Quem é a Flybe, companhia aérea que quebrou por causa do coronavírus
O coronavírus não foi o único vilão na queda da empresa e o Brexit, valor da libra mais baixo e aumento no preço dos combustíveis impactaram sua operação
Karin Salomão
Publicado em 5 de março de 2020 às 15h00.
Última atualização em 5 de março de 2020 às 17h30.
Com 68 aviões e 2 mil funcionários, a companhia aérea Flybe encerrou hoje, 5, suas operações.A crise da empresa se acelerou com a forte queda da demanda por viagens em função da disseminação do Covid-19, o coronavírus .O colapso da empresa britânica deve afetar profundamente o mercado britânico, já que a aérea operava quase 40% de todos os voos regionais no país.
No site da companhia aérea, há apenas um aviso aos passageiros, afirmando que todos os voos foram cancelados e as vendas foram cessadas imediatamente. A Flybe pede que os passageiros não viajem ao aeroporto se tiverem voos agendados com a companhia e que não conseguirá rearranjar os passageiros em outros voos.
O coronavírus não foi o único vilão. A empresa já estava em dificuldades financeiras, com perdas de cerca de 20 milhões de libras no ano passado, e havia pedido um empréstimo ao governo britânico de 100 milhões de libras para se manter operando, que foi negado.
Ao operar cerca de 40% de todos os voos domésticos no Reino Unido, a aérea estava bastante exposta a qualquer problema no país.
O Brexit e a consequente queda no valor da libra e a redução na demanda de voos também prejudicaram a empresa. O aumento no preço dos combustíveis, que representam cerca de um terço de todos os custos de uma empresa aérea, é outro complicador.
Além disso, a Flybe foi pressionada pelas rivais de baixo custo Ryanair e EasyJet.
A companhia pagava mais imposto que suas rivais. Todos os voos que decolam do Reino Unido precisam pagar uma taxa - o que não se aplica a voos vindo do exterior para o país. Por isso, como a Flybe operava principalmente voos domésticos, pagava o imposto tanto na ida quanto na volta.
Quem é a Flybe
A Flybe é uma empresa britânica com cerca de 68 aviões e 2 mil funcionários. Ela transportava cerca de 8 milhões de passageiros por ano entre 56 aeroportos em 15 países no Reino Unido e na Europa. Tem dois hubs nos aeroportos de Birmingham e Manchester.
A companhia aérea foi fundada há mais de 40 anos, em novembro de 1979 como Jersey European Airways. Era o resultado da fusão de duas empresas menores, a Intra Airways e a Express Air Services.Alguns anos depois, passou por uma nova fusão. Foi comprada pelo grupo Walker Steel Group, também dono da Spacegrand Aviation, que fundiu as duas em 1985.
Nos anos 1990, começou com um plano para se tornar uma gigante na aviação. Chegou a comprar diversos aviões para consolidar sua expansão, mas acabou sofrendo com capacidade alta demais por muitos anos.
A companhia teve ainda outro nome, British European, antes de ser renomeada para Flybe em 2002, com posicionamento de ser uma regional de baixo custo. Quatro anos depois comprou a BA Connect, se tornando a maior empresa regional da Europa. O IPO veio em 2010, na London Stock Exchange.
Os problemas financeiros começaram em 2018, quando as ações da Flybe caíram 75%, após um anúncio da aérea de que o prejuízo para o ano seria de 22 milhões de libras.
Até então a última companhia regional independente da Europa, a empresa foi vendida para a Connect Airways em 2019, controlada pela Virgin Atlantic e Stobart Aviation. O valor da operação foi de 2,2 milhões de libras, além de um aporte de 20 milhões de libras para ajudar a empresa a continuar operar.
O valor não foi suficiente e, em janeiro deste ano, a empresa voltou a ter dificuldades.Na ocasião, operava 36% de todos os voos domésticos do Reino Unidos, transportando 26% dos passageiros domésticos.
Crises no Reino Unido e globais, como o Brexit e a epidemia do coronavírus impactaram todas as companhias aéreas. No entanto, com uma estrutura já mais abalada, a Flybe não viu outra saída, a não ser encerrar as operações.