O que é bom para a Apple pode não ser o melhor para fornecedores
Os resultados acima do esperado para a Apple decorrem, em parte, da venda de produtos secundários, como jogos e armazenamento em nuvem
Karin Salomão
Publicado em 2 de maio de 2018 às 18h02.
A Apple apresentou um balanço trimestral forte, com receita, lucro e projeções superiores às estimativas dos analistas. Mas isso não é necessariamente bom para as centenas de fornecedores de componentes para iPhones em todo o mundo — ao contrário do que sugeriu o movimento inicial de alta do mercado.
Os resultados acima do esperado para a Apple decorrem, em parte, da venda de produtos secundários, como jogos e armazenamento em nuvem. Nenhum deles beneficia parceiros de hardware como a Taiwan Semiconductor Manufacturing e a Hon Hai Precision Industry, cuja sorte está mais atrelada às vendas unitárias do iPhone -- que subiram apenas 2,9 por cento no último trimestre, apesar do aparelho comemorativo do 10º aniversário, pensado para impulsionar um superciclo de demanda.
Até mesmo uma leve desaceleração das vendas do iPhone pode trazer enorme impacto para esses fornecedores. Este é o preço de participar da cadeia produtiva da Apple: as empresas erguem fábricas caras antes dos ciclos dos aparelhos, de modo que até mesmo pequenas decepções prejudicam os lucros.
Um exemplo é a Pegatron, de Taiwan, que monta o iPhone 8 e ampliou a capacidade prevendo um aumento nos negócios no ano passado. A demanda aquém do esperado fez com que a utilização da capacidade instalada também ficasse abaixo do previsto e a margem operacional caiu quase pela metade no ano passado, para 1,61 por cento. Tanto a Pegatron quanto a Hon Hai -- as líderes em montagem de aparelhos para a Apple -- amargaram queda no lucro líquido em 2017, apesar da maior cliente ter registrado ganho recorde.
“A Apple está tirando proveito do aumento do preço médio de venda. No entanto, o volume, que é fundamental para as finanças dos fornecedores, está crescendo pouco”, disse Arthur Liao, analista da Fubon Securities, com sede em Taipé.
As ações de fornecedores da empresa mais valiosa do mundo inicialmente deram um salto, da Ásia à Europa, mas na sequência muitas reverteram os ganhos ou passaram para o território negativo. Várias delas ainda não se recuperaram da queda acentuada causada por medo nas últimas semanas. A europeia AMS subiu 8 por cento nesta quarta-feira, mas ainda acumula uma baixa de mesma magnitude desde a semana passada, quando alertou para margens negativas.
Em Hong Kong, a AAC Technologies Holdings disparou 6,7 por cento, mas encerrou o dia em queda de 0,6 por cento. Fabricantes japonesas de componentes, como Japan Display e Sharp, fecharam o pregão praticamente sem alterações. A TSMC -- a principal fabricante de chips para a Apple -- recuou 1,8 por cento e a Hon Hai, 1,3 por cento.
A longo prazo, as fabricantes de chips e componentes que permanecerem na órbita da Apple ainda poderão se beneficiar à medida que os smartphones incorporarem recursos como realidade aumentada e inteligência artificial -- que exigem, todos eles, mais poder de processamento e silício.
“Do ponto de vista da fabricante de componentes ou chips, o mercado ainda está maduro, porque se você olhar para os smartphones agora, verá que a demanda por computação está aumentando muito mais”, disse Kiranjeet Kaur, gerente de pesquisa sênior da IDC na região Ásia-Pacífico.