Melhores do ESG: Economia circular precisa de investimentos para escalar
Especialistas do Instituto BVRio defendem a criação de mecanismos que permitam fortalecer o processo de coleta e reaproveitamento de materiais
Maria Clara Dias
Publicado em 10 de maio de 2021 às 14h23.
Última atualização em 12 de maio de 2021 às 09h47.
Todos os anos, a humanidade produz uma quantidade de plásticos equivalente ao peso da soma de todas as pessoas vivas do planeta. O problema é conhecido, e não para de crescer, em especial em dez mercados emergentes que respondem por 82% dos plásticos lançados nos oceanos – um grupo do qual o Brasil faz parte.
As grandes empresas globais são cientes do problema. Definiram para si mesmas metas para a redução de consumo de plásticos. E, ano após ano, alcançam apenas uma fração do resultado que gostariam.
Foi com essas informações que Thierry Sanders, Diretor do Hub de Ação Circular, abriu os trabalhos da segunda semana do evento Melhores do ESG , realizado por Exame. “Não é falta de vontade destas empresas”, avaliou ele. “É que a logística de reaproveitamento é complexa”.
Dividindo a tela com Sanders estavam Pedro Moura Costa e Mauricio Moura Costa, respectivamente presidente do Conselho e CEO da BVRio, uma empresa de economia circular criada em 2011 e que recentemente lançou o Hub de Ação Circular com a proposta de ser o primeiro marketplace global de crédito de logística reversa. A iniciativa foi criada com base em marketplace de alcance nacional, criado pelo grupo em 2013.
Ao longo do painel “Economia circular”, que contou com a moderação de Patrícia Genelhú, Head de Investimentos Sustentáveis e de Impacto no BTG Pactual, os três concordaram: esse desafio logístico para estabelecer práticas de economia circular – e não só para o plástico – depende de investimentos.
Função social
“Sabemos que as medidas atuais são insuficientes. Há a necessidade de complementar com outras iniciativas. E não existe uma solução única”, declarou Pedro. A partir do momento em que a cadeia se fortalece, aos mais de 40 esquemas de crédito de plástico que existem ao redor do mundo podem finalmente ganhar escala, argumentou ele.
“O investimento pode fortalecer as cooperativas e as empresas que fazem coleta, os centros de triagem e os investimentos em novas soluções baseadas em tecnologia, e para isso lançamos o Hub de Ação Circular. “O benefício para as cooperativas que recebem investimentos é da ordem de 30% a 50%”.
O impacto de ações desse gênero, disse Maurício, tende a ser enorme, e em diferentes setores. “O lixo não é simplesmente uma questão de meio ambiente, é também uma questão social”. Em um país como o Brasil, alegou, o potencial econômico da reciclagem é enorme. “Temos cooperativas de catadores bem organizadas e uma legislação alinhada com a dos países desenvolvidos europeus”.
O Instituto BVRio aposta na emissão de certificados para ampliar a remuneração de catadores e o inventivo para as empresas documentarem suas ações de economia circular. “Não são soluções simples de implementar”, argumentou Maurício, “mas são recompensadoras. Um levantamento do Ipea diz que a implementação de medidas de economia circular no Brasil poderia gerar cerca de R$ 8 bilhões de reais por ano”.