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No pão da Wickbold, um ingrediente para a preservação da Amazônia

A cadeia de suprimento da castanha-do-Pará ainda é uma das menos estruturadas entre todas as nozes usadas pela Wickbold

Colheita da Castanha-do-Pará (Imaflora/Exame)

Karin Salomão

Publicado em 10 de novembro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 11 de novembro de 2019 às 18h40.

Alter do Chão (PA) -- Em um pão produzido pela Wickbold, há um ingrediente que percorre centenas de quilômetros dentro da mata amazônica para chegar às mesas dos consumidores: a castanha-do-Pará, também chamada de castanha-do-Brasil. Atualmente, o pão feito com castanhas e quinoa é o mais vendido na categoria de integrais premuim.

Conseguir esse ingrediente especial não é simples: a cadeia do suprimento ainda é uma das menos estruturadas entre todas as nozes usadas pela Wickbold. A fabricante também compra nozes como a castanha de caju, do Nordeste, a macadâmia, que vem da região Sudeste e a noz pecã, do Sul.

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Em 2018, 27% de toda castanha usada pela Wickbold na produção de seus pães veio por meio do selo Origens do Brasil, rede que une fornecedores a empresas em quatro regiões da Amazônia criada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). O restante vem do mercado comum, por meio de cooperativas ou outros fornecedores.

Colheita da castanha-do-Pará (Imaflora/Exame)

Desafios

Segundo Thiago Valença, coordenador de compras diretas da Wickbold, todos os fornecedores são visitados e auditados, por meio da auditoria global DNV.  Um dos desafios da companhia é adaptar processos tradicionais da empresa à realidade na floresta. Há detalhes que as auditorias tradicionais não conseguem assimilar.

Uma diferença é o modelo de financiamento e remuneração dessa cadeia. Para iniciar a colheita, tanto da castanha como de outros produtos, as famílias precisam se abastecer de alimentos, já que irão passar algumas semanas fora de casa no meio da mata, e de combustível, pois o transporte é feito por meio de pequenos barcos motorizados por meio dos rios.

As famílias não têm esse capital de giro disponível. Assim, empresas como a Wickbold precisam oferecer um adiantamento do pagamento pelo produto, mesmo sem contrato. "Nós nos expomos a esse risco, mas precisamos entender que as dinâmicas são diferentes", diz o coordenador.

Fornecedores

Um dos fornecedores de castanha para a Wickbold é a comunidade quilombola de Arancuan de Baixo, às margens do rio Trombetas, no estado do Pará. Para chegar à comunidade, é necessário tomar um barco de Santarém a Oriximiná. Uma embarcação de passageiros leva cerca de sete horas para realizar esse trajeto pelo rio Amazonas.

De Oriximiná, ainda é necessário navegar mais uma hora e meia até a comunidade quilombola. Na época da safra de castanha, os coletores percorrem, ainda, seis a oito horas de barco pelos rios Trombetas e Erepecu para chegar às regiões dos castanhais.

As castanhas são muito significativas para as comunidades quilombolas da região, de acordo com Rogério de Oliveira Pereira, presidente daCooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora). “Quando fugiam das fazendas, os quilombolas contavam com as castanhas como o alimento que os sustentavam no meio da mata”, diz.

Rogério de Oliveira Pereira, presidente da Coopaflora, em roça de mandioca (Karin Salomão/Exame)

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