Por que o sucesso da Minizinha virou um problema para a PagSeguro
Nova maquininha fez resultados ficarem abaixo do previsto por analistas do banco BTG Pactual. Objetivo agora é ir além da corrida maluca por mais clientes
Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2018 às 12h52.
Última atualização em 30 de maio de 2018 às 14h27.
Para uma empresa acostumada a dar notícias espetaculares a seus investidores, a processadora de pagamentos PagSeguro vive um momento atípico: suas ações chegaram a cair 6% na manhã desta sexta-feira depois de um balanço trimestral avaliado como aquém das expectativas. Aquém para os padrões estelares da PagSeguro, é bom que se diga.
Depois de uma conferência com analistas às 11h, os executivos conseguiram aplacar parte das preocupações e as ações se recuperaram, para chegar a uma alta de 1% perto das 13h. Ainda assim, as dúvidas sobre a companhia sinalizam que há algo de novo na estrada da PagSeguro e, por consequência, no mercado de meio de pagamentos.
O lucro líquido foi de 224 milhões de reais, 19% acima do trimestre anterior e 270% acima do mesmo período do ano passado — um resultado 22% melhor que o previsto pela mediana dos analistas. O volume total de pagamentos nas maquininhas da companhia chegou a 14,4 bilhões de reais, 138,7% acima do mesmo período de 2017, com faturamento de 855 milhões de reais, 7% acima do previsto pelo mercado. O número de comerciantes ativos utilizando as maquininhas chegou a 3,1 milhões, 83% acima do início do ano passado.
Como esses números levam a um golpe de 6% na bolsa? A explicação não está na conquista de clientes, mas no perfil de clientes que entra na plataforma, e na competição ferrenha por clientes antigos. Segundo relatório do Banco BTG Pactual, as transações feitas por comerciantes ativos ficaram abaixo das expectativas, o que fez o faturamento total e as receitas financeiras ficarem 5,4% abaixo da previsão. A receita líquida das vendas também ficou 9% abaixo das estimativas do banco, encolhendo 21% em relação ao mesmo período de 2017, o que, segundo o BTG, “confirma que o pico foi alcançado no terceiro trimestre de 2017”.
A PagSeguro puxou a fila de um setor que ganha novos competidores a cada dia, permitindo que um número recorde de comerciantes e profissionais utilizem maquininhas de pagamento até então inatingíveis. Isso ninguém tira da companhia, que revolucionou um setor e foi recompensada pelo mercado por isso. Fez uma abertura de capital bem sucedida nos Estados Unidos e chegou a valer 37 bilhões de reais, 83% da líder absoluta do setor, a Cielo (que tem volumes 11 vezes maiores).
O problema é que a PagSeguro e sua estratégia super agressiva de marketing e de lançamento de novos produtos mostrou que as barreiras de entrada neste setor são pequenas, e que há muito a fazer num mercado acostumado com margens de até 50%. De repente dezenas de companhias acordaram para a oportunidade de oferecer meios de pagamento a micro-empreendedores, do Banco Safra a novatas como a Stone.
Para manter seu ritmo de crescimento, a empresa lançou com estardalhaço, em março, uma nova versão da Minizinha, que não demanda celular acoplado e com as tradicionais taxas camaradas para os lojistas. Os clientes da Minizinha não pagam taxas nos primeiros 90 dias de operação ou para vendas abaixo de 1.500 reais, o que também afeta os resultados no curto prazo em detrimento de um crescimento robusto.
“Embora muito bem posicionada graças à vantagem do pioneirismo e a sua oferta vencedora, a PagSeguro terá que continuar se reinventando para mostrar que é mais que apenas um adquirente”, diz o BTG. O objetivo da companhia é se estabelecer como um ecossistema que incluirá pagamentos digitais e concorrerá ainda mais com os bancos. O BTG cogita até que a companhia pode vir a comprar um banco no curto prazo para começar a ofertar crédito a seus clientes.
As opções estão na mesa e podem fazer a PagSeguro dar novos saltos no futuro. Mas, enquanto elas não se tornam realidade, a companhia continuará dependendo da Minizinha, da Moderninha e de uma corrida maluca por clientes. A julgar pela manhã desta quarta-feira, o ceticismo dos investidores está maior do que nunca.