Via Varejo confirma indício de fraude contábil, que pode passar de R$ 1 bi
Empresa havia comunicado em novembro que estava investigando potenciais fraudes, mas, até então, não havia encontrado evidências de irregularidades
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2019 às 19h06.
Última atualização em 12 de dezembro de 2019 às 19h39.
A novela sobre possíveis fraudes contábeis em balanços da Via Varejo ainda não acabou. A varejista, dona de Casas Bahia e PontoFrio, divulgou fato relevante no fim da tarde desta quinta-feira 12 afirmando que uma investigação interna encontrou "indícios de fraude contábil" nos resultados.
A empresa estima que, se confirmada, a fraude pode ter acrescentado indevidamente ao resultado da companhia valores entre 1,05 bilhão de reais e 1,2 bilhão de reais. A empresa diz que também identificou outros "ajustes relevantes" de 200 milhões de reais que seriam referentes a "créditos fiscais e outras provisões".
Assim, a distorção total pode chegar a 1,4 bilhão de reais e, se confirmada, impactará o balanço do quarto trimestre da empresa, a ser divulgado no ano que vem.
Em novembro, a Via Varejo havia confirmado ao mercado que estava investigando potenciais fraudes, após informação sobre o caso divulgada pelo site Suno Notícias.
Na ocasião, a empresa informou que a primeira fase da investigação interna não havia encontrado irregularidades. Com os resultados da segunda fase tendo mostrado potenciais problemas, a empresa afirmou nesta quinta-feira que abrirá uma terceira fase de investigação.
A Via Varejo possui desde outubro um comitê para investigar esses casos, que vieram a conhecimento da diretoria da empresa após denúncias internas.
A empresa afirma em seu comunicado que o caso não impactará "de maneira adversa e relevante seu fluxo de caixa, sua condição financeira e operacional ou sua capacidade de honrar compromissos". Ainda assim, a empresa admite que haverá um impacto no patrimônio líquido da empresa de 800 a 940 milhões de reais e um efeito no caixa ao longo dos próximos três ou quatro anos.
A companhia diz ainda que a administração "continuará tomando todas as medidas necessárias para o saneamento" das potenciais irregularidades contábeis citadas e "avaliará juntamente com seus assessores legais eventuais medidas a serem adotadas em relação aos autores das referidas irregularidades".
O comunicado desta quinta-feira foi divulgado minutos antes do fechamento do pregão. Assim, as ações da empresa, que vinham em alta no dia e também nas últimas semanas, fecharam em queda de 3,10%, a dez reais.
Em novembro, quando a confirmação das investigações internas foi divulgada, a ação chegou a cair 9% e a comercialização do papel precisou ser paralisada por alguns minutos. A expectativa para o pregão de sexta-feira 13 é que as ações abram o dia em queda, repercutindo o comunicado desta noite.
O que apontam as investigações
Segundo divulgado pelo Suno Notícias no mês passado, as denúncias, recebidas internamente, teriam a ver sobretudo com gastos operacionais (batizados de Opex na linguagem financeira) sendo apresentados na forma de investimentos (batizados de Capex). A inversão entre Capex e Opex pode colocar despesas como ativos no balanço e melhorar de forma errônea o resultado.
O Capex representa, no geral, investimento em ativos de longo prazo, como a construção de uma nova loja ou a compra de computadores. Mas, se uma empresa gasta dinheiro para reformar a loja, assim como para pagar funcionários ou terceiros, esses gastos não podem ser considerados como patrimônio.
No comunicado divulgado hoje, a Via Varejo afirma que os valores que apontou como indícios de irregularidades vieram de "manipulação da provisão trabalhista da Companhia e pelo diferimento indevido na baixa de ativos e contabilização de passivos" e "falhas de controles internos" que poderiam resultar em erros contábeis.
A polêmica dos balanços surge em meio a expectativas até então positivas sobre a volta de Michael Klein, que comprou o controle do Grupo Pão de Açúcar (GPA) em junho e é hoje presidente do conselho de administração. A família Klein era dona das Casas Bahia antes da fusão com o PontoFrio que criou a Via Varejo em 2010.