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No RS, o desafio da reconstrução pós-enchente em meio a novas catástrofes climáticas Brasil afora

Novas chuvas no estado acendem o alerta sobre a capacidade do Rio Grande do Sul aguentar novas catástrofes climáticas em um curto período de tempo

Beatriz Johannpeter, diretora do Instituto Helda Gerdau: "Essas calamidades estão se repetindo em diferentes locais, e precisamos aprender com as práticas que estamos adotando" (Instituto Helda Gerdau/Divulgação)
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 26 de setembro de 2024 às 09h44.

Última atualização em 27 de setembro de 2024 às 16h45.

Cinco meses após as enchentes que atingiram em cheio o Rio Grande do Sul, as chuvas voltaram a preocupar os gaúchos nesta semana. Várias regiões do estado estão lidando com com tempestades isoladas, chuvas persistentes, rajadas de vento intensas e alagamentos pontuais. Pelo menos 800 pessoas estão fora de suas casas e há rodovias bloqueadas.

A chuva intensa acende um alerta que é o principal ponto de apreensão entre moradores, empresários e a comunidade gaúcha: se as precipitações forem altas, há chance de haver novos alagamentos que destruirão o que está sendo reconstruindo a duras penas?

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A reportagem do Negócios em Luta (especial da EXAME para acompanhar a reconstrução do estado) esteve no Rio Grande do Sul na última segunda-feira, 23, e ouviu de mais de um articulador empresarial que, por enquanto, as medidas de prevenção estão andando de lado.

A maior preocupação, pelo menos em Porto Alegre, é pela dragagem do Guaíba. Com as chuvas intensas de maio, entulhos de diversas regiões do Estado acabam “estacionando” no fundo do rio, que perdeu profundidade. Ou seja, em novas chuvas, o Guaíba, por estar mais raso, precisa encher menos para transbordar.

O alerta já vem sendo motivo de discussão há algumas semanas. Recentemente, em entrevista à EXAME, o CEO da Lojas Renner, Fábio Faccio, já falava sobre o assunto.

“A dragagem tinha que ter começado no dia seguinte. Qualquer país no mundo, no minuto seguinte, você veria 10 dragas no Guaíba. Eu ainda não vi nenhuma”, disse.

Apesar das novas preocupações, diversas iniciativas estão trabalhando para uma reconstrução de maior prazo. Uma delas vem de uma das maiores famílias do Estado, os Gerdau Johannpeter, fundadores da produtora de aço Gerdau.

Com o instituto familiar Helda Gerdau e com o braço de responsabilidade social da própria empresa, 75 milhões de reais já foram doados. Um dos principais produtos é o Regenera RS, um fundo filantrópico para atuar na reconstrução do Estado. Já foram captados38 milhões de reais no projeto, sendo 10 milhões de reais aportados pela Gerdau e outros 20 milhões de reais, pela própria família Gerdau Johannpeter.

Confira a entrevista com a diretora do Instituto Helda Gerdau, Beatriz Johannpeter.

Como a família está trabalhando para ajudar a reerguer o Rio Grande do Sul?

A Gerdau tem um instituto que é da empresa, e o familiar, Helda Gerdau, que eu presido. Essas duas organizações, no momento da calamidade, resolveram criar um fundo filantrópico à parte. Naquele momento de extrema necessidade — e nós, como uma família de raiz gaúcha —, entendemos que seria preciso de algo mais estruturado. Havia muitos potenciais financiadores que também queriam ajudar. Foi quando criamos o fundo e partimos para um movimento mobilizador, com uma coalizão de investidores. É um fundo que já nasceu com 30 milhões de reais para investimento filantrópico e hoje tem em torno de 40 milhões de reais. O nome é Regenera RS.

Em quais projetos vocês investem?

Atuamos em quatro áreas: habitação, educação, soluções urbanas e apoio a pequenos negócios. Em todo estado, em qualquer região afetada pelas calamidades. Num primeiro momento, foi mais voltado para habitação, construção de casas. Depois, também ajudando a secretaria de Educação. Depois, estruturamos melhor o fundo, com uma governança independente, um conselho consultivo multi-stakeholder e com comitês técnicos participando e ajudando a avaliar onde destinar o dinheiro. A ideia é que seja um fundo com capacidade para dar apoio por dois anos.

A ideia é que o fundo também consiga acompanhar as obras?

Sim, por isso é um fundo de longo prazo. Mas também queremos deixar registrado o aprendizado. Essas calamidades estão se repetindo em diferentes locais, e precisamos aprender com as práticas que estamos adotando. A ideia é usar 30% do fundo para questões bem emergenciais e o resto num plano mais estruturado de recuperação do Estado. Até agora, já aplicamos 8 milhões de reais.

Nesses primeiros 100 dias, quais foram os principais aprendizados de como será o processo de reconstrução do Estado? Está no ritmo que vocês gostariam?

O que aprendemos agora é que, passado esse período, já está mais difícil captar recursos, porque já aconteceram outras calamidades no país depois, como os incêndios e a seca de agosto e de setembro. Também houve redução na cobertura do assunto, mas os desafios seguem gigantescos. O recurso filantrópico ajuda, mas é muito pequeno para fazer a transformação que o Estado precisa. Como instituto, vamos ajudando outras frentes também, programas de crédito para PMEs, iniciativas de consultorias para pequenos empresários. Casamos recursos financeiros com outros tipos de capitais, com outras iniciativas, porque senão fica muito limitado. Vamos fazendo co-investimentos e trabalhando juntos. Por isso também estruturamos uma governança independente para cuidar do fundo e visualizar esses projetos que podem incentivar uma construção a longo prazo.

A ideia é também conseguir fazer um trabalho preditivo, não só correr atrás do prejuízo.

Exatamente. Por isso que nosso fundo se chama Regenera. A gente se inspirou na regeneração. Outras emergências vão surgir e precisamos pensar diferente.

Pode dar alguns exemplos de investimentos que já foram feitos pelo fundo?

Um grande exemplo que acabamos de entrar é na construção da primeira Favela 3D da Gerando Falcões no Rio Grande do Sul. Já tinham conversas mesmo antes da calamidade, mas seriam em áreas diferentes. Agora, em função da calamidade, se escolheu que será na cidade de Eldorado do Sul, que foi muito atingida. O fundo Regenera é um dos apoiadores, entrando com 1 milhão de reais. E o Instituto Helda Gerdau vai entrar, também, com outro um milhão de reais. E não se trata apenas de um projeto de habitação, mas de empregabilidade, de acolhimento na primeira infância, na geração de renda. É uma mandala de oportunidades.

Do que o Rio Grande do Sul precisa agora?

Somar esforços. Poder público, empresas e organizações sociais precisam unir esforços. Ninguém vai resolver as questões sozinho. É preciso ouvir as necessidades das comunidades, buscar os recursos adequados. Mas sem dúvida, o que mais precisamos agora é articulação para construir soluções que realmente façam a diferença, que possam dar conta das necessidades mais imediatas, mas que também levem em consideração o que pode vir pela frente.

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