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Por que a RedeTV! está em crise – e o que ainda pode piorar

Em meio a atraso de salários, emissora pode perder uma das principais atrações remanescentes – a mulher do dono

Luciana Gimenez: apresentadora negocia a saída da RedeTV! para fechar com a Band (Rafael Cusato/Contigo/Divulgação)

Luciana Gimenez: apresentadora negocia a saída da RedeTV! para fechar com a Band (Rafael Cusato/Contigo/Divulgação)

Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 28 de fevereiro de 2012 às 17h39.

São Paulo – A perda do programa humorístico Pânico na TV!, anunciada nesta quinta-feira, é o resultado mais claro (até agora) da crise financeira atravessada há tempos pela RedeTV!, garantem funcionários da companhia. De acordo com eles, a maneira como a empresa vinha cuidando das contas e lidando com os colaboradores já não tinha graça há tempo.

A emissora perdeu o programa depois de ter atrasado quatro meses de salário de todos os participantes, inclusive da apresentadora Sabrina Sato, dona de um dos três salários mais altos da RedeTV! e estimado em cerca de 150.000 reais mensais. O atraso de pagamento era o mesmo sofrido pelos demais apresentadores e produtores dos programas feitos pela emissora.

“Os demais funcionários vem recebendo salários atrasados e divididos em porcentagem desde setembro”, afirmou um produtor da emissora. “Cerca de 20% do quadro de funcionários já foi reduzido, porque as pessoas cansaram de trabalhar sem receber.”

O esquema de atraso de salário atingiu até a apresentadora Luciana Gimenez, mulher de um dos sócios da emissora. Depois de sua situação se tornar conhecida no mercado, Luciana foi sondada para assinar contrato com as concorrentes Band (a nova casa do Pânico na TV!) e Record. “A Gimenez está prestes a assinar com a Band, o que seria um grande baque para a emissora”, disse uma pessoa próxima da apresentadora. A informação foi checada por EXAME.com com mais duas fontes a par da situação.

Procurada, a emissora não deu nenhuma posição até a publicação desta matéria.

Mais crise

Uma eventual saída de Luciana Gimenez seria mais um duro golpe na situação da Rede TV!. Isto porque, segundo estimativas do mercado, o programa SuperPop!, comandado por ela, representaria quase 30% do faturamento da emissora. O humorístico Pânico na TV!, programa com maior audiência do canal, com picos de 15 a 16 pontos, equivaleria a 40%.

“Sem os dois, a RedeTV! teria um faturamento inviável, já que há anos a emissora tem uma infraestrutura precária”, disse uma ex-funcionária da empresa. Segundo ela, ambientes sem café, nem água e equipamentos insuficientes são cenários habituais nos bastidores.


Dívida trabalhista

No ar desde novembro de 1999, a RedeTV! foi criada pelos empresários Amilcare Dallevo Junior, marido da apresentadora Daniela Albuquerque, e Marcelo de Carvalho, marido de Luciana Gimenez. Os dois compraram as cinco concessões da extinta Rede Manchete (há boatos de que hoje Amilcare, sócio majoritário, negocia a compra das ações do sócio).

Além do direito de transmissão, os sócios também levaram para casa os passivos trabalhistas da antiga emissora, estimados em 100 milhões de reais – há anos a empresa lutava na Justiça para não ser responsabilizada pelo pagamento do FGTS de funcionários da emissora adquirida.

Porém, segundo nota da coluna de Lauro Jardim, uma decisão judicial publicada em 25 de janeiro determinou que a responsabilidade seria sim da RedeTV! e o pagamento deveria ser depositado em no máximo dez dias “sob pena de bloqueio de contas bancárias ou diretamente junto aos anunciantes”. Em resposta, a emissora afirmou que uma decisão judicial já transitada no STJ é capaz de reverter esta e outras decisões recentes que a coloca como sucessora de débitos da Manchete.

Gestão questionável

A maneira de gerir a emissora é também apontada como pouco profissional pelas fontes. De acordo com elas, os dois sócios não tem um pró-labore fixo, já que acabam retirando recursos do caixa da emissora de acordo com suas necessidades pessoais.

Além disso, a grande maioria dos profissionais da casa que recebem mais de 8.000 reais de salário é pago como pessoa jurídica, prestadores de serviço. “Algumas dessas pessoas eram registradas e foram coagidas a pedir demissão para entrarem no sistema de pessoa jurídica”, afirma uma ex-funcionária. “Os que recebem menos que isso ainda tem registro em carteira, mas a emissora não deposita o FGTS deles, nem paga o proporcional a férias.”

A transgressão dos bastidores da emissora para a imprensa nos últimos dias incluem reclamações públicas de funcionários e notas em veículo de celebridade. Um dos exemplos é o da apresentadora Rita Lisauskas. Em dezembro ela escreveu em seu Facebook: “Queria só entender como tem "empresário" que consegue colocar a cabeça no travesseiro e dormir, sabendo que há centenas de profissionais sem salário há no mínimo dois meses bem na semana do Natal”. Como a emissora respondeu? Demitiu a profissional na mesma tarde. 

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