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Perdigão considera oferta da Sadia "abaixo do valor" de mercado

Diretoria executiva da empresa afirma que papéis estavam subavaliados pela Bolsa nos últimos meses e influenciaram negativamente cálculos da Sadia

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.

A primeira manifestação pública da Perdigão sobre a oferta de compra encaminhada pela Sadia não foi, propriamente, animadora. A diretoria executiva da empresa, encabeçada pelo presidente Nildemar Secches, considerou a proposta aquém das expectativas do próprio mercado. A Sadia se dispôs a pagar 27,88 reais por ação da Perdigão, mas Secches afirma que há relatórios de analistas de mercado que apontam um potencial de valorização para dezembro muito superior à cifra. "O que saltou aos olhos, nesse instante, foi o valor abaixo do esperado pelos acionistas", disse Secches durante encontro com jornalistas nesta segunda-feira (17/7).

O executivo não forneceu o valor considerado justo pelos maiores acionistas da Perdigão, mas citou relatórios de corretoras e bancos, pelos quais as ações podem subir bastante até o final do ano. A Bradesco Corretora, por exemplo, projeta um preço-alvo de 31,50 reais por papel. A análise não considera o impacto da recente compra da Batávia pela Perdigão. Já o documento do Santander, que já incorpora essa aquisição, eleva o preço-alvo para 37 reais.

Apesar de a oferta se basear em um valor menor que o preço-alvo das análises, o mercado reagiu bem à proposta. As ações da Perdigão, que desde o início do ano integra o Novo Mercado da Bovespa, fecharam com alta de 17,86%, cotadas a 27,11 reais por papel. Já as ações preferenciais da Sadia encerraram o dia com valorização de 8,07%, a 6,11 reais por ação.

Na manhã de hoje, em outra entrevista coletiva, o presidente do Conselho de Administração da Sadia, Walter Fontana Filho, ressaltou que a proposta baseia-se nos critérios estabelecidos pelo próprio estatuto da Perdigão. Quando aderiu ao Novo Mercado, no início do ano, a Perdigão reestruturou sua administração e estabeleceu novos critérios de governança corporativa. Seu estatuto determinou requisitos para que uma oferta pública de aquisição fosse aceita. Entre eles, estava a definição do valor a ser pago pelos papéis. O preço deveria ser o maior de três formas de cálculo: a) o da última emissão pública de papéis da Perdigão; b) o do último dia de negociação; c) a média da cotação dos papéis nos últimos 30 dias. Segundo a Sadia, prevaleceu este último critério, ao qual a empresa acrescentou ainda um prêmio de 35%.

Para Secches, há vários pontos que precisam ser analisados, antes de uma decisão. O primeiro é que, embora o critério tenha sido atendido, as ações da Perdigão estavam desvalorizadas por diversos motivos, como o impacto da crise aviária sobre as exportações e o surgimento de um foco da doença de Newcastle no Rio Grande do Sul.

Próximos passos

A segunda dúvida da Perdigão é jurídica. O estatuto da empresa prevê que, quando qualquer acionista atingir o teto de 20% das ações, deverá realizar uma oferta pública de compra dos papéis dos demais investidores. Nesse caso, a diretoria executiva deverá encomendar um laudo técnico em que avalie as condições da oferta, como o preço. Esse laudo deverá ser encaminhado ao Conselho de Administração, que se manifestará no sentido de orientar os demais acionistas a acatar ou não a oferta. O problema é que a Sadia não faz parte do quadro societário da empresa e já pretende comprar, numa só tacada, todos os papéis da Perdigão. "A dúvida é se, neste caso, é necessária a elaboração do laudo técnico".

Essa decisão deve ser tomada pela diretoria jurídica da empresa nos próximos dias. Em caso positivo, um processo paralelo terá início - o da avaliação da proposta pelos acionistas da Perdigão. Com o parecer jurídico em mãos, a diretoria executiva deverá pedir uma avaliação externa das condições de venda da Perdigão. Essa requisição, no entanto, precisa ser previamente aprovada pelo Conselho de Administração e pela assembléia de acionistas. Somente após essas autorizações, a diretoria poderá contratar um auditor externo para checar as condições ideais para que a Perdigão seja vendida. Este auditor, então, determinará se o preço ofertado pela Sadia é justo. Seu relatório servirá de base para a decisão dos acionistas de acatar ou não a proposta.

Na prática, tudo isso pode atropelar o prazo-limite da oferta lançada pela Sadia. Em fato relevante publicado nesta segunda-feira, a companhia afirma que a proposta é válida apenas até o dia 24 de outubro. Caso não haja a adesão, até esta data, de investidores que totalizem 50% mais um dos papéis, a proposta será retirada. "Foi uma oferta unilateral. Não temos por que cumprir os prazos dados pela Sadia. Vamos trabalhar no sentido de oferecer a melhor assessoria aos nossos acionistas", afirma Secches.

Decisão estratégica

Pela manhã, Fontana Filho, da Sadia, ressaltou que a união das duas empresas criaria uma potência do setor de alimentos, capaz de concorrer ombro-a-ombro com os rivais estrangeiros que disputam espaço no Brasil e no exterior. Secches, da Perdigão, porém, evitou opinar sobre a pertinência da fusão, mas reconheceu que a criação de uma empresa global é importante para o país. "É óbvio que ter uma empresa global é interessante. A questão é de velocidade, e essa é uma decisão estratégica dos acionistas", disse.

Segundo o executivo, a Perdigão está investindo para se tornar uma companhia globalizada, seja pelo aumento de suas exportações, seja adquirindo unidades no exterior. Neste ano, a empresa deve investir 470 milhões de reais, sem contar a aquisição da Batávia.

Secches observa, porém, que somente os acionistas poderão decidir se o melhor é investir num caminho próprio, ou se a fusão é uma boa saída. Ele lembrou que toda união desse porte gera um certo retardo nas operações das empresas envolvidas, até que as duas culturas corporativas se alinhem e as ações sejam reestruturadas.

A rentabilidade oferecida pelos investimentos na Perdigão também podem dificultar uma união com a Sadia. De acordo com o executivo, a rentabilidade para os acionistas, nos últimos 11 anos, é de 27% ao ano, além da variação cambial.

O maiores acionistas da Perdigão são seis fundos de pensão. Em conjunto, eles detêm 49,5% do capital da empresa. Entre eles, estão a Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petrus (da Petrobras), Valia (Vale do Rio Doce) e Sistel (empresas do setor de telefonia).

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