"Preciso de 500 milhões de euros para salvar o Barcelona", diz executivo do clube
A crise sem fim de um dos maiores clubes do mundo mostra que as derrocadas também são impressionantes no esporte
Lucas Amorim
Publicado em 9 de junho de 2022 às 12h59.
Última atualização em 9 de junho de 2022 às 14h32.
O esporte segue uma bilionária máquina de negócios. Nesta quarta-feira, o Denver Broncos, um dos mais tradicionais times de futebol americano, foi vendido para um grupo de investidores liderado por Rob Walton, herdeiro do Walmart, por 4,65 bilhões de dólares. É um dos maiores negócios da história.
Semana passada, o Milan, atual campeão italiano de futebol, foi vendido para o fundo americano RedBird Capital Partners por 1,2 bilhão de euros. Quinze dias atrás, foi aprovada a venda de outro tradicional clube de futebol, o inglês Chelsea, para o consórcio Boehly-Clearlake, por 5,3 bilhões de dólares.
Tudo isso em meio a um período turbulento para a economia global, com alta dos juros, quedas nas bolsas e ameaça de recessão a caminho. No Brasil, os negócios esportivos também estão em alta, com investimentos recentes no Cruzeiro, no Botafogo e a possível conclusão de um negócio com o Vasco. São exemplos de que os clubes esportivos são negócios cada vez mais atraentes. Mas há um outro lado, materializado na Catalunha.
O Barcelona , um dos clubes mais conhecidos do planeta, virou um ralo de dinheiro como poucas vezes se viu na história do esporte. Em entrevista ao jornal espanhol Sport, o vice-presidente de finanças do clube, Eduard Romeu, afirmou que precisa de 500 milhões de euros para "salvar" o Barça.
"Como já disse antes, se alguém quiser me dar 500 milhões de euros... É o que preciso para salvar o Barça", afirmou, em reportagem replicada também pelo site The Athletic, referência em negócios do esporte. "Você pode adicionar 150 milhões de euros em perdas nesta temporada se nós não fizermos nada".
O Barcelona acumula dívidas de mais de 1 bilhão de euros, agravadas pela queda de receita provocada pela pandemia da covid-19, que reduziu faturamento com ingressos. O clube espanhol virou um case de má gestão financeira porque, basicamente, gastou muito mais do que podia.
Nos últimos anos, pagou 105 milhões de euros no francês Dembelé; 120 milhões de euros em outro francês, Griezman; 160 milhões de euros no brasileiro Philippe Coutinho. Além disso, o jornal espanhol El Mundo revelou que o argentino Lionel Messi recebia mais de 75 milhões de euros por temporada -- era o dobro do que recebia Cristiano Ronaldo, português que por uma década divide com o argentino os prêmios de melhor jogador do mundo.
Manter sua maior estrela e formar um time competitivo com contratações expressivas ficou impossível. Ano passado, o Barcelon abriu mão de Messi, que assinou com o Paris Saint Germain. Estrelas como Piqué, Alba e Busquets aceitaram redução nos seus rendimentos para continuar no Barça.
A crise financeira deve impactar os rendimentos esportivos do time nos próximos anos. Na Europa, os clubes precisam adequar os gastos às receitas, mecanismo chamado Fair Play Financeiro. Isso impediria, na teoria, que mecenas turbinassem o caixa dos clubes e reduzissem a competitividade das ligas.
O Barcelona foi forçado a reduzir sua folha salarial de 670 milhões para 380 milhões de euros ao ano. O liga espanhola também tenta cacifar seus negócios com um aporte do fundo CVC Capital Partners. Mas o negócio foi negado pelos dois maiores clubes do país, o Barcelona e o Real Madrid. "É um negócio ruim", afirmou Romeu.
Enquanto o Barça sofre no balanço e em campo -- foi eliminado na Liga Europa pelo modesto Eintracht Frankfurt -- o Real Madrid conquistou este ano a Liga dos Campeões da Europa pela décima quarta vez. Ao contrário do rival, o Real Madrid não fez super contratações recentes e tem apostado numa mescla de veteranos com muito tempo de casa com jovens promessas, como o brasileiro Vinícius Júnior.
Recentemente, perdeu leilões por estrelas como o francês Mbappé ou o norueguês Haaland. Sinal de austeridade? Nem tanto: no fim de maio, o clube anunciou a contratação do francês Tchouaméni, por 80 milhões de euros.
No bilionário mercado do esporte, austeridade não é uma opção. Mas vale para o Barcelona a mesma regra de qualquer negócio: a conta tem que fechar.