Cerimônia de abertura dos Jogos Paraolímpicos de Tóquio-20: visibilidade para as pessoas com deficiência para além do esporte, e trazem à tona a importância da diversidade e inclusão também nos negócios (Reuters/Agência Brasil)
Marina Filippe
Publicado em 25 de agosto de 2021 às 12h01.
Última atualização em 25 de agosto de 2021 às 15h55.
Os Jogos Paraolímpicos Tóquio 2020 dão visibilidade para as pessoas com deficiência para além do esporte, e trazem à tona a importância da diversidade e inclusão também nos negócios.
No Brasil, pela legislação, empresas com até 200 funcionários devem ter 2% de mão de obra oriunda de grupos com algum tipo de deficiência, seja física, mental, intelectual ou sensorial. Para companhias com mais de 1.001 funcionários, a proporção é de 5%. Ainda assim, parte das empresas acaba pagando multas pela falta de contratação.
Apenas 30% indicaram ter metas para reduzir a desproporção dos cargos ocupados por pessoas com e sem deficiência em quadros gerenciais. E das 79% que promovem campanhas de conscientização interna sobre a diversidade para o público, só metade possui grupos de afinidade que trabalham especificamente a inclusão das pessoas com deficiência.
Uma empresa que vai além da contratação e costuma servir de exemplo para as demais do mercado é a fabricante de cosméticos Natura, onde as PCDs são 7,3% do total de funcionários. A analista de marketing Aline Messias, que atua na área Movimento Natura e faz parte do grupo dedicado a pessoas com deficiência na companhia, aponta como um diferencial um plano de escuta e ação.
"Entendemos que o profissional com deficiência precisa se posicionar e ter equidade de oportunidade sem reforçar um estigma do mercado de coitado ou herói”, disse Aline para reportagem da EXAME em junho. Messias tem paralisia cerebral e está na Natura há oito anos.
Desenvolvimento
Uma oportunidade de melhorar os indicadores e a retenção é começar pelos cargos de entrada, como faz a farmacêutica Merck com o programa Capacita, em parceria com instituições de ensino. No programa, pessoas com deficiência fazem um ano de estágio remunerado, com possibilidade de efetivação. A iniciativa ajudou a elevar a contratação de pessoas com deficiência para além da cota em 116%.
Já na indústria química Bayer, a gestão da pessoa com deficiência serve de inspiração para os demais escritórios globais da companhia. A diretriz da multinacional de capital alemão é preencher 5% das vagas em todas as unidades e em todos os cargos com pessoas com algum tipo de deficiência até 2030.
Para garantir isso, o time de recursos humanos da operação brasileira da Bayer acompanha de perto os indicadores, conversa com aqueles que parecem estar perto de sair da empresa por alguma dificuldade de desenvolvimento, e trabalha para garantir a retenção. Como resultado, no ano passado os pedidos de demissão dos funcionários com algum tipo de dificuldade na adaptação ao dia a dia da empresa caíram de 10% para 4%.
Além disso, a companhia tem programas específicos para que as pessoas com deficiência desenvolvam ideias e apresentem projetos para gestores. Na última edição, o vencedor identificou uma melhoria de processo no setor de embalagens dos sites, reduzindo em até 30% o custo de uso de embalagens.
Ter esse contato com a liderança é importante também na Ambev. Na fabricante de bebidas o grupo de diversidade voltado para pessoas com deficiência é formado por 15 pessoas incumbidas de compartilhar conhecimentos na liderança, além de facilitar o dia a dia dos funcionários.
“Independentemente da deficiência, todas as pessoas merecem as mesmas oportunidades”, diz Mariana Holanda, que comanda o tema na Ambev. “Um ambiente de alta performance precisa ter diversidade, e isso inclui pessoas com deficiência.”