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Banco Central monta centro para acelerar a criação de fintechs

“Durante muito tempo, o BC foi acusado de estar fechado em si. O LIFT rompe esse paradigma", diz a diretora de administração do BC

Banco Central: Um projeto aceito no LIFT recebe cooperação de diferentes áreas do banco e de empresas como IBM, Oracle, Amazon e Microsoft (M.Torres/Getty Images)

Banco Central: Um projeto aceito no LIFT recebe cooperação de diferentes áreas do banco e de empresas como IBM, Oracle, Amazon e Microsoft (M.Torres/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de fevereiro de 2020 às 16h44.

Um dos mais fechados e sisudos órgãos do governo, o Banco Central tem aberto suas portas para startups de inovação em serviços para o sistema financeiro. O fiscal da economia virou ambiente favorável para acelerar protótipos de tecnologia avançada.

Com apoio do BC, as fintechs, como são chamadas essas startups financeiras, desenvolvem projetos lado a lado com técnicos que elaboram as normas regulatórias do mercado brasileiro.

Criado há dois anos, o ainda pouco conhecido Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT) lança, em março, a terceira chamada de inscrição para novos projetos. A experiência tem dado resultado. Protótipos “acelerados” no LIFT já começaram a receber aportes de investidores interessados nas fintechs (mais informações nesta página). O projeto foi inspirado na experiência do Banco da Inglaterra e da autoridade monetária de Cingapura.

A iniciativa ganha fôlego redobrado na esteira do avanço tecnológico das últimas décadas, que tem mudado o jeito como os serviços financeiros são oferecidos e mexido com os grandes bancos. Nesse novo ambiente digital, os processos são mais simples e têm custo mais barato para o consumidor.

“Durante muito tempo, o BC foi acusado de ser uma caixa-preta e de estar fechado em si. O LIFT rompe esse paradigma e coloca o banco numa postura de abertura e diálogo”, diz a diretora de administração do BC, Carolina de Assis Barros.

Ela explica que o LIFT não é um propriamente uma incubadora (que atua na fase de criação de um protótipo), mas uma aceleradora de desenvolvimento do projeto.

Essa é uma segunda fase do processo de inovação, quando o projeto ganha corpo e entra na etapa de teste, com clientes de verdade.

Para o BC, o LIFT é uma oportunidade de diminuir a curva de aprendizado. Segundo Carolina, esse aprendizado precisa ser rápido para que o órgão regulador acompanhe e valide as regras necessárias para dar segurança aos clientes desses novos serviços.

A diretora conta que o banco percebeu que tinha de estar no nascedouro dessas tecnologias para lidar com o sistema financeiro do futuro, que é digital. “Olhamos o projeto e vemos coisas que não necessariamente eles estejam vendo. Temos o olhar regulatório”, diz.

Parcerias

Um projeto aceito no LIFT recebe cooperação de diferentes áreas do banco e de empresas como IBM, Oracle, Amazon e Microsoft. Essas parceiras oferecem o ambiente virtual onde o protótipo é desenvolvido. No primeiro ano do LIFT, dos 18 projetos selecionados, 12 chegaram ao final. No segundo, 20 foram escolhidos e 17 terminaram o protótipo.

O BC não recebe no LIFT qualquer ideia. Ela tem que estar alinhada à agenda “BC#”, cronograma do banco para implementação de novas tecnologias. Muitas começam a sair em 2020, depois que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, decidiu acelerar essa agenda.

Todo o desenvolvimento é feito no ambiente das empresas de tecnologia. Na incubação, as empresas têm reuniões com técnicos do BC, metas e avançam até a entrega do produto.

Aristides Cavalcante, chefe adjunto do Departamento de TI do BC, diz que o ambiente virtual recebe projetos de várias regiões do País e também do exterior. Na primeira edição, duas empresas eram da Califórnia. Ter o selo do LIFT ajuda para que os projetos recebam aportes no futuro. “Não é só uma ideia incubada. É um protótipo com início, meio e fim.”

Incubação

O “selo” do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT) do Banco Central já abriu caminho para investimentos nas startups que ficaram incubadas. Recém-adquirida pela Valid - multinacional brasileira que presta serviços digitais e fabrica cartões bancários -, a fintech BluPay passou pelo LIFT.

Foi justamente a experiência na aceleradora que atraiu o interesse da Valid. A empresa, listada na B3 e com presença em 16 países, comprou 51% da BluPay para crescer na oferta de transações digitais.

A ideia é oferecer uma plataforma de pagamento instantâneo, inovação que está em fase de regulação pelo BC e que faz parte da agenda de medidas para aumentar a competição no fechado clube do sistema bancário em que grandes bancos dominam o mercado.

Fundador da BluPay, Rubens Rocha diz que o LIFT proporcionou bastante troca e funcionou como porta de acesso para a fintech.

“Para quem está tentando pensar em novas alternativas para o setor financeiro, se aproximar quem de fato tem o controle da execução da regulamentação do nosso sistema financeiro funciona com uma ponte muito importante”, conta Rocha.

Com uso da blockchain, tecnologia que faz o registro de uma transação de moeda virtual, o produto desenvolvido pela BluPay já nasce em conformidade com a regulamentação de pagamento instantâneo do BC. Unindo conceitos do open banking (troca de informações dos dados dos clientes entre as instituições), a plataforma pretende integrar as diversas pontas - pessoas, governo e empresas - para fazer a movimentações de recursos de forma instantânea.

O pagamento poderá ser feito em até 20 segundos usando uma infraestrutura que o BC colocará à disposição a partir de fevereiro.

Rocha explica que a plataforma faz esse serviço com mais velocidade e trazendo uma garantia e um sistema 100% auditado e com rastreabilidade. O BC criou um calendário de homologação dessa plataforma com entrada de produção em novembro deste ano.

“O nosso interesse é caminharmos de maneira bastante agressiva para migração e complementaridade de serviços de transações”, conta Maurício Menezes, diretor da Valid.

A Nobli, fintech de crédito pessoal, é outra startup que recebeu aporte de recursos depois de testar seu produto na aceleradora do BC. O investimento veio da Redpoint eventures, gestora que investe em startups em fase inicial por meio de rodadas sucessivas de captação, muitas vezes com investidores diferentes. “A empresa cresce num mês o que uma empresa tradicional leva um ano”, diz Anderson Thees, fundador da Redpoint.

Para ele, o LIFT mostra que o órgão regulador do sistema financeiro brasileiro está aberto à inovação. “É muito bacana e são poucos países que tem um BC atento com o potencial da fintechs”, ressalta. Um dos grandes riscos para o investidor de empresas inovadoras é justamente o regulatório. “A mensagem do agente regulador é que a inovação tem vida.”

Campos Neto quer parcerias com universidades

Em 2020, o Banco Central quer que o LIFT Learning estimule a parceria com universidades, centros de pesquisa e escolas de tecnologia da informação. A ideia é fomentar o espírito empreendedor de jovens estudantes da área de serviços financeiros.

À frente do BC, Roberto Campos Neto acelerou o cronograma de medidas visando à queda do custo do crédito no País. Em 2020, a instituição quer tirar do papel o novo pagamento instantâneo, apelidado de “zap de pagamentos”, que vai permitir transferência online para quitação de contas, sem uso de dinheiro, cartão ou conta em banco.

Com vários cursos na Singularity University, referência em tecnologia, Campos Neto ajudou a montar a plataforma digital do Santander, onde trabalhava antes de assumir o BC.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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