BlackBerry: a fabricante de smartphones em dificuldades empreendeu ontem um plano para arrecadar US$ 1 bilhão em dívida conversível (Ethan Miller/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2013 às 15h16.
Toronto - Os investidores já não se perguntam se a BlackBerry Ltd. ficará sem dinheiro. Para alguns deles, agora a questão é saber quando.
A fabricante de smartphones em dificuldades empreendeu ontem um plano para arrecadar US$ 1 bilhão em dívida conversível após o colapso de um acordo de aquisição de US$ 4,7 bilhões.
Embora o esforço signifique uma injeção de dinheiro na companhia, a medida reavivou a especulação de analistas e investidores de que o dinheiro esteja desaparecendo rapidamente. As ações da BlackBerry despencaram 16 por cento para US$ 6,50, levando seu declínio acumulado no ano para 45 por cento.
O caixa da BlackBerry diminuiu quase US$ 500 milhões no último trimestre – uma taxa de consumo que gastaria a maior parte dos seus US$ 2,6 bilhões em dinheiro e investimentos até o final do ano que vem. A companhia também possui cerca de US$ 2,9 bilhões em compromissos de compra com vencimento dentro de 12 meses, conforme documentos regulatórios.
Os fundos cada vez menores serão uma carga pesada na tentativa de retorno da BlackBerry, afirma John Stephenson, que ajuda a supervisionar aproximadamente US$ 2,8 bilhões de dólares canadenses (US$ 2,69 bilhões) na First Asset Investment Management Inc. em Toronto.
“Será muito difícil reverter isso”, acrescentou Stephenson, cuja empresa possui algumas ações da BlackBerry como parte de fundos negociados em bolsa. “Eles perderam muito espaço”.
John Chen, ex-presidente da Sybase Inc., assumiu ontem a direção da BlackBerry, substituindo o presidente Thorsten Heins. Como parte da reorganização, a Fairfax Financial Holdings Ltd. abandonou o plano de adquirir a companhia, optando em vez disso por se transformar no principal investidor em venda de títulos.
A Fairfax, que já é a principal acionista da fabricante de smartphones, comprará US$ 250 milhões das debêntures, que podem ser convertidas em ações da BlackBerry.
Procurando estabilidade
Chen visa reformular a empresa para que ela possa sobreviver no longo prazo – em vez de prepará-la para uma liquidação. O presidente da Fairfax, Prem Watsa, que voltará ao conselho da BlackBerry após passar três meses tentando conseguir um acordo, espera que o plano de recuperação dê frutos dentro de um ano e meio.
“Assumimos que os próximos três a seis trimestres serão duros”, declarou Watsa em uma entrevista.“Esperamos que o caixa se estabilize em algum momento e depois aumente – e financiamos com dinheiro suficiente para nos dar muito tempo”.
‘Andar rápido’
A BlackBerry precisava agir rapidamente para acompanhar um mercado de smartphones muito competitivo – algo que não aconteceu até agora, opina Jack Ablin, diretor de investimentos do BMO Private Bank em Chicago, que ajuda a supervisionar US$ 66 bilhões em ativos.
“A empresa precisava andar rápido para se manter no negócio e a BlackBerry não estava andando muito rápido”, acrescentou Ablin.
A venda de dívida por US$ 1 bilhão ajudará a manter a companhia funcionando, embora seja difícil precisar por quanto tempo, afirma Alexander Peterc, analista do Exane BNP Paribas em Londres.
Chen, 58, declarou que vê muitos ativos na BlackBerry – o software empresarial, a rede, a carteira de patentes e o aplicativo de mensagens instantâneas – que poderiam ser melhor explorados.
Consultado sobre se fecharia o negócio de celulares, Chen declarou que ele não estava descartando nada.
“Estou mais preocupados em garantir que os nossos negócios sejam saudáveis e cresçam”, disse Chen.
As probabilidades de a BlackBerry acabar com um final feliz são pequenas, disse Stephenson. Ele observa que a companhia está indo pelo mesmo caminho da Palm Inc. Essa companhia não conseguiu se recuperar e foi vendida em 2010 à Hewlett-Packard Co., que descontinuou seus produtos.
“A BlackBerry está se transformando em uma Palm Pilot do Canadá”, opinou Stephenson.