Playcenter, Terra Encantada, Cidade da Criança: como estão os famosos parques de diversões do Brasil
Especulações sobre parque da Disney no Brasil reacenderam a nostalgia das pessoas sobre os principais parques do país; a EXAME te conta o que aconteceu com oito deles
Repórter de Negócios
Publicado em 27 de janeiro de 2024 às 08h00.
Última atualização em 3 de junho de 2024 às 10h43.
Na última semana, rumores de que a Disney iria construir um parque temático em São Paulo tomaram as redes sociais. Para os fãs, indícios como uma convenção da empresa na cidade e investimentos no distrito turístico Serra Azul corroboraram para a teoria de um parque em terras paulistas.
A informação foi negada pela Disney, que disse à EXAME não ter planos para construir parques na América Latina no momento.
Os rumores, porém, foram suficientes para reacender nos leitores memórias sobre os parques de diversões que bombavam no Brasil na década de 1990 e 2000 - alguns deles, já fechados. Outros, como Beto Carrero World e Hopi Hari, funcionam até hoje.
A EXAME resolveu embarcar no túnel do tempo dessa época, quando os Tamagotchis eram a sensação e a discagem da internet começa a se tornar a mais moderna das tecnologias, para recordar os parques de diversão brasileiros que proporcionaram aventuras inesquecíveis a gerações que hoje sentem saudades dessa época mágica até hoje.
Entre risos, brinquedos radicais e personagens animados, oito destinos se destacavam no cenário nacional, transportando crianças e adultos para um universo encantado. A EXAME te conta agora o que aconteceu com cada um deles. Aperte os cintos.
Playcenter
Um dos primeiros grandes parques de São Paulo, o Playcenter foi inaugurado em 1973, inspirado nas grandes operações de diversão dos Estados Unidos e da Europa. O responsável pela história do Playcenter é o engenheiro Marcelo Gutglas, que no final da década de 1960 trazia para o Brasil os fliperamas, inspirado por visitas a um parque de diversões em Nápoles, na Itália.
Do dia da sua inauguração, até o seu fechamento em 29 de julho de 2012, o Parque contabilizou a visita de mais de 60 milhões de pessoas. Muitas delas iam de excursões que partiam de várias regiões, cidades vizinhas e até outros Estados.
No início de sua história, o mix de atrações era composto por atrações mais simples. Com o passar dos anos, as atrações tecnológicas foram chegando. O Playcenter chegou e ter grandes sucessos como:
- Monga
- Montanha Encantada
- Colossus
- Roda Panorâmica
- Maria Fumaça
- Sombras Mágicas
- “Castelo Mal Assombrado
- La Bamba
Um dos grandes eventos da empresa eram as “Noites do Terror”. Elas começaram em 1988 e se tornaram um grande sucesso, permanecendo no calendário fixo de eventos do Playcenter até o seu último ano de funcionamento.
A crise no parque começou em 1995. Naquele ano, um acidente num dos brinquedos sacudiu a reputação da empresa. Com isso, Gutglas vendeu parte das ações do parque para a GP Investimentos, que criou futuramente o Hopi Hari. Em 2002, Gutglas retomou o controle do Playcenter e iniciou uma reestruturação, que incluiu uma reforma completa no parque em 2005.
Em 2010, 15 pessoas ficaram feridas no acidente envolvendo dois carros da montanha-russa Looping Star. Em outro acidente, desta vez no Double Shock, algumas pessoas ficaram feridas em 2011.
Além disso, a localização também impactou no fim do parque. Inicialmente concebido em uma área industrial, sem muitos vizinhos, o Playcenter com o passar dos anos foi “engolido” pela cidade, que passou a não mais comportar um parque daquele porte em área urbana. O antigo terreno onde funcionou o Playcenter atualmente abriga prédios comerciais, um residencial, empresas e estacionamentos. Já alguns brinquedos foram parar em outros parques de diversão.
Hoje, a Playcenter tem outras operações de diversões, principalmente em shoppings centers com os nomes Playland.
Cidade da Criança
Aberto em outubro de 1968, o Cidade da Criança é considerado o primeiro parque temático do Brasil. Ele fica em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, atrás dos antigos estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Durante os anos de 1970 e 1980, foi considerado quase como o cartão-postal da cidade, aliás.
Numa área de 38.000 metros quadrados, ele teve cerca de 35 brinquedos - alguns deles no imaginário das pessoas até hoje em dia, como o tobogã e o teleférico. No local também tinha uma réplica de um avião e de um submarino. Já na década de 1990, sofrendo pela concorrência, começou a perder força. Foi fechado em 2005 pela prefeitura da cidade por falta de manutenção dos equipamentos.
Cinco anos depois, foi reaberto. Depois, chegou a fechar durante a pandemia, mas voltou a operar - e funciona até hoje, com cerca de 40 atrações, entre elas:
- Kamikaze
- Spinning Coaster
- Auto-pista
- Trenó aquático
- Túnel do terror
Terra Encantada
Um dos maiores parques temáticos do Brasil, o Terra Encantada ocupava uma área de 200.000 metros quadrados na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A ideia do projeto era ser, mesmo, uma “Disney no Rio”. Não à toa, praticamente todo carioca durante o início dos 2000 esteve presente, ou quis estar lá.
O espaço era temático e baseado em personagens e festivais da cultura brasileira e suas origens, como as culturas indígenas, africanas e europeias. Entre os brinquedos mais famosos estavam o Cabhum e a montanha-russa Monte Makaya.
Apesar da reputação alta e de filas nas atrações, o investimento milionário para abertura do parque, de 220 milhões de dólares, demorou para retornar. No ano seguinte à inauguração, a empresa já entrou em concordata (antiga recuperação judicial) com dívidas de 150 milhões de reais.
Mesmo assim, o parque funcionou no Rio por 12 anos. A operação fechou em 2010, depois de uma mulher cair da montanha-russa e morrer. Na sequência, a Defesa Civil municipal interditou totalmente o parque Terra Encantada, na Barra da Tijuca. De acordo com notícias da época, foram encontradas irregularidades em todos os brinquedos. Depois, a ideia foi fazer um bairro na região, mas até hoje, o terreno está abandonado.
Parque da Mônica
Uma dos primeiros parques temáticos de personagens do país, o Parque da Mônica funcionou por 17 anos no shopping Eldorado, em São Paulo. Idealizado por Maurício de Sousa em 1993, ele operou no mesmo local até 2010, quando encerrou as atividades por causa de divergências contratuais com os administradores do shopping. Havia também dívidas desde a época da inauguração, quando o investimento para construção da atração foi de 10 milhões de dólares. O parque ocupava uma área interna de 10.000 metros quadrados divididos em três pisos.
Em 2015, cerca de cinco anos depois do seu fechamento, o Parque da Mônica voltou, em novo endereço - onde está até hoje. Ele assumiu o espaço que era do Parque da Xuxa no shopping SP Market. Hoje, o local tem cerca de 20 atrações numa área de 12.000 metros quadrados.
O Mundo da Xuxa
Um pouco depois da década de 1990, quem também ganhou um parque para chamar de seu foi a apresentadora Xuxa. O local escolhido foi o espaço de diversão do shopping SP Market, onde antes funcionava o Parque do Gugu. Com 12.000 metros quadrados de área, a atração tinha cerca de 21 brinquedos, alguns reutilizados do parque anterior. Havia, por exemplo, o Simulador X, que tinha logo na entrada uma esfinge com o rosto de Xuxa. Também tinha uma montanha-russa com um castelo no percurso. O parque fechou em 28 de fevereiro de 2015. À época do fechamento, segundo a nota divulgada no site do parque de diversões da Xuxa, o local teria que passar por novos investimentos em atrações e no seu layout para atender a necessidade de expansão do centro comercial paulistano. Por isso, a Xuxa Produções, empresa responsável pelo parque, decidiu fechar o centro de entretenimento e focar na rede de salões de festas infantis “Casa X”.
Parque do Gugu
Antes da Xuxa, outro apresentador ocupava o espaço da área de diversão do SP Market: Gugu Liberato. Ele manteve a atração de junho de 1997 a 2002. Depois, decidiu focar em outros negócios e não renovou o contrato com a cessão do nome. Foi quando a Xuxa assumiu o espaço. Aliás, alguns brinquedos se mantiveram da época do Gugu. Eram 17 atrações, entre elas a montanha-russa e um simulador de asa-delta.
Hopi Hari
Inaugurado em 1999, o local atingiu o ápice entre 2010 e 2011, quando registrou recordes de público e faturamento. Inicialmente concebido como Playcenter Great Adventure, pelo Grupo Playcenter, o projeto foi vendido durante a construção para a GP Investimentos. A nova dona fez algumas alterações, incluindo o nome, que ficou Hopi Hari.
O parque foi idealizado como um país fictício, com hino, bandeira, povo e idioma próprios. A escolha do local levou em conta sua proximidade com São Paulo e Campinas. O investimento para a construção foi de cerca de 200 milhões de dólares. O objetivo inicial era replicar o sucesso do Magic Kingdom da Walt Disney na Flórida e atrair parte dos 300.000 brasileiros que viajavam anualmente para os parques do Mickey.
O retorno do investimento, porém, penou a acontecer. A expectativa da empresa era faturar 200 milhões de reais anualmente, o que nunca aconteceu. No pico do sucesso, bateu receitas de 70 milhões anuais. A dívida, porém, era bem maior: de 500 milhões de reais, o que impediu investimentos adicionais e a venda direta do parque. Os proprietários transferiram a gestão para a consultoria Íntegra, que adquiriu o Hopi Hari por 1 centavo de real por cada lote de 100.000 ações, assumindo 180 milhões de reais em dívidas.
Sob nova gestão, houve novos investimentos e uma parceria com a Warner Bros. por 100 milhões de reais. Atrações conhecidas, como a Infantasia e Aribabiba foram reformulados com personagens como Looney Tunes e Liga da Justiça. Durante a década de 2010, porém, problemas de reputação e de segurança, somados à crise econômica abalaram a estrutura financeira do Hopi Hari. Em 2016, a empresa entrou em recuperação judicial. Desde então, vem numa toada de reestruturação. Em 2022, faturou R$ 141 milhões, com lucro de R$ 84,5 milhões. Na ocasião, o presidente Alexandre Rodrigues destacou a volta da credibilidade do grupo, a criação de novas fontes de receita e o pagamento de funcionários e fornecedores em dia. "Retomamos parcerias com grandes marcas, como FEMSA Coca-Cola, Sherwin Williams e Chilli Beans e captamos novos parceiros como a Cervejaria Germânia, Gela Boca e Burigotto. Ter de volta estas marcas conosco e atrair novas marcas mostra que, não só a imagem do Hopi Hari voltou a ser vista com credibilidade, assim como a responsabilidade administrativa e financeira”, diz Rodrigues.
Beto Carrero World
Saindo do Sudeste e indo para o Sul do país, outro parque de sucesso é o Beto Carrero World. Conisderado o maior parque da América Latina, o espaço foi inaugurado no dia 28 de dezembro de 1991, pelo seu idealizador João Batista Sérgio Murad, artisticamente conhecido como Beto Carrero. O parque está implantado em uma propriedade com 14 quilômetros quadrados na cidade de Penha, em Santa Catarina. Atualmente, são cerca de 100 atrações divididas em áreas temáticas como:
- Avenida das Nações
- Mundo Animal
- Vila Germânica
- Triplikland
- Cowboyland
- Ilha dos Piratas
- Aventura Radical
- Hot Wheels
- Madagascar
- Terra da Fantasia
- Nerf Mania
Hoje, a quem cruze o país para visitar o Beto Carrero World. Entre 2018 e 2019, houve conversas de que o parque seria vendido para um grupo envolvendo a rede de hamburgueria Madero e a rede de chocolates Cacau Show. Na ocasião, chegou a se noticiar que o parque estaria sendo negociado a 1 bilhão de reais. Mas a venda não aconteceu e até hoje o complexo turístico é administrado pela família do fundador.