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Será o retorno da Grande Depressão? Não é bem assim

Que comparação vocês fazem entre a crise financeira atual e a crise dos anos 30 que deu origem à Grande Depressão? Landon Romano, Johannesburgo, África do Sul É claro que se você pegar um dado estatístico aqui, um ponto no gráfico ali e depois misturar tudo muito bem e levar ao forno, vai achar que […]

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h55.

Que comparação vocês fazem entre a crise financeira atual e a crise dos anos 30 que deu origem à Grande Depressão?
Landon Romano, Johannesburgo, África do Sul

É claro que se você pegar um dado estatístico aqui, um ponto no gráfico ali e depois misturar tudo muito bem e levar ao forno, vai achar que a crise de 1929 está de volta.

Você pode, mas não deve fazer isso. A crise atual é sinistra e sem dúvida vai piorar. Nas colunas anteriores, previmos o advento de condições econômicas duríssimas para os próximos trimestres, na medida em que a desalavancagem do sistema der lugar à grande desalavancagem por parte do consumidor. No entanto, por inúmeros motivos, não cremos que estejamos na iminência de uma segunda Grande Depressão. Na verdade, parafraseando Franklin Delano Roosevelt, se há algo hoje que devemos encarar com pessimismo é o próprio pessimismo.

Sabemos perfeitamente que há muita coisa ruim vindo por aí. Contudo, estamos também convencidos de que quando a situação melhorar um pouco — e vai melhorar —, a economia global sairá mais fortalecida e mais pujante do que nunca. Nós chegaremos lá, não tenha dúvida — contanto que deixemos de lado essa comparação obsessiva com a crise de 29 que você reproduz na sua pergunta.

Não o estamos criticando por ter perguntado! Você não é o único. Esta é uma ótima oportunidade para rebatermos o que têm dito alguns jornalistas especializados em finanças e muitos sabichões que entendem de tudo e que, à semelhança do sujeito encarregado de dar a previsão do tempo durante um furacão, vão ficando cada vez mais eufóricos à medida que noticiam a maior “tempestade” de sua carreira. É compreensível que se sintam assim, mas talvez tenham perdido um pouco a perspectiva das coisas em meio a tanto furor.

Vamos começar fazendo uma comparação com as condições em que se encontrava a economia por ocasião do colapso ocorrido 80 anos atrás. É verdade que os eventos de hoje guardam alguma semelhança com os do período de 1929-33, mas as diferenças são tantas que as semelhanças acabam sendo pequenas demais.

Em 1930, por exemplo, a Lei Smoot Hawley deu início a uma década de tarifas restritivas e de discórdia internacional. A crise de hoje se caracteriza por um grau elevado de livre comércio e cooperação global. Em 1933, a Lei de Recuperação Industrial Nacional estimulava a formação de cartéis trabalhistas e industriais. Como conseqüência disso, a concorrência doméstica definhou. Nada disso acontece hoje, uma vez que as empresas americanas jamais estiveram tão bem preparadas para a “briga”.

Por fim, é muito pouco provável que haja uma segunda Grande Depressão nos dias de hoje, já que foram criadas instituições exatamente para impedir esse tipo de coisa. O exemplo mais claro disso é a Federal Deposit Insurance Corp. (empresa responsável pelo seguro federal de depósito), cuja autoridade garante os depósitos feitos e tem papel fundamental na estabilização do sistema bancário.

Nem todos os catastrofistas invocam o espectro da Grande Depressão. Alguns dizem que estamos a caminho de uma depressão profunda semelhante à de princípios dos anos 80, quando o PIB dos EUA foi negativo em cinco de um total de oito trimestres, sendo que no pior deles o tombo foi de 7,8%. A inflação chegou a quase 15%, a taxa preferencial de juros bateu em 21,5% e o desemprego encostou em 11%. Conforme dissemos, nossos indicadores econômicos vão piorar, mas os números citados estão a milhas de distância dos números de hoje.

Outros profetas do Apocalipse prevêem que estamos caminhando rumo a um socialismo do tipo francês. O governo americano tem uma longa história de intervencionismo marcada pela entrada e saída rápida de cena. Em 1984, só para dar um exemplo recente, o governo comprou 80% do Continental Illinois Bank, ficou com ele durante dez anos e depois o vendeu para o Bank of America. Em 1989 foi criada a Resolution Trust Company, que fez uma faxina nas instituições de empréstimo e de poupança então em crise, encerrando rapidamente depois suas atividades. O Programa de Alívio para Ativos Problemáticos não parece ser a exceção a esse modelo, uma vez que os prazos dos empréstimos previstos pelo programa dão aos bancos flexibilidade operacional e os estimula fortemente a se livrarem do investimento feito pelo governo num período de cinco anos.

Conclusão: nenhum gerente deve ficar olhando para trás tentando descobrir como será o futuro. Em vista dos fatos, trata-se de um exercício inútil. Pior ainda: é contraproducente — quando não, perigoso. Para passar pela crise, por qualquer crise, o líder precisa expor as razões para que haja confiança. Os EUA são um país cheio de energia e de criatividade. A cultura americana exalta o empreendedor, que é fonte de toda recuperação. O ensino superior do país causa inveja no mundo todo. São milhares as empresas americanas com fluxo de caixa sustentável. Por mais terrível que seja o cenário do que está por vir, ele também vai gerar oportunidades na medida em que as pessoas começarem a dar ouvidos ao célebre conselho de Warren Buffet: “Seja cauteloso quando todos parecem ambiciosos, e ambicioso quando todos parecem cautelosos.”

Não somos Polianas. Faz parte da natureza humana dizer que nossas dificuldades “são as piores de todos os tempos”. Pense, porém, por um outro ângulo. Estamos à espera de uma correção dolorosa, embora necessária, e que produzirá no fim das contas uma sociedade mais sadia e mais desalavancada, com uma estratégia renovada de produtividade, mais inovações e um governo melhor. Não é o fim. Pelo contrário, um novo começo nos aguarda.

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