Exame Logo

Soja que vale ouro

Injetando valor no grão

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Quer saber como algumas empresas brasileiras estão agregando valor à soja, sem pensar em farelo ou óleo? Despejando toneladas do produto ensacado num contêiner com um carimbo de "orgânico" na embalagem. Pronto, está feita a transformação que permite a quem vende cobrar até 30% a mais pelo produto. Com uma vantagem adicional: o pagamento é feito em moeda forte por consumidores de alto poder aquisitivo espalhados pela Europa, Estados Unidos e Japão. Atentas ao fato de que a soja com selo verde vende como pão quente lá fora, empresas novatas no mercado internacional passaram a explorar esse nicho de produtos orgânicos -- cultivados sem agrotóxicos e aceitos sem reservas por uma população que cada vez mais cultiva hábitos saudáveis.

O rótulo "orgânico" tem sido uma das maneiras de reinventar a roda. Mas há outras também. Pequenos empresários estão transformando a soja em salgadinhos tostados e em produtos de recomendação médica, como o gérmen do grão. Estão literalmente dourando o ouro amarelo do campo, ampliando em até seis vezes o ganho sobre o produto. Alguns gramas do gérmen de soja, considerada a parte mais nobre do grão, têm valido o mesmo que 1 grama de ouro nesse mercado. Somente com o carimbo de orgânica e a certificação de não-transgênica, 1 tonelada de soja em grão, em determinadas épocas do ano, salta de 1 000 para 1 300 reais.

Veja também

São pequenas e médias empresas que estão abrindo as portas do mercado internacional para produtos brasileiros. E melhor, de forma criativa e bastante enxuta. É o caso da paranaense GaMa Alimentos. Com 85 funcionários, sede em Londrina e previsão de chegar ao fim do ano com faturamento correspondente a 17 milhões de dólares, a GaMa é fruto da aposta do empresário Martin Gardemann, um alemão que chegou ao Brasil ainda adolescente. Começou vendendo soja convencional para consumo humano, processada nas indústrias alimentícias. Hoje é uma das maiores exportadoras de orgânicos do país e fornecedora de toda a soja que a Yakult, fabricante de alimentos, consome por aqui. Além de cativar clientes externos, ao assegurar a origem do seu produto certificado por institutos internacionais, a GaMa desenvolveu para o mercado interno uma linha de produtos de consumo rápido entregue diretamente nas gôndolas de supermercados. São saquinhos de soja tostada e temperada com sal, ervas, queijo e outros sabores que estão rivalizando com os salgadinhos tradicionais. Além disso, desenvolveu uma extensa linha de produtos que vai do arroz ao amendoim, milho para pipoca, girassol, linho, açúcar mascavo, feijão, farinha de trigo integral e de centeio.

A GaMa não está sozinha. Empresas como Tozan Alimentos Orgânicos, Naturalle Specialty Grains e Agrorgânica, todas com unidades industriais em Ponta Grossa, algumas ocupando barracões simples e adaptados quase ao lado de importantes esmagadoras de soja como Bunge Alimentos e Coinbra, confirmam o interesse pelo mercado. Os volumes ainda são pequenos. Devem bater em 20 000 toneladas neste ano. Mas vale a pena insistir. Na Europa e nos Estados Unidos, o consumo de produtos orgânicos tem crescido 30% ao ano. No Brasil, dobrou nos últimos dois anos; agora movimenta 200 milhões de reais por ano, segundo o IBD (Instituto Biodinâmico -- órgão certificador da produção orgânica no país). Nada mal para um produto "que nasceu da necessidade do comprador externo", diz Beatriz Ferreira, técnica da EmbrapaSoja, em Londrina.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Negócios

Mais na Exame