RNI, incorporadora do grupo Rodobens, tem lucro de R$ 1,3 mi no 2º tri
Empresa tem foco em regiões do interior, com foco no agronegócio, e registra maior receita para um semestre nos últimos cinco anos
Karina Souza
Publicado em 11 de agosto de 2021 às 20h14.
Última atualização em 12 de agosto de 2021 às 11h51.
A incorporadora RNI Negócios Imobiliários (RDNI3), do grupo Rodobens, continua em crescimento com o avanço da vacinação e a retomada econômica. Depois de registrar lucro líquido de R$ 5,4 milhões no primeiro trimestre deste ano (ante prejuízo no ano anterior), a empresa divulga hoje lucro de R$ 1,3milhão no segundo trimestre de 2021,revertendo prejuízo de R$ 6,2 milhões no segundo trimestre de 2020 e ficando mais próxima do patamar de R$ 2 milhões de lucro em 2019.
Sem o desconto da participação dos minoritários, o resultado líquido da empresa ficou em R$ 3 milhões no período.
A receita líquida ficou em R$ 93,4 milhões, valor 17% menor na comparação ano a ano -- porém, no acumulado do primeiro semestre, esse número ficou em R$ 182,9 milhões, 8% maior do que em 2020. Foi o melhor semestre dos últimos cinco anos.
O valor maior em 2020 está relacionado a um negócio firmado com o controlador, de alienação de 163 unidades em troca de terrenos adquiridos. Para 2021, acordos como esses não estão previstos na estratégia, segundo a companhia.
As vendas líquidas somaram R$ 166 milhões no segundo trimestre, valor 138% superior ao registrado em 2020.
O VGV (Valor Geral de Vendas) da RNI ficou em R$ 180,2 milhões entre abril e junho, ante R$ 149,9 milhões no segundo trimestre de 2020. No período, foram lançados dois empreendimentos, um totalmente dentro do Programa Casa Verde e Amarela e o outro fora do programa, com sócio externo.
Ao mesmo tempo, a VSO (Venda sobre Oferta) líquida avançou 6,6 pontos percentuais (p.p.) em relação ao segundo trimestre de 2020 e 1,4 p.p. ante o primeiro trimestre de 2021.
A margem líquida teve ayumento de 6,8 pontos percentuais e ficou em 1,5%, já contemplando a dedução da participação dos minoritários. Excluindo esse efeito, a margem líquida sobre o lucro líquido é de 3,1% no consolidado, ficando superior ao valor negativo do 2T20.
A alavancagem medida por dívida líquida sobre patrimônio líquido ficou em 58,3%, ante 67,2% no ano anterior.
O EBITDA ajustado, que inclui despesas com juros capitalizados, ficou em R$ 9,7 milhões, ante R$ 14,5 milhões no ano anterior. Contudo, na comparação com o primeiro trimestre deste ano, o valor representa crescimento de 192%. A companhia afirma que o resultado do segundo trimestre também foi impactado pela operação com o controlador e pelo aumento de dívidas com a retomada econômica.
O indicador foi impactado pelo aumento da dívida da empresa: estava em R$ 414,1 milhões no segundo trimestre, ante R$ 355,1 milhões no mesmo período do ano anterior. A companhia afirma que o aumento está relacionado à retomada de empreendimentos em 2021, com foco na retomada do consumo -- destacando que 70% da dívida está atrelada à produção, ou seja, a financiamento para construção.
Motivos para acreditar em uma retomada não faltam para a RNI. Em 2020, a empresa mirou em tecnologia para continuar crescendo e passou de aproximadamente 5% das vendas por meio de canais digitais para ultrapassar a metade delas até o fim de 2021.
Como resultado, a companhia registrou vendas líquidas de R$ 560 milhões no último ano, com R$ 178 milhões gerados no quarto trimestre. Nos últimos três meses do ano passado, o lucro líquido foi de R$ 15,1 milhões, aumento de 585% em relação ao mesmo período de 2019.
Estratégias digitais
"Na pandemia, lançamos projetos totalmente digitais e tivemos muito sucesso. A reputação do grupo Rodobens, somada à nossa experiência, fez com que a média mensal de vendas passasse de R$ 28 milhões para R$ 60 milhões a R$ 100 milhões", afirmou Carlos Bianconi, presidente da RNI, à EXAME.
A companhia criada nos anos 1980 como um negócio de infraestrutura voltado à venda de galpões dentro do grupo passou também a atuar na construção de casas e apartamentos ao longo do tempo. Em 2007, a empresa abriu o capital e, em 2014, reformulou a estratégia de negócios, saindo das grandes capitais e passando a atuar no interior.
De lá para cá, o principal negócio da empresa é a venda de casas e apartamentos nas faixas dois e três (as mais altas em termos de renda) do programa Casa Verde e Amarela, antigo Minha Casa, Minha Vida. Com o objetivo de impactar consumidores com renda entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, a empresa encontrou na tecnologia uma forte aliada para continuar crescendo -- dentro e fora do programa habitacional.
Ao mirar para famílias com mais dinheiro do que as de faixas inferiores do programa de habitação, a empresa afirma que consegue mesclar a venda de unidades dentro e fora do programa em um mesmo edifício.
"Para os clientes que estão na faixa três, o subsídio é zero ou quase zero. Ele consegue a ajuda de financiamento, geralmente já tem certo relacionamento no banco. Por isso, avaliamos que havia público para vender dentro e fora do programa e hoje já conseguimos fazer em alguns empreendimentos uma mescla de vender metade das unidades no Casa Verde e Amarela e metade fora".
A ideia, segundo a companhia, é fortalecer o mix de produtos disponibilizado aos clientes -- e desmistificar a ideia de que não é possível vender habitações para o segmento super econômico fora do programa de habitação. Mesmo assim, a ideia não é migrar de faixa de público, mas sim continuar fortalecendo o relacionamento com esse público.
"O público emergente estava desassistido, dentro da faixa em que atuamos. Fazemos um estudo bastante rigoroso nas cidades em que vamos construir e temos obtido sucesso. No ano passado, construímos em Rondonópolis, cidade em que estamos desde 1968 e vendemos 80% do empreendimento em quarenta dias, totalmente voltado ao segmento de renda com que trabalhamos", diz Carlos.
Foco no interior
Longe dos grandes centros urbanos -- onde a competição é mais acirrada, e os terrenos, mais caros -- a RNI direciona sua atuação para seis macrorregiões, sempre com cidades com no mínimo 200 mil habitantes. O direcionamento está relacionado ao plano de explroar no máximo 10% do mercado local disponível e de manter uma sequência de lançamentos em cada local, com um projeto a cada ano.
“É uma estratégia conservadora, que também visa evitar qualquer problema macroeconômico que possa me afetar em uma determinada região. Estamos longe de disputar o mercado de forma ostensiva”, diz Bianconi.
Guiada pelo Agro, um dos setores que mais cresce no país, a empresa atua nas regiões do interior de São Paulo, Campinas e região metropolitana, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Goiânia e Campo Grande. A maior quantidade de terrenos dentro do portólio da empresa está em São Paulo (38%), seguida pela região Sul (30%, somando os três estados) e finalmente com o Centro-Oeste, com 23%.
A empresa aproveita o bom momento e confia na retomada econômica para continuar lançando produtos. Com um aumento de aproximadamente 20% na produtividade da construção durante o segundo trimestre deste ano, a empresa iniciou ainda no trimestre obras nas cidades de Blumenau/SC e em Bady Bassit/SP, o que representa R$ 134 milhões em VGV.
Construção civil mais cara
Mesmo com resultados animadores, a empresa ressalta que teve de se adaptar ao aumento dos preços de insumos necessários à construção civil, principalmente o aço, que teve alta de mais de 150% de 2019 para cá, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
No caso da RNI, o aumento de custos se transformou em exigência de excelência de custos e de projetos -- o que significou estudos mais complexos de eficiência.
Um exemplo disso está em centrais de gás que ficavam mais distantes, e hoje podem ficar mais próximas das torres, economizando conduítes. Ou a reformulação de onde ficam as caixas d'água, sem prejuízos para a rede de abastecimento. O foco é o uso inteligente, que trouxe perda de apenas 1% de margem mesmo em meio à alta de preços.
Juros
Enquanto a alta de preços se constitui em um desafio importante para a RNI, a alta de juros -- especialmente da Selic, que deve sair de um patamar de 2% em 2020 para 7,25% em 2021 -- não se torna um desafio tão grande para a empresa.
"Acho que isso vai modificar um pouco a capacidade financeira de quem compra, sem dúvidas, mas já havíamos feito projeções de venda para os próximos anos considerando juros de 5% a 8%, porque sabíamos que o patamar anterior estava surreal. Mesmo quando a selic estava em dois dígitos, tínhamos alta demanda de vendas, então não acredito que teremos problemas com isso",diz Carlos.
De fato, as previsões para 2021 continuam animadoras. A previsão é de que o segmento cresça 30% nacionalmente. E só no primeiro trimestre de 2021, os financiamentos cresceram 113% em relação ao mesmo período de 2020, segundo informações da Fipe.
Ainda assim, é impossível ignorar o efeito da alta dos juros. Em relação aos fundos imobiliários, Gabriel Teixeira, da Ativa Investimentos, ressalta que investidores podem migrar de investimentos como esses de volta para a renda fixa. "O mercado vai ficar muito mais seletivo na hora de precificar esse tipo de fundo, olhando a qualidade de portfólio, gestão, etc. Não acho que o setor vai passar ileso, mesmo com a alta do IGP-M e IPCA. Devemos observar uma redução desses prêmios nos próximos meses", afirma.