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Médias empresas brasileiras passaram bem pela pandemia, diz pesquisa da FDC

Pesquisa da escola de negócios Fundação Dom Cabral analisa resultados de quase três mil empresas brasileiras entre 2020 e 2021

Chef checking food on the buffet (FG Trade/Getty Images)

Chef checking food on the buffet (FG Trade/Getty Images)

LB

Leo Branco

Publicado em 28 de junho de 2022 às 09h02.

Última atualização em 28 de junho de 2022 às 09h05.

As pequenas e médias empresas brasileiras conseguiram administrar de maneira bastante saudável a gestão de custos e de despesas nos dois últimos anos, período mais agudo até agora da pandemia.

Esta é a conclusão de um estudo inédito da escola de negócios Fundação Dom Cabral (FDC). Ao longo dos últimos meses, especialistas da FDC analisaram os resultados financeiros de 2.700 empresas com faturamento anual entre 4,8 milhões de reais e 300 milhões de reais nos anos de 2020 e 2021.

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No período analisado, a margem líquida foi positiva, mesmo com queda de receita no setor de comércio e ligeira redução da margem líquida na indústria.

“A nunca extinta, mas controlada, inflação está assolando e assustando o mundo inteiro, e os reflexos são, além dos óbvios aumentos em insumos e matérias primas, a transferência destes custos e despesas no preço dos produtos e serviços, retroalimentando assim esse risco”, diz Eduardo Menicucci, professor associado de Finanças da FDC responsável pelo estudo Radar de Mercado das Médias Empresas — Análise do desempenho financeiro entre 2020 e 2021.

A receita líquida na indústria e no setor de serviços foi crescente ao longo dos dois anos, sendo 7,92% e 20,71%, respectivamente. Porém, quando analisados os resultados no comércio das médias empresas, houve queda de 37,89% entre os anos de 2020 e 2021.

“Dado que o cenário de inflação está persistindo no país, pode-se interpretar que um percentual maior da receita da indústria e dos serviços se deu pelo aumento dos preços e não por volume de venda”, diz Menicucci.

Receita líquida das empresas analisadas (em milhões de reais)

20202021Variação
Comércio127,1678,98-37,89%
Indústria111,36120,187,92%
Serviços77,4793,5220,71%

Boa gestão de custos e despesas foram fundamentais

Mesmo que o comércio tenha apresentado uma queda de receita líquida, o setor apresentou crescimento na margem do EBITDA, que é o indicador resultante da receita líquida menos os custos e as despesas.

ComércioIndústriaServiços
202020212020202120202021
EBITDA (em milhões de reais)11,859,1720,2728,8425,5038,53
EBITDA (margem)9,32%11,60%18,20%24%32,91%41,20%

 

 

 

 

“Interessante destacar como ficaram robustas as margens EBITDA de serviços (41,20%) e de indústria (24%) em 2021”, diz Menicucci. Dentre as prováveis razões para essa melhoria, de acordo com o professor, pode-se destacar a melhor gestão de compras, negociações com fornecedores, capacidade de repasse em preços dos aumentos dos custos, e maior controle de despesas. “Por exemplo, em muitas médias empresas as áreas administrativas ainda continuam, se não na totalidade, em grande parte no sistema home-office, o que reduz despesas com alimentação, transportes, locação, manutenção, telefonia, energia, entre outros”, diz.

Lucro líquido apareceu nos dois anos

Os três setores apresentaram lucro líquido nos anos avaliados no estudo, mesmo com todas as adversidades econômicas. Especificamente neste quesito, o único setor a apresentar queda na margem líquida foi a indústria. Mesmo o setor de comércio, com queda em receita líquida, obteve maior margem líquida em 2021 frente a 2020. “Tivemos um aumento forte na taxa básica de juros, o que pode ter impactado as médias empresas com maiores volumes de endividamento. O setor industrial, que precisa de constantes investimentos, pode ter sentido a redução no lucro líquido tanto pelo efeito da depreciação e amortização, como também de juros”, diz o professor da FDC.

ComércioIndústriaServiços
202020212020202120202021
Lucro líquido (em milhões de reais)4,314,878,077,657,1214,75
Lucro líquido (margem)3,39%6,16%%7,25%-6,36%9,19%15,78%

 

Impactos setoriais

O comércio apresentou relevante queda na receita líquida entre os anos de 2020 e 2021, justamente quando as restrições de isolamento resultantes da pandemia da Covid-19 foram abrandadas e lojas foram reabertas. “Dentre as supostas razões, podemos citar a redução do Auxílio Emergencial e o efeito da inflação na renda da população, com queda no PIB per capta”, diz Menicucci. Por outro lado, se registrou a recuperação da lucratividade, tanto por meio do EBITDA, como do lucro líquido.

Já a indústria apresentou comportamento da receita líquida satisfatório e o mesmo padrão se verificou no EBITDA. Quanto ao lucro líquido, foi observado um crescimento nominal em 2021, mas uma ligeira queda na margem líquida entre 2020 e 2021, de 8,07% para 7,65% em 2020 e 2021, respectivamente. “Muitas commodities e produtos vêm sofrendo forte valorização, fruto, dentre outras razões, da inflação e este crescimento pode estar relacionado mais a preço do que pelo volume, o que pode representar um risco em sua continuidade. Já o crescimento no EBITDA, mais uma vez, deu-se em função da melhoria na gestão de custos e despesas”, diz o pesquisador.

E dos três setores analisados, o que apresentou melhores resultados foi o de Serviços. Todos os três indicadores, receita líquida, EBITDA e lucro líquido, cresceram nos dois anos analisados. Da mesma forma que a Indústria, a razão do crescimento da receita pode ter ocorrido em função do preço ou volume. “Seguramente é o setor com as melhores margens líquidas entre 2020 e 2021, sendo 9,19% e 15,78%, respectivamente”, diz Menicucci.

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