Por dentro da Ace, uma das maiores aceleradoras da América Latina
A ACE já foi três vezes eleita a melhor aceleradora da América Latina e já acelerou 300 startups
Karin Salomão
Publicado em 18 de junho de 2019 às 06h00.
Última atualização em 3 de julho de 2020 às 08h45.
Ao pensar em escritórios de startups e empresas do setor, a primeira imagem que vem à mente são espaços com mesa de pingue-pongue, videogames e escorregador. Não é o caso da ACE, uma das maiores aceleradoras da América Latina. Por concentrar, no mesmo espaço, startups e grandes clientes corporativos, tem um ambiente mais sério e maduro, com cores sóbrias e muito uso de madeira.
Até existe uma sala de jogos, mas a decoração é discreta. A decoração é um reflexo da vontade da Ace de ser uma ponte entre startups e grandes empresas. “Ao chamar diretores de grandes empresas para reuniões, precisamos pensar no conforto do escritório”, diz Arthur Garutti, sócio da ACE. “Saímos da imagem de startups criadas na garagem”. As cores usadas são sóbrias e as cadeiras das salas de reunião são estofadas e mais confortáveis, de olho nesses encontros.
No início da história da aceleradora, o contato entre startups e grandes empresas tinha mais atrito e choque de cultura. Se de um lado os empreendedores queriam criar negócios disruptivos, sem tanto planejamento, as grandes empresas prezavam mais pela manutenção de sua posição.
Hoje, as companhias já entenderam que é preciso inovar rapidamente para não serem engolidas pelas inovações cada vez mais rápidas. As startups no Brasil também estão mais maduras hoje do que há cinco anos, quando a ACE foi criada, assim como os empreendedores, hoje com uma idade média de 35 anos. “Muitas já falharam e quebraram a cara. O ambiente de startups no Brasil amadureceu”, afirma Arthur Garutti, sócio da ACE.
O valor das startups também está aumentando. Apenas no último mês, Gympass e Loggi se tornaram unicórnios, ou seja, foram avaliadas em 1 bilhão de dólares.
A ACE é uma das 41 aceleradoras do país e já foi três vezes eleita a melhor aceleradora da América Latina. Busca, entre as mais de 12 mil startups no Brasil, as mais promissoras em programas de aceleração.
Novo escritório
Sob o nome de Aceleratech, a companhia foi fundada em 2012 por Pedro Waengertner e Mike Ajnsztajn, dois empreendedores seriais, foi a primeira aceleradora de startups do Brasil com o apoio de uma instituição de ensino, a ESPM. Em 2016, a companhia adotou o nome ACE e se mudou para a região da Paulista.
O mais novo escritório fica no bairro da Liberdade, em São Paulo, próximo aos dois locais anteriores. A mudança ocorreu em outubro do ano passado, depois de meses de procura pelo lugar perfeito. A companhia ainda tem escritórios em Florianópolis, Goiânia e Brasília.
Para definir como seria o novo ambiente, a ACE consultou a comunidade ao seu redor. Cerca de 30% dos funcionários participaram de reuniões de sugestões e o projeto foi entregue para a Decorati, startup acelerada pela companhia.
Era o primeiro grande projeto corporativo da startup, com uma dificuldade adicional: a ACE queria fazer a mudança em 60 dias. Em dois meses, a empresa precisava reformar o novo espaço, comprar móveis, instalar televisões e telefones e decorar todo o espaço. “Foi uma maneira de colocar o produto da Decorati à prova”, diz Garutti. E a empresa passou no teste: entregou o novo escritório em apenas 53 dias.
Atravessando todos os pisos do escritório, uma escultura de árvore de madeira simboliza a força da rede de empreendedores e investidores que a ACE incentivar. Segundo o executivo, a obra representa os frutos gerados pela companhia e cada um dos andares é voltado para um público diferente atendido pela companhia.
A copa da árvore fica no último andar do escritório, onde estão todas as salas de reunião e auditórios. Já as raízes nascem no primeiro piso, onde fica toda a equipe da aceleradora, de quase 50 funcionários.
Também é o lugar onde eles podem relaxar, com um espaço de alimentação. A lanchonete é chamada de Zuppa Pub, em homenagem à primeira startup criada em conjunto pelos fundadores da ACE, de reserva de restaurantes, e que mais tarde foi vendida para o Peixe Urbano.
Há também um andar apenas para clientes e outro para startups. Segundo a empresa, a integração facilita o trabalho, aproximando colaboradores, líderes, clientes e empresários em um só local. bem organizado e descontraído, sem deixar a seriedade e profissionalismo de lado.
Startups
A ACE investe no começo das startups, no chamado “early stage”, antes da série A de investimentos. Mas o dinheiro aportado não é a única ajuda que ela oferece. Com seu projeto de aceleração, consegue colocar os empreendedores em contato com grandes companhias, especialistas globais e uma rede completa de apoio. São mais de 150 mentores ativos e centenas de co-investimentos realizados com anjos e VCs.
Assim, diz Garutti, as startups conseguem se desenvolver melhor. Enquanto cerca de 80% das startups brasileiras andam de lado ou morrem em um ano, a taxa das empresas que passam pela ACE é de 30%.
A companhia já acelerou 300 startups, investiu em 100 e teve 13 exits, ou seja, vendas de startups para recuperar o valor investido. Alguns exemplos são a Love Mondays, vendida para a Glassdoor e a Hiper, para a Linx.
Inovação
A ACE também busca ser reconhecida como mais que uma aceleradora. “Somos uma empresa de inovação”, diz Garutti.
Ela é a única fomentadora nacional de negócios inovadores a ser selecionada como parceira do Google Developers Launchpad. O programa, da gigante de tecnologia Google, busca ajudar startups a construírem e escalarem suas soluções em ecossistemas distantes do Vale do Silício, o berço do Google, mas ainda assim com grande potencial – como o Brasil.
A companhia realiza, desde 2014, consultorias para grandes empresas para a criação de programas de aceleração ou parcerias com startups. Atualmente, ela tem 30 “squads”, ou times de trabalho, alocados em grandes empresas para ajudá-las a desenvolver projetos mais ágeis e inovadores.
Há um ano, essa divisão está mais forte. A empresa captou 5 milhões de investimento de um fundo e lançou a Ace Córtex em fevereiro de 2018, voltada para projetos corporativos.
Um dos exemplos foi o trabalho que a Ace Córtex realizou com a empresa de previdência privada BrasilPrev. Em cinco meses, os executivos da BrasilPrev apresentaram oito projetos de novos produtos, segundo a Você SA.
Hoje, já são 33 clientes corporativos, entre eles gigantes como Basf e Natura. Com isso, o grupo, que atualmente emprega quase 50 pessoas, pretende aumentar esse número para 100 até o fim do ano.
Com o fortalecimento desses negócios e um novo escritório, a ACE está acelerando seu próprio crescimento.