Vendendo saúde
O Albert Einstein torna-se cada vez mais uma referência em medicina de ponta
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.
O Hospital Israelita Albert Einstein coleciona números superlativos. Lá são realizados por ano 26 000 cirurgias, 67 000 atendimentos de urgência e 1 milhão de exames e procedimentos médicos. Nesse mesmo período gastam-se em média 240 000 pacotes de gaze, 360 000 metros cúbicos de oxigênio, 1 milhão de seringas e 1,2 milhão de pares de luvas. Mas não são esses números grandiosos que fazem da instituição o maior hospital privado da Grande São Paulo. É seu faturamento, estimado no ano passado em 342 milhões de reais, 30% superior à receita da Santa Casa de Misericórdia, a segunda colocada no ranking paulistano (veja tabela). Os números são proporcionais ao alto grau de complexidade dos procedimentos realizados no Einstein. O hospital é referência nacional em oncologia, doenças neurovasculares, cardiologia, traumatologia e, desde o final do ano passado, em transplantes de fígado, seus nichos estratégicos.
"Alta tecnologia e complexidade são o nosso forte", diz o médico Claudio Luiz Lottemberg, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein. Reforçando essa vocação, a instituição passou recentemente a realizar transplantes de fígado em convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS). Em nove meses, já fez 65 procedimentos. A meta é ambiciosa: dentro de um ano e meio, tornar-se responsável por 25% dos transplantes do país. Hoje o Einstein já atende por ano o equivalente a 0,5% da população brasileira. O hospital foi fundado pela comunidade judaica há 31 anos, tem certificado de filantropia, como boa parte dos grandes hospitais paulistanos, e é um dos mais bem equipados da América Latina. "Reinvestimos toda a receita no próprio hospital", afirma Lottemberg.
O Einstein mantém uma ocupação média de 70% dos leitos. A taxa é considerada alta, com rotatividade igualmente alta. Os pacientes ficam internados em média quatro dias -- muito pouco, se considerado o grau de complexidade dos procedimentos. A chamada "desospitalização" -- redução do tempo de permanência dos pacientes no hospital -- é uma preocupação constante. "Não queremos ampliar o número de leitos, mas o de serviços, como reabilitação, medicina preventiva e geriatria", diz Lottemberg. A expansão também tem ocorrido na forma de descentralização do atendimento. Além da sede, o Einstein possui duas unidades satélites, uma em Alphaville, que oferece serviço de pronto-socorro, ambulatório e exames por imagem, e outra na região dos Jardins, de medicina diagnóstica.
Nos últimos anos, o Einstein deu início a um processo de "desospitalização" também de suas instalações, que ocupam 87 000 metros quadrados no bairro do Morumbi, zona sul de São Paulo. Com investimento de 25 milhões de reais, a instituição reformou totalmente o edifício principal, que ganhou requintes de hotelaria. Na recepção, há café, lojas, restaurante, exposições e até música ao vivo em determinados dias da semana. O cardápio servido aos pacientes nada tem de hospitalar. Oferece iguarias como peito de frango ao molho de pitanga e salada verde com queijo de cabra e molho de framboesa. Os corredores foram pintados de cores agradáveis, ganharam decoração moderna e ficaram livres do cheiro de medicamentos. Nos quartos, há cofres, persianas automáticas e TV a cabo. Para dar uma atmosfera mais acolhedora, até os edredons têm estampas que lembram os modelos que as pessoas usam em suas casas.
Para fazer jus a sua condição de entidade filantrópica, o Einstein presta serviço ambulatorial gratuito a 10 000 crianças da Favela Paraisópolis, vizinha do hospital. São realizados, em média, 243 000 atendimentos por ano. As crianças recebem seguro-saúde com direito a internações, cirurgias e exames fora do ambulatório.
Depois de se firmar como um hospital de primeira linha, o Einstein passou a investir também em educação e pesquisa. Há dez anos criou uma faculdade e escola de enfermagem que forma anualmente 50 alunos. "Pretendemos ampliar os cursos técnicos, para a formação de técnicos em radiologia e em ultra-sonografia, por exemplo", diz Lottemberg. A idéia é constituir uma universidade corporativa, cujas obras devem exigir um investimento de 4 milhões de dólares. Na área da pesquisa, o Einstein também tem boas notícias: está inaugurando em setembro o Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, que atuará em convênio com instituições respeitadas na área, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Instituto Pasteur, na França, e a Universidade Federal Paulista, antiga Escola Paulista de Medicina. O investimento previsto no novo núcleo é de 1,5 milhão de dólares.