Uma vaquinha de empresas do RS soma R$ 39 milhões para salvar 30.000 empregos afetados pela enchente
Crédito com juros baixos e sem garantia visa ajudar 3.000 empresas gaúchas após as enchentes
Repórter de Negócios
Publicado em 4 de novembro de 2024 às 17h07.
Poucas empresas viram tão de perto o desastre das enchentes de maio no Rio Grande do Sul como a Lojas Lebes. Não porque suas operações tenham sido diretamente impactadas, mas pelo fato de estar sediada em Eldorado do Sul, cidade a 20 quilômetros de Porto Alegre destruída pelas cheias.
Por ali, mais de 90% da área do município foi coberta pela água durante as enchentes, com milhares de moradores desabrigados e grande parte das atividades comerciais e residenciais interrompidas.
A sede da Lebes, uma das maiores redes de varejo do estado, permaneceu intacta, mas por ser dali, não é de se surpreender que queira mobilizar recursos para ajudar na reconstrução do estado.
No caso da Lebes, essa ajuda vai além das ações pontuais para socorrer funcionários e clientes afetados. Agora, a varejista se une a outras dez empresas para lançar um fundo de emergências climática: o Estímulo Retomada RS.
O que é o Estímulo Retomada RS
O Estímulo Retomada RS é uma iniciativa focada em oferecer crédito com taxas subsidiadas para pequenos e médios empreendedores do Rio Grande do Sul que foram impactados pelas enchentes e que enfrentam dificuldades para obter financiamento em bancos tradicionais.
A ideia é fornecer empréstimos com juros a partir de 0,99% ao mês, bem abaixo das taxas convencionais, que podem ultrapassar 4% ao mês.
Além disso, o fundo não exige garantias, o que facilita o acesso para quem precisa de agilidade no processo de retomada.
Segundo Otelmo Drebes, presidente da Lebes, a iniciativa visa superar um dos maiores obstáculos que os empreendedores enfrentam nesse momento: a falta de crédito.
“Como empresário, entendo bem a dificuldade para superar desafios tão grandes como os que enfrentamos no RS. Muitos empreendedores gaúchos encontram barreiras para acessar crédito devido à falta de garantias exigidas pelas instituições financeiras", diz. "Mesmo aqueles que conseguem, muitas vezes se deparam com altas taxas de juros ou um processo burocrático lento, justamente quando a agilidade é essencial para retomarem suas operações”.
Quem está por trás do Estímulo Retomada RS
O fundo reúne 11 parceiros que se uniram para formar o fundo de emergências climáticas. Além da Lebes e do Itaú Unibanco, os outros cofundadores incluem nomes como o banco gaúcho Banrisul, a metalúrgica Tramontina, o grupo Randoncorp e o Instituto Helda Gerdau.
Essas empresas contribuíram para alcançar um montante inicial de 39,1 milhões de reais, que estará disponível para empréstimos aos pequenos e médios negócios.
A meta é que o fundo impacte diretamente 30.000 empregos e ajude aproximadamente 3.000 empresas a se reerguerem após as enchentes.
Como o fundo vai funcionar
O Estímulo Retomada RS foi desenhado para ser acessível e ágil.
Empresas com CNPJ ativo há pelo menos dois anos e faturamento mensal entre R$ 10 mil e R$ 400 mil podem solicitar o crédito, com valores de R$ 10 mil a R$ 200 mil. As condições incluem uma carência de seis meses para o pagamento da primeira parcela e um prazo de até 36 meses para quitar o empréstimo.
O processo é 100% digital, desde a solicitação até a liberação dos recursos, o que permite que os valores sejam depositados em até cinco dias úteis após a aprovação. “Estamos levando em consideração a urgência desse momento e a necessidade de um processo rápido e sem burocracia”, destaca Drebes.
Quais são as outras iniciativas da Lebes
Além do Estímulo Retomada RS, a empresa tomou uma série de medidas de apoio imediato, como o adiantamento do 13º salário, vendas a preço de custo para funcionários e até um auxílio de R$ 10 mil para os colaboradores que perderam tudo nas cheias. Além disso, a Lebes lançou o Cartão Reconstrução, permitindo que doadores oferecessem crédito diretamente às vítimas das enchentes para a compra de itens essenciais nas lojas da rede.
Ao mesmo tempo, a empresa segue apostando em seu plano de expansão no estado, com a construção de um ecossistema logístico de R$ 500 milhões em Guaíba, que, além de atender as operações próprias, terá espaço para outras empresas afetadas por desastres climáticos que precisem de uma estrutura robusta e segura.
Para Otelmo Drebes, os desafios são muitos, mas a solidariedade é maior: “Nós acreditamos na capacidade de reconstrução do Rio Grande do Sul e estamos empenhados em fazer a nossa parte. É uma maneira de devolver à comunidade o apoio que sempre recebemos e de ajudar os pequenos empreendedores que são a base econômica do nosso estado.”
Com essa série de iniciativas, a Lebes reafirma sua posição não apenas como uma das maiores varejistas da região, mas também como uma liderança ativa na recuperação e no desenvolvimento do Rio Grande do Sul em um dos momentos mais críticos de sua história.