Tanure, da Oi: “minha parte não está à venda”
Ana Paula Ragazzi O empresário Nelson Tanure é conhecido por investir em companhias em dificuldades. Em janeiro de 2016, seis meses antes de a operadora de telefonia Oi entrar em recuperação judicial, Tanure começou a comprar ações da empresa. Apesar do discurso de que irá promover uma reestruturação, acumula mais disputas societárias e processos trabalhistas […]
Da Redação
Publicado em 1 de junho de 2017 às 15h44.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h07.
Ana Paula Ragazzi
O empresário Nelson Tanure é conhecido por investir em companhias em dificuldades. Em janeiro de 2016, seis meses antes de a operadora de telefonia Oi entrar em recuperação judicial, Tanure começou a comprar ações da empresa. Apesar do discurso de que irá promover uma reestruturação, acumula mais disputas societárias e processos trabalhistas do que sucessos. Nos últimos anos, investiu no Jornal Do Brasil, na Gazeta Mercantil, na petroleira HRT, na tele Intelig e no Grupo Peixoto de Castro. Com uma participação de 6% na Oi e o apoio de outros acionistas internacionais, conseguiu duas cadeiras no conselho e quer que os credores da Oi aprovem um plano que gere poucas perdas para os acionistas.
A entrevista foi feita como parte da reportagem “Pressa para quê?” publicada na edição de EXAME que está nas bancas, com a capa “A verdadeira história de um campeão nacional”. A reportagem fala sobre o processo de recuperação judicial da Oi, que já está aberto há um ano, sem que haja um acordo com os credores. A empresa ainda sofre a ameaça de intervenção da Anatel, mas nada de que os investidores possam se queixar: as ações valorizaram 350% desde junho de 2016, 12 vezes mais que o Ibovespa. Abaixo, confira a entrevista na íntegra com um de seus mais influentes investidores.
O senhor comprou ações da Oi quando elas estavam bastante desvalorizadas, diante da grande possibilidade de a empresa entrar em recuperação judicial. Ao mesmo tempo, critica os donos de títulos de dívida da empresa que fizeram o mesmo movimento. Por que considera que a sua posição é mais legítima que a deles para liderar esse processo?
A pergunta parte de pressupostos equivocados. Primeiro, não investi na Oi quando a empresa já estava praticamente em recuperação judicial [Tanure iniciou as compras em janeiro de 2016, seis meses antes do pedido]. Comecei a investir muito antes, quando passei a estudar a companhia e conhecer a fundo seu enorme potencial. E, aliás, continuei a investir depois de iniciada a recuperação porque acredito no futuro sólido da empresa. O segundo ponto é que a lei diz que o plano de recuperação judicial é obrigação dos gestores da empresa, e nós oferecemos contribuições a eles. Mas não assumi, não pretendo, nem posso assumir a condição de líder nesse processo. Temos apenas dois dos onze integrantes do conselho de administração. E, em terceiro ponto, não fiz declarações sobre uma suposta ilegitimidade dos credores. A diferença fundamental entre os acionistas e esses credores representados por fundos abutres, que desejam o sangue da Oi e estão longe de representar a maioria da dívida da empresa, é o compromisso com a integridade atual e futura da companhia. Os acionistas ganham com o sucesso da Oi. Os abutres ganham com a morte dela.
Por que faz essa avaliação?
Todo o esforço dos acionistas tem sido no intuito de valorizar a companhia, seja com a injeção de recursos, seja na atuação pública e junto às autoridades para que a Oi seja percebida não pela sua complicada história pregressa, mas pelo que ela realmente é hoje, uma empresa de extraordinária infraestrutura, com capacidade de investimentos em tecnologia — 5 bilhões de reais por ano — e um potencial de crescimento sem igual no mercado brasileiro e internacional. Nossa aposta é na saúde da Oi. A aposta dos abutres tem sido na direção oposta: na desestabilização e nos ataques desonestos à imagem da companhia, que mereceriam uma minuciosa investigação da Comissão de Valores Mobiliários e de sua contraparte nos Estados Unidos. Da maneira que agem, os credores internacionais sinalizam que só ganham se a Oi for destruída e sofrer uma intervenção do governo. Eles têm o histórico de apostar contra países como a Argentina e empresas como a Petrobras, e veem o ganho apenas no curtíssimo prazo. Nós, os acionistas, ganhamos se a Oi vencer seus obstáculos financeiros e se firmar ainda mais. Nossa visão nos coloca no mesmo lado dos credores brasileiros — como os bancos estatais — cujos investimentos na empresa só podem ser recuperados caso a Oi sobreviva e se fortaleça.
O senhor acredita que a Oi precisa de uma injeção de recursos? Diante da enorme dívida da empresa, como viabilizar isso?
Ao mesmo tempo em que negocia suas dívidas, a Oi precisa atrair um ou mais parceiros de primeira linha, de grande calibre internacional, com capacidade tecnológica e de investimento. É o momento de buscá-los e estamos fazendo isso. Os contatos são preliminares e confidenciais e podem agregar muito à Oi – e não como aqueles abutres que só pensam, de maneira inclemente, na sua destruição. Já disse que tenho a disposição de aportar capital na empresa, com outros fundos de investimentos que estão alinhados no propósito de fazer a Oi crescer. Uma empresa como a Oi, que fatura quase 40 bilhões de reais por ano, se habilita a atrair excelentes parceiros e captar recursos.
Há quem afirme que a sua presença na empresa cria dificuldades adicionais ao processo, por várias razões, que vão desde os embates com a Pharol [maior acionista da empresa, com 22% do capital], afirmações de que o senhor não teria crédito em bancos para eventualmente conseguir financiamentos para a Oi e até mesmo pelo fato de ter criado um litígio societário que pode afugentar interessados na empresa. O senhor avalia que, de alguma forma, atrapalha ou ajuda o processo?
Não tenho dúvida de que essas invenções vêm de representantes dos fundos abutres, que gastam muito tempo e dinheiro fazendo lobby em Brasília. Primeiro: não há embate com a Pharol, e sim uma relação de respeito. Segundo: não há litígio societário. Terceiro: nosso crédito é abundante no Brasil e no exterior. Sempre há quem afirme as coisas mais absurdas sobre mim. Quase sempre são detratores que se valem do anonimato para nos acusar sem fundamento e sem provas. As acusações anônimas sobre embates e litígio societário são interpretações grosseiras e inadequadas de fatos corriqueiros no mundo dos negócios, feitas por gente de má-fé associada aos abutres. Estou pronto para dar os nomes na hora certa.
O senhor estaria disposto a vender a participação acionária que tem na Oi, se receber uma boa oferta?
Sou um investidor de longo prazo, penso na empresa nos próximos dez anos. Não existe a possibilidade de vender a minha participação acionária em troca de um bom ganho financeiro por uma simples razão: a Oi, bem administrada e devidamente capitalizada, é uma empresa que vai gerar excelentes resultados para os seus acionistas, para os seus empregados e para o Brasil — e aí eu incluo os milhares de pequenos investidores. Eu gostaria que a Oi, uma empresa brasileira, fosse a número 1 do nosso mercado, como é o caso da Telefónica na Espanha, da TIM na Itália e da Claro no México. Só me contentarei quando a Oi for a número 1 do Brasil, a maior e a melhor do país. Portanto, mensagem para os meus detratores: minha participação não está à venda.
O senhor acredita numa intervenção da Anatel na Oi? Se isso acontecer, poderá questionar esse processo?
Estamos empenhados em demonstrar que uma intervenção na Oi seria um movimento que tornaria nulas suas chances de atuar com sucesso no mercado e iria tisnar a aura de modernidade que o Brasil a duras penas está construindo lá fora. Não é à toa que o governo tem agido de maneira cautelosa e responsável quanto a esse tema. Na minha visão, a intervenção não é necessária. Todos os índices, tanto econômicos quanto operacionais, estão melhorando a cada dia. A prestação de contas à Anatel se faz de maneira quase cotidiana. Não há razão técnica ou financeira que justifique uma intervenção. Meu foco hoje é encontrar parceiros internacionais que detenham as mais avançadas tecnologias de telecom e internet para aportarem no Brasil.
Por que o senhor se considera a melhor opção para a Oi? Qual a sua experiência de sucesso na reestruturação de empresas?
Não me considero nem melhor nem pior de nada. Mas é importante reafirmar quem trabalha a favor do seu enorme potencial. Se bem administrada, com investimentos sustentáveis e os parceiros certos, ela manterá uma posição de destaque no mercado. Nossa experiência em recuperar empresas já foi demonstrada nos exemplos bem-sucedidos da Intelig e da PetroRio, para citar os casos mais recentes. Eram duas companhias em grande dificuldade que se tornaram fortes. O caso da Intelig, a propósito, é uma excelente analogia à situação atual da Oi. Detinha uma dívida bilionária e considerada insustentável, e poucos acreditavam na sua recuperação. Tornamos a empresa viável, reequilibramos a dívida para algo adequado aos credores. Introduzimos metas de gestão desafiadoras e valorizamos os profissionais da casa. Após quase uma década estagnada e gerando prejuízo, a Intelig voltou a crescer e dar lucro. Finalmente, se juntou à TIM, o casamento perfeito entre uma operadora móvel com uma de telefonia fixa. Isso permitiu à TIM recuperar seu lugar no mercado móvel brasileiro e triplicar seu valor de mercado. O que era conhecida como uma empresa de alto potencial se transformou em uma companhia de alto desempenho.
O senhor usou recursos do caixa da PetroRio para comprar ações da Oi. As ações da Oi tiveram forte valorização. Por que, então, essas ações não foram vendidas, para que a PetroRio embolsasse esses recursos para seu caixa, realizando os lucros?
A PetroRio é uma companhia aberta, tem seus estatutos, e o mais conveniente é você procurar a direção da empresa.
O senhor pagou 4 milhões de euros a Rafael Mora para que ele deixasse o conselho de administração da Oi? Esse acordo fechado com o executivo engloba toda a Pharol?
As informações que eu tenho é que o senhor Rafael Mora renunciou ao conselho por questões pessoais e familiares.
O senhor hoje está no controle da posição acionária que a Pharol tem na Oi?
Conforme informado à companhia e às autoridades portuguesas, tenho uma pequena participação na Pharol, fruto do acordo que fizemos no ano passado. E também não planejo aumentar a minha participação. Não controlo a posição acionária que a Pharol tem na Oi e qualquer informação diferente não passa de ilação, sem fundamento na realidade e de má fé.
O senhor aceitaria ser diluído para que a Oi pudesse ter um futuro mais promissor à frente?
Somos a favor e apoiamos qualquer solução que seja benéfica para Oi. Somos acionistas da Oi e, portanto, os maiores interessados no seu vigor financeiro e sucesso operacional. Estamos abertos a negociar com quem, como eu, tem interesse no crescimento da Oi. É importante frisar que acreditamos no relacionamento harmônico entre os acionistas e parceiros dedicados ao crescimento da companhia. A harmonia nas discussões, a despeito de divergências pontuais, é hoje uma realidade no Conselho de Administração. E continuará a ser.
Credores da Oi afirmam que a companhia não tem negociado o plano de recuperação judicial. É verdade?
Conforme é público, a administração da companhia teve dezenas de reuniões com credores, tendo apresentado um aditivo ao plano de recuperação judicial em reunião do Conselho de Administração, no mês de março. Como acionista, ofereci diversas contribuições, como o pagamento imediato de 60 mil pequenos credores, que passavam por grande dificuldade. Também como acionista, estou alinhado com o plano dos gestores da companhia.
Quando haverá uma solução para a recuperação?
O presidente da Oi, Marco Schroeder, tem declarado que a intenção é ter um plano aprovado em Assembleia Geral dos Credores (AGC) até setembro. É um cronograma possível que leva em conta o que já foi apresentado, as negociações em curso com os credores, o tempo de aval da Justiça e a realização da AGC. É importante que seja cumprido o calendário determinado pela lei de Recuperação Judicial. Torço para que a solução chegue o quanto antes. A Oi enfrenta hoje uma crise passageira, causada, em grande parte, por erros do passado. Mas estou convicto de que ela vai superar a crise e conquistar novamente uma posição de destaque no mercado.