Vender ações da JBS é prioridade para novo BNDES
O banco, agora sob comando de Gustavo Montezano, é dono de 21% da fabricante de alimentos dos irmãos Batista
Lucas Amorim
Publicado em 27 de junho de 2019 às 15h07.
Última atualização em 27 de junho de 2019 às 15h25.
Uma das primeiras medidas da nova gestão do BNDES deve ser vender ações na fabricante de alimentos JBS . O banco de fomento estatal, que anunciou há uma semana Gustavo Montezano como novo presidente, é dono de 21% da companhia controlada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista — o equivalente a 12 bilhões de reais.
A venda das ações cumpriria dois objetivos, segundo EXAME apurou. Primeiro, ajudaria a acelerar o plano de desinvestimentos do banco para devolver recursos ao caixa do governo. A lentidão na devolução de 100 bilhões de reais ao governo foi um dos motivos apontados para a saída de Joaquim Levy no dia 16 de junho. Indicado ao cargo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, Levy havia até junho devolvido cerca de 30 bilhões de reais aos cofres do governo.
Montezano recebeu como uma das missões a venda de participações em empresas para encerrar o braço de investimentos do banco, o BNDESPar. Entre os próximos alvos devem estar Petrobras, Vale, Copel.
O outro objetivo com a venda das ações da JBS prioritariamente é marcar uma quebra com as práticas dos governos anteriores. A JBS é vista pelo governo como uma empresa aliada ao PT, por ter financiado sua expansão internacional com recursos públicos obtidos nos governos Lula e Dilma.
Segundo denúncia do Ministério Público Federal do Distrito Federal, o BNDES emprestou à JBS “muito mais do que poderia”. A Procuradoria cobra um total de 5,5 bilhões de reais da JBS por prejuízos e danos causados aos cofres públicos.
O fato de a fabricante de alimentos viver um ótimo momento na bolsa, com alta de 80% nas ações em 2018, é um argumento a mais para endossar a venda prioritária dos papeis. Entre outros fatores que impulsionaram os papeis está a gripe suína na China, que impulsionou o preço da carne mundo afora.
Além disso, o BNDES está especialmente preocupado com um negócio específico da JBS, a compra do concorrente Bertin, em 2009. Segundo detalhes que vêm sendo revelados, o Bertin custou 8,5 bilhões de reais, mas o valor da venda anunciado foi de 12 bilhões de reais, um sobrepreço que beneficiou o BNDES.
Em depoimento à CPI do BNDES, no dia 15 de maio, Mario Celso Lopes, ex-sócio dos irmãos Batista, confirmou a supervalorização “para atender interesses internos”. Na avaliação do governo, o episódio pode levar a quedas no valor de mercado da JBS.