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Mesmo após delação, sócio oculto da JBS continua sendo mistério

Desde 2009, a empresa Blessed Holdings LLC aparece como sócia do frigorífico, mas ninguém sabe quem a comanda

JBS: Com a divulgação das delações a expectativa é a de que, finalmente, o mistério seria esclarecido. Mas não é o que se vê (Ueslei Marcelino/Reuters)

JBS: Com a divulgação das delações a expectativa é a de que, finalmente, o mistério seria esclarecido. Mas não é o que se vê (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de maio de 2017 às 10h52.

Última atualização em 29 de maio de 2017 às 15h43.

São Paulo - Desde 2009, a JBS tem um sócio misterioso, a empresa Blessed Holdings LLC. Sua sede fica em Delaware, conhecido paraíso fiscal nos Estados Unidos, onde as leis financeiras são mais flexíveis.

Com a divulgação das delações dos irmãos Batista, que dizem ter contado tudo à Procuradoria Geral da República, a expectativa é a de que, finalmente, o mistério seria esclarecido. Mas não é o que se vê.

Os documentos divulgados até agora mostram que Joesley e Wesley Batista, acionistas do grupo, apresentaram em suas declarações de imposto de renda que adquiriram, cada qual, 50% das ações da Blessed. Agora, eles são os donos. Mas não há detalhes históricos.

Os documentos referentes à Blessed, anexados à delação, permanecem sob sigilo da Justiça. Não é possível sequer saber se os Batista deram ou não detalhes relevantes sobre quem foi esse sócio oculto.

Em reportagem publicada em junho de 2014, o jornal O Estado de S. Paulo trouxe a público que a Blessed tinha na época dois acionistas no mínimo esquisitos: seguradoras localizadas em paraísos fiscais.

Uma era a US Commonwealth, de Porto Rico; a outra, Lighthouse Capital Insurance Company, nas Ilhas Cayman.

A reportagem, à época, apurou que apesar de terem nomes diferentes e estarem em países distintos, presidente e demais executivos de ambas eram os mesmos.

Também identificou que seguradoras do gênero eram uma estrutura comumente utilizada para ocultar patrimônio. Na ponta final, costuma haver um ou mais beneficiários de apólices que não querem ser identificados.

O instrumento é legal e utilizado principalmente para a proteção de grandes fortunas.

A JBS, então, tinha como sócios não apenas os Batista, mas também a família Bertin. Se alguém perguntasse "de quem é a Blessed?" para qualquer uma das famílias, nem uma nem outra sabia responder.

E não é que a Blessed não tenha relevância. Desde lá é um dos principais acionistas da FB Participações, que tem o controle da JBS.

Naquela onda de especulações sobre quem seria o dono da Blessed, um dos nomes mais cogitados sempre foi o de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Nunca, porém, foi encontrada qualquer prova que pudesse sequer indicar quem seria o sócio oculto.

Há quem diga que os irmãos Batista não falaram nada sobre a Blessed em suas delações. Mas perguntados foram. Wesley, que foi conduzido coercitivamente poucos dias antes da divulgação das delações, pela Operação Bullish, chegou a dizer em depoimento que quem sabia sobre a Blessed era seu irmão Joesley.

Na semana passada, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) perguntou sobre a Blessed. Na quarta-feira, a JBS respondeu que não havia nenhuma mudança no controle. E negou que a companhia tivesse comprado a empresa.

Na sexta-feira, já de noite, a empresa informou novamente à CVM que de fato fizera alteração societária. A Blessed permanece alimentando dúvidas e questionamentos.

Em nota, a JBS disse que já respondeu a todas as dúvidas da CVM e "segue em seu firme propósito de colaborar com a Justiça brasileira." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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