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Brasileiro admira quem empreende — mas tem medo de fazer o mesmo

O estudo Global Entrepreneurhsip Monitor (GEM) fez uma análise sobre o empreendedorismo no Brasil. Veja os destaques:

Jovens conversando: 30 empresas são destaque em satisfação (foto/Thinkstock)

Mariana Fonseca

Publicado em 9 de janeiro de 2017 às 11h00.

Última atualização em 10 de janeiro de 2017 às 10h05.

São Paulo – Os empreendedores são vistos com bons olhos no Brasil – mas ainda há muitas barreiras para incentivar a criação de negócios nacionais, especialmente quando se fala em empreendimentos inovadores.

Essa é uma percepção que muitos brasileiros possuem, e que foi confirmada pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), um dos maiores estudos sobre empreendedorismo do mundo.

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A pesquisa foi feita ao longo do ano de 2015, mas a análise dos dados só foi terminada no fim de 2016. Doze países participaram do estudo focado na América Latina e no Caribe: Argentina, Barbados, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru, Porto Rico e Uruguai.

EXAME.com recebeu o estudo com exclusividade e elenca, a seguir, os principais dados sobre o empreendedorismo no Brasil – incluindo as perspectivas para os próximos anos.

Boa visão, pouca oportunidade

Cerca de dois terços da América Latina e do Caribe possuem uma atitude social positiva em relação ao empreendedorismo. Ou seja: têm uma boa percepção sobre ter uma carreira como dono de negócio; associam empreendedores com um alto status social; e acreditam que há uma atenção midiática positiva ao empreendedorismo no seu país natal.

O Brasil ficou em segundo lugar entre os países pesquisados: 76% dos entrevistados possuem essa atitude social positiva em relação ao ecossistema empreendedor. O primeiro lugar ficou com a Guatemala (79%).

“O brasileiro tem como um dos seus principais sonhos ter o próprio negócio”, diz Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae.

Supostamente, uma percepção positiva de quem abre negócios impulsionaria a proporção de pessoas dispostas a começar e manter empreendimentos.

Porém, o Brasil possui uma baixa proporção de “empreendedores potenciais” – aqueles que possuem condições de abrir uma empresa no futuro, seja por perceber oportunidades de negócio, por habilidades adquiridas ou por não deixar o medo parar o sonho de ser dono de uma empresa.

A taxa brasileira de empreendedores potenciais é de 51%, enquanto a média da América Latina e do Caribe é de 59%. É a segunda pior colocação da pesquisa, perdendo apenas para Porto Rico.

O que causa esse abismo entre admirar empreendedores e efetivamente começar a empreender?

“Segundo os especialistas do estudo, alguns aspectos que limitam a atividade empreendedora no Brasil são o acesso aos recursos financeiros; os custos trabalhistas; os entraves burocráticos e legislativos; e o nível de educação e preparação dos empreendedores para iniciar negócios”, elenca Simara Greco, líder do GEM Brasil. “Falando com os entrevistados, os obstáculos mais citados são acesso a recursos, impostos e legislação.”

Afif, do Sebrae, ecoa as preocupações dos empreendedores. “Os empresários continuam enfrentando problemas em termos de burocracia, peso dos impostos e dificuldades de acesso ao crédito. Essas três vertentes fazem parte da nossa agenda de aperfeiçoamento do ambiente de negócios para os próximos anos.”

O país apresentou a maior taxa de empreendedores novos da região (entre 3 e 42 meses de operação) e manteve a taxa de empreendedores estabelecidos (mais de 42 meses de operação), mas teve números piores em empreendedores potenciais e nascentes (aqueles que já possuem um negócio, mas ainda não pagam salários ou dão lucro).

A recessão no Brasil afetou a média geral de crescimento do empreendedorismo na América Latina e no Caribe. No ranking mundial do GEM, o país caiu 18 posições (de 57º para 75º país da lista). Alguns motivos dessa perda de competitividade citados pela pesquisa são os escândalos de corrupção, o grande déficit fiscal público e a pressão inflacionária.

Empreendimentos por necessidade e inovação

Apesar dos desafios, a taxa de empreendedorismo aumentou no Brasil: na pesquisa de 2014, era de 34,4% da população; já nas entrevistas feitas em 2015, a porcentagem saltou para 39,3%.

“Existem cerca de 25 milhões de pessoas que já trabalham como empregadores e/ou por conta própria no país – ou seja, donos de uma micro e pequena empresa. Então, ter o próprio empreendimento já é algo característico da nossa cultura", ressalta Afif, do Sebrae.

Nos últimos dez anos, a taxa total de empreendedores cresceu quase continuamente. “Em algum momento, essa taxa tende a estacionar ou cair um pouco. É possível que a próxima pesquisa aponte uma tendência de estabilidade na taxa total de empreendedorismo”, analisa.

Mas Greco, do GEM Brasil, ressalta que a maioria desse crescimento ocorreu por necessidade, e não por uma oportunidade real de negócio.

Diante da grande competição pelos empregos restantes no Brasil, especialmente a partir do ano de 2014, muitas pessoas foram forçadas a empreender para sobreviver. Nada menos que 42,9% dos empreendedores brasileiros em estágio inicial começaram sua empresa para mudar de vida financeiramente – um índice que só é maior na Guatemala e no Panamá.

O dado não é bom porque é o empreendedorismo por oportunidade que possui mais chances de sobrevivência e costuma trazer mais inovações. O Brasil apresentou uma taxa de inovação abaixo da média da região: 19,7% dos negócios de estágio inicial possuem produtos novos ou com poucos concorrentes, contra a média de 26,5% da América Latina e do Caribe (já considerada baixa pelo GEM, em comparação mundial).

Ainda passaremos mais um tempo nessa perspectiva de crescimento do empreendedorismo por necessidade, de baixo valor agregado e baixa influência mundial.

“Não devemos ter uma mudança nessa tendência de necessidade/oportunidade no estudo finalizado em 2017”, opina Sandro Nelson Vieira, presidente do Instituto Brasil da Qualidade e Produtividade. “É uma pena porque, quanto mais empreendedorismo por oportunidade um país tiver, maior a chance de ele gerar riqueza através dos seus empreendimentos.”

Por isso, a palavra de ordem para o futuro é capacitação. “O ano de 2016 se mostrou um ano instável economicamente e 2017 deve ainda se manter assim. Os mais preparados tendem a ser aqueles com maiores chances de sair dessa recessão ainda em atividade. Quando a economia retomar seu crescimento, serão esses empreendedores que tenderão a aproveitar melhor as oportunidades", completa.

Acesse o estudo completo do Global Entrepreneurship Monitor por este link.

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