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Mais detalhes sobre o seqüestro de Godinho

Na noite de 22 de outubro de 2003, o jornalista Ivandel Godinho estava dentro de um táxi, no cruzamento das ruas Áustria e Irlanda no Jardim Europa. Passava pouco mais das 21 horas quando dois homens montados numa moto interceptaram o carro. Foi tudo muito rápido. Na calçada, em pânico, uma funcionária que acompanhava o […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Na noite de 22 de outubro de 2003, o jornalista Ivandel Godinho estava dentro de um táxi, no cruzamento das ruas Áustria e Irlanda no Jardim Europa. Passava pouco mais das 21 horas quando dois homens montados numa moto interceptaram o carro. Foi tudo muito rápido. Na calçada, em pânico, uma funcionária que acompanhava o empresário começou a correr pela rua e a bater nos portões das casas vizinhas em busca de socorro.

Iniciava-se assim o que, a princípio, era apenas mais um seqüestro rotineiro, típico das grandes cidades brasileiras, mas que se tornaria o mais longo e misterioso da história de São Paulo. Casado há 18 anos com Cristina Moretti, uma loura esguia de intensos olhos azuis e sua sócia na InPress Porter Novelli, Godinho dividia-se entre São Paulo, onde se concentra metade dos negócios da empresa, e o Rio de Janeiro, onde vive a mulher e quatro filhos, os dois primeiros de um casamento anterior. Como não gostava de dirigir, Godinho, tido como um homem vaidoso, que apreciava roupas de grifes caras e bons relógios no pulso, tinha um motorista no Rio de Janeiro. Apesar de ostentar na aparência e nos hábitos seu sucesso profissional, estava longe de se enquadrar no perfil das vítimas preferenciais dos seqüestradores. Com 160 funcionários e três escritórios no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, a InPress, comandada pelo casal, possui entre seus 60 clientes muitas multinacionais de peso, mas em termos de faturamento é uma empresa de porte médio.

Para muitos, o sucesso da empresa deve-se, em grande parte, à soma das qualidades individuais dos dois sócios. Godinho é criativo, intuitivo, o homem das grandes sacadas. Cabia a ele criar fatos capazes de atrair a atenção dos jornais para seus clientes. Certa vez, ao saber que a Souza Cruz pretendia colocar o carro do piloto Maurício Gulgemin no alto do Pão de Açúcar para anunciar, numa entrevista à imprensa, a decisão de patrocinar uma corrida de Fórmula Indy no Rio de Janeiro, Godinho quis saber detalhes da operação. Ao ser informado de que o veículo seria içado nas costas do bondinho, percebeu ali uma oportunidade de ouro para divulgar o evento. Providenciou um helicóptero e convocou os fotógrafos para acompanhar a operação. A foto do carro suspenso no ar, tendo ao fundo o mar azul e a orla da Baía de Guanabara, foi publicada com destaque pelos principais jornais brasileiros e pelo americano Los Angeles Times.

Se Godinho era o homem das idéias, Cristina era quem as colocava em ação. É tida no mercado como disciplinada, com capacidade de execução e visão estratégica. "Ela é a verdadeira alma da empresa", diz um executivo de uma concorrente do setor. Bem articulada e com um inglês impecável, costuma causar impacto nas apresentações de propostas de projetos a clientes em potenciais.

Cristina estava no Rio quando recebeu uma ligação de São Paulo com a notícia sobre o seqüestro do marido. Quando o telefone tocou novamente, eram os seqüestradores, que usavam o celular do empresário para pedir um resgate pela sua libertação. "Não conseguia parar de tremer", diz Cristina. Ela conta que os dias que se seguiram ao primeiro pedido de resgate foram devastadores. "Algumas vezes, achava que precisava de um guindaste para me levantar. Fiquei catando os pedaços de mim mesma por um bom tempo."

Apesar da aparência frágil chegou a emagrecer seis quilos desde outubro - , Cristina não é do tipo que chora com facilidade. Diz que foi criada para ser dura e saber controlar-se nos momentos difíceis. É capaz de recitar na íntegra versículos do Velho Testamento. "Ainda que um Exército se acampe contra mim, não se atemorizará o meu coração", diz repetindo o versículo três do Salmo 27. "A confiança, como diz o meu pastor, é a esperança em estado sólido. Então, me aproprio disso e, mesmo com o coração apertado, vou em frente."

Durante dois meses e meio, ficou à frente das negociações do resgate e se afastou do comando da empresa. Até tentou participar de uma ou outra reunião de trabalho, mas desistiu depois de receber duas ligações dos seqüestradores no momento em que se reunia com sua equipe. Manteve-se firme até janeiro, quando o resgate foi pago e Godinho não foi libertado. Então, pela primeira vez, Cristina passou o dia recolhida, em casa. A partir daí, encarregou o filho mais velho de acompanhar o dia-a-dia do seqüestro, enquanto voltava a assumir o leme dos negócios. "Tinha de ocupar esse papel e mostrar que a empresa tinha liderança, estava bem estruturada e não se deixara abater pela dor", diz.

Um dos projetos adiados que pretende retomar diz respeito a um aprofundamento da parceria firmada com a Porter Novelli, empresa de relações públicas do grupo de comunicações americano Omnicon. "Queremos vender 20% da Inpress para poder ter uma atuação mais global", diz Cristina, que vive hoje na ponte aérea entre Rio, São Paulo e Brasília. A idéia é reestruturar a empresa no modelo de miniholding de modo a abrigar as marcas Porter Novelli e Brodeur, a outra empresa do Omnicon com a qual planeja abrir em breve um novo escritório.

 

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