Latino-americanos não tolerarão corrupção, diz executivo da Odebrecht
Em entrevista à imprensa, Fabio Januário disse que candidatos serão cobrados por agenda de transparência nas eleições deste ano na América Latina
EFE
Publicado em 28 de março de 2018 às 18h08.
O presidente da Odebrecht Engenharia e Construção, Fabio Januário, disse em entrevista à Agência Efe que a sociedade latino-americana não vai mais tolerar a corrupção e que todos os candidatos serão cobrados por uma agenda de transparência, dentro do intenso ciclo eleitoral que a região terá neste ano.
"Acredito que essa agenda de combate à corrupção, de intolerância nesse aspecto por parte da sociedade, é uma agenda que veio para ficar, não tem retorno", afirmou Januário.
O executivo disse que hoje a sociedade é muito "mais crítica" em relação à corrupção e que essa maior consciência" estará muito mais presente", em um ano no qual vários países, como Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México, Paraguai e Venezuela realizarão eleições.
"Naturalmente haverá um reflexo nessas questões que envolvem eleições em todos esses países, mas é mais uma questão da consciência", comentou.
Após ressaltar que a Odebrecht, protagonista de um escândalo de corrupção de dimensão internacional, é "apartidária" e "sem preferência política", Januário defendeu que os casos nos quais ela servirão como lições para os países.
"Acredito que a sociedade dos países da América Latina, incluindo o Brasil, não vai mais tolerar atos de corrupção. Sem dúvida, esses escândalos vão ajudar na melhora do processo democrático nesses países, no amadurecimento do processo democrático desses países. Sem dúvida isso vai acontecer", ressaltou.
"Toda a sociedade vai exigir todo esse nível de transparência e compromisso dos novos governantes. Independentemente de qualquer filiação partidária, essa é uma agenda que efetivamente será cobrada de todos os candidatos", acrescentou.
Os casos de corrupção envolvendo a Odebrecht não se limitaram ao Brasil e se expandiram por mais de dez países de América Latina e África, que investigam o pagamento de propinas da construtora a políticos.
A companhia fechou acordos de leniência com a Justiça em Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Panamá, Guatemala e Equador, nos quais, além de pagar multas vultuosas, reconheceu ter cometido os atos ilícitos e se comprometeu a não repetí-los.
"Temos mais acordos fechados, mas existem cláusulas de confidencialidade, e não podemos divulgar por respeito à soberania desses países, para que conduzam as investigações em curso sem nenhuma informação que possa prejudicá-las", disse.
Desde o início do escândalo, a Odebrecht iniciou um profundo processo de reestruturação e transformação "bastante significativo", disse Januário, através da implementação de uma nova agenda de governança e de cumprimento normativo ("compliance program").
Neste sentido, a empresa começa a colher os frutos após assinar, neste mês, um contrato com a Furnas, o primeiro com uma empresa pública brasileira desde o início da operação Lava Jato.
"Os problemas do passado estão sendo endireitados ", assegura.
O executivo afirmou que todas essas mudanças são para que a empresa possa "estar preparada para uma abertura de capital no menor espaço de tempo possível".
"Estamos preparando a companhia para uma abertura de capital (...) Podemos dizer que no segundo semestre de 2019 vamos estar bem avançados nessa possibilidade. Precisamos estar preparados para que seja uma alternativa", matizou.
Para Januário, a agenda de cumprimento normativo é "de diferencial competitivo", e os "atores da construção que não percebam essa necessidade de transformação e que não embarquem" nela "vão deixar de existir".