a proliferação dos smartphones, a iFood acabou se tornando um negócio bem mais promissor e atraindo a atenção dos investidores.

Em 2013, parte da empresa foi comprada por 5,5 milhões de reais pela Movile, desenvolvedora de aplicativos com sede em Campinas, no interior paulista. Desde então, a Movile fez mais dois aportes de capital e hoje detém 60% do negócio. “Dado o tamanho do mercado brasileiro, vimos na iFood potencial para se tornar um dos maiores competidores globais no mercado de delivery online”, diz Fabrício Bloisi, sócio da Movile.

No ano passado, a sociedade foi reforçada por um investidor estrangeiro: a britânica Just Eat, que no Brasil era dona de um site e de um aplicativo chamado RestauranteWeb. Hoje as duas empresas — iFood e RestauranteWeb — concentram cerca de 80% do mercado de delivery online no Brasil, seguidas a distância pela Hellofood, que pertence ao fundo de investimentos Rocket Internet.

Muito do crescimento da iFood está ligado a uma tendência que os especialistas batizaram de O2O (sigla em inglês para online-to-offline). São negócios que utilizam a tecnologia para conectar consumidores a prestadores de serviços, como fazem os aplicativos de táxi. “O brasileiro se adaptou muito bem à comodidade dos smartphones e vai consumir cada vez mais serviços por dispositivos móveis”, afirma Tallis Gomes, fundador da EasyTaxi e da Egenius Founders, que desenvolve tecnologias em O2O.

Para manter a liderança, a estratégia traçada por Fioravante foi investir para cadastrar restaurantes em cidades do interior e capitais fora do eixo Rio-São Paulo onde ele acredita que o delivery online pode ser rentável. Nesse tipo de negócio, o volume de vendas é fundamental — as receitas dos aplicativos vêm de uma comissão, que gira em torno de 10% sobre cada pedido.

“Para manter o negócio saudável, é importante expandir para novos mercados”, diz Fioravante. Por isso, nos últimos dois anos a iFood adquiriu seis competidores regionais, como o Papa Rango, de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, o Apetitar — que atendia as regiões metropolitanas de Brasília e Goiânia — e o Alakarte, com atuação nos municípios mineiros da zona da mata.

Até agora, a estratégia de crescimento acelerado está funcionando. Segundo estimativas de mercado, o faturamento da iFood chegou a 50 milhões de reais em 2014, quatro vezes mais do que no ano anterior. Para 2015, a expectativa de Fioravante é chegar a 100 milhões de reais — em junho deste ano, a Movile e a Just Eat colocaram mais 125 milhões de reais na empresa, o que deve ajudá-la a atingir a meta.

“Estamos com caixa para investir”, afirma Fioravante. A expectativa dele é que o total de pedidos pelo aplicativo chegue a 1,3 milhão por mês até o fim do ano — cerca de 85% mais do que a média mensal de hoje.

Um dos gargalos para manter a expansão é encontrar mão de obra. De dois anos para cá, a iFood teve de aumentar sua equipe mais de cinco vezes. A demanda maior é por profissionais das áreas de atendimento ao cliente, vendas e tecnologia. A dificuldade: com o crescimento do número de funcionários, é preciso atrair bons gestores.

“Temos quase 30 gerentes e coordenadores em cargos que nem sequer existiam um ano atrás”, diz Fioravante. “E ainda há mais 15 vagas para gestores que ainda não conseguimos preencher.” Uma das formas encontradas para lidar com essa questão é aproveitar quem já trabalha para a iFood.

Os funcionários que demonstram capacidade ganham responsabilidades maiores em projetos pontuais — a ideia é que eles usem a oportunidade para se preparar para uma promoção. “Como somos uma empresa muito jovem, não podemos oferecer os melhores salários nem um pacote de benefícios invejável”, diz Fioravante. Para atrair talentos, ele oferece aos candidatos a um cargo de gestão a chance de ganhar ações da empresa. “Quem vira sócio fica mais comprometido com o futuro do negócio”, afirma Fioravante.

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