WikiLeaks revela manobras da Pfizer para evitar indenização
Companhia farmacêutica teria conduzido investigações atrás de provas de corrupção contra o procurador-geral da Nigéria para que ele desistisse de ação contra a empresa
Da Redação
Publicado em 10 de dezembro de 2010 às 16h45.
Londres - A Pfizer contratou detetives particulares para encontrar provas de corrupção contra o procurador-geral nigeriano com o fim de chantageá-lo para se livrar de ações legais por conta de testes de medicamentos com crianças que sofriam de meningite, informou nesta sexta-feira o jornal "The Guardian".
O jornal reproduz o conteúdo de uma mensagem da embaixada americana em Lagos publicada pelo WikiLeaks, segundo a qual a Pfizer recorreu à manobra depois que foi processada pelas autoridades nigerianas pelos danos supostamente causados pelo antibiótico Trovan, que foi testado durante uma epidemia de meningite em Kano (norte da Nigéria), em 1996.
Segundo as autoridades locais, nas experiências com esse remédio 11 crianças morreram e dezenas ficaram com deficiências.
No ano passado, a multinacional americana chegou a um acordo provisório com o Governo estadual de Kano no valor de US$ 75 milhões, mas a mensagem vazada sugere que a Pfizer não queria pagar para resolver os dois processos - um civil e outro criminal - abertos pelo Governo federal nigeriano.
O documento relata uma reunião entre o responsável da Pfizer na Nigéria, Enrico Liggeri, e funcionários americanos realizada na embaixada dos Estados Unidos em Abuja em abril de 2009, bem como o recrutamento de detetives particulares para descobrir um possível caso de corrupção do procurador-geral, Michael Aondoakaa.
A mensagem em questão, qualificada como confidencial pelo conselheiro econômico da Embaixada, Robert Tansey, informa que "uma série de artigos muito prejudiciais sobre a suposta corrupção de Aondoakaa foram publicados em fevereiro e março".
Segundo o relato do "The Guardian", no auge da epidemia de meningite na Nigéria um avião com uma equipe médica da Pfizer aterrissou no país para testar o antibiótico Trovan, como forma de compará-lo ao que é normalmente utilizado no Ocidente: Ceftriaxone.
Para testá-lo, foram usadas 200 crianças afetadas, sendo que metade tomava Trovan e a outra metade, Ceftriaxone. A Pfizer conseguiu salvar 189 vidas com ambos os medicamentos.
A licença para Trovan foi retirada da Europa por sua suposta toxicidade hepática, e a administração a crianças não está autorizada em nenhum lugar.
Os parentes dos nigerianos tratados com Trovan dizem que nunca deram permissão para o experimento e desde 2001 tentam processar a Pfizer, que argumenta que não fez nada de errado e que as mortes ocorridas se devem apenas à meningite.
Em declaração ao "The Guardian", a Pfizer afirma ter resolvido em 2009, "por mútuo acordo", os casos relacionados com Trovan apresentados pelo Governo federal da Nigéria e pelo Estado de Kano e acrescenta que a empresa aceitou pagar as despesas legais do Governo nigeriano em relação a esse litígio.