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O plano de contingência para uma indústria gaúcha atingida por quatro enchentes se proteger

Pela primeira vez na história da empresa, parte da produção ficará em outro município, a cerca de 50 quilômetros da sede

Ricardo Fontana, sócio da Indústrias Fontana: a empresa foi atingida por enchentes quatro vezes (Leandro Fonseca/Exame)
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 30 de agosto de 2024 às 14h21.

ENCANTADO (RS) — Depois de noventa anos na mesma cidade, Encantado, a cerca de 150 quilômetros de Porto Alegre, a indústria de produtos de higiene e limpeza Fontana dará passos emblemáticos em outubro. Pela primeira vez na história da empresa, parte da produção ficará em outro município, a cerca de 50 quilômetros dali.

A mudança tem como principal motivo a prevenção. Hoje, a Fontana fica numa área que margeia o Rio Taquari, um dos principais caminhos de água do Rio Grande do Sul.

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Em maio, quando a empresa ficou praticamente toda embaixo da água — foram 4 metros de inundação —, a família que toca o negócio desde sua fundação parece que estava vendo o replay de cenas recentes. Em setembro e novembro de 2023, menos de um ano antes, já tinham passado por algo parecido, quando outras enchentes atingiram a região.

“Em menos de um ano, nós fomos atingidos quatro vezes”, diz Ricardo Fontana, sócio da Fontana. “Em setembro do ano passado, fomos pegos completamente de surpresa e perdemos muitas coisas. Em novembro, houve mais uma inundação. E em maio agora, foram outras duas vezes”.

Ao todo, a empresa teve um prejuízo que quase alcança os 40 milhões de reais — um valor que se aproxima dos 15% do faturamento da companhia.  O valor poderia ser muito pior, se não fosse um plano de contingência que ajudou a Fontana a passar pelas últimas duas enchentes.

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Como foi o plano de contingência da Fontana

Em novembro, depois que a indústria foi atingida pela segunda cheia do Taquari em menos de três meses, a diretoria da empresa decidiu escrever um plano de contingência.

Entre as estratégias adotadas para se precaver de novas enchentes, estão:

“Toda nossa parte elétrica, por exemplo, que ficava na parte de baixo dos equipamentos, foi deslocada para um segundo andar. Isso permitiu que não houvesse problemas piores”, diz.

Ainda assim, a força da água foi tão forte que provocou um prejuízo, só de matéria-prima, de 12 milhões de reais.

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Qual é a história da Fontana

A história da indústria Fontana começa com algo comum no interior gaúcho: a produção de sabão artesanal. O casal Pedro e Laura Fontana passaram a vender o sabão artesanal que faziam em 1934 — há exatos 90 anos.

A segunda geração da família foi responsável pela modernização do processo produtivo, e, com o passar do tempo, foi alvo de inovações e melhorias, como o aumento significativo da demanda por novos produtos e, consequentemente, da inovação na produção. Era aí que a indústria passaria a se chamar Fontana S.A., como é conhecida até hoje.

Nos anos 1980, a indústria reestruturou sua fábrica, com ampliação e modernização. É nessa época que ela se muda para as margens do Taquari, onde está até hoje. É também nessa época que inicia a produção por terceirizações de sabonetes em barra para marcas mundialmente conhecidas como Nivea, Johnson & Johnson e Davene.

Nos anos 1990, a terceira geração assume o comando da família, com a criação de um conselho de administração.

Atualmente, a Fontana coloca-se entre os principais fabricantes de produtos de higiene, limpeza e óleos químicos no país, além de ter seus produtos exportados para diversos países. Entre suas marcas, estão:

A empresa também fabrica e comercializa produtos para indústria química. Entre eles, glicerina destilada, sebo hidrogenado, ácido graxo destilado de sebo e ácido esteárico.

Como será o futuro da empresa

Quando a EXAME visitou a empresa no início de julho, ainda era possível ver marcas dos estragos. Cerca de 40 barris de metais que armazenavam matéria-prima estavam danificados: alguns nos chãos, outros arrastados, outros amassados e entortados. A produção ainda não tinha retomado, mesmo já passando dois meses da enchente, e a maioria dos 218 funcionários estavam em férias coletivas.

Agora, final de agosto, o cenário já é outro. A empresa já conseguiu reativar cerca de metade da produção.

Para se blindar de futuras cheias, parte relevante de sua produção irá para Teutônia, uma cidade a 50 quilômetros de Encantado. Ficarão nessa nova instalação as linhas de sabonete, justamente o carro-chefe da indústria.

A escolha do novo local levou em consideração a proximidade com a planta atual, garantindo a manutenção dos empregos e oferecendo transporte para a nova fábrica. Além disso, essa proximidade facilitará o transporte de matérias-primas para o novo local.

Nessa nova fábrica, serão instalados, inclusive, equipamentos recém-comprados. Foram de um investimento de 12 milhões de reais que a empresa fez no final do ano passado, mas que nem tinha colocado em execução ainda. A chuva de maio veio antes.

“É importante retomar a produção o quanto antes”, diz Ricardo. “É o paciente que está tendo um ataque epilético que precisa estabilizar o mais rápido, para conseguir, depois, reanimar e reerguer”.

Negócios em Luta

A série de reportagensNegócios em Lutaé uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos doNegócios em Lutamostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande paranegociosemluta@exame.com.

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