Jean Sigrist, um nome de peso para o banco digital Neon
Jean Sigrist começou como conselheiro e assumiu há um mês o cargo de diretor financeiro no banco digital. Movimento semelhante aconteceu no Nubank
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2017 às 18h53.
Última atualização em 16 de novembro de 2017 às 20h23.
As startups começam a atrair nomes de peso do mercado financeiro brasileiro. Depois de o economista Gustavo Franco assumir como consultor estratégico da emissora de cartão de crédito Nubank, agora é Jean Sigrist, ex-sócio da corretora Guide Investimentos e ex-diretor do Itaú, que passa a bater cartão no banco digital Neon.
Sigrist deixou em junho do ano passado a Guide, onde liderou o projeto de renovação da plataforma de varejo, e já vinha há uns meses atuando como conselheiro da fintech.
Há aproximadamente um mês aceitou o desafio de assumir a Diretoria de Operações do Neon e ajudar a startup a lançar novos produtos e serviços, como cartão de crédito, empréstimo e recebíveis para pequenas empresas, além de uma opção inovadora de conta conjunta.
Apesar de grande parte de seus 25 anos de experiência no mercado financeiro ter sido em grandes organizações, Sigrist é conhecido no mercado como um entusiasta da inovação.
Sua primeira empresa, a Line Invest, já vendia serviço de corretagem e recomendação de investimentos pela internet em 1997, quando poucos ainda tinham acesso ao mundo digital.
O produto, por exemplo, avisava por e-mail quando estava na hora do investidor ajustar o portfólio. A inovação chamou a atenção do Itaú, que adquiriu a companhia em 1999.
Sigrist foi, então, trabalhar para o banco, onde ficou por 13 anos, assumindo cargos de liderança, como a presidência do Itaú Europa Luxemburgo e vice-presidência da Itaú Corretora.
Em 2013, entrou com sócio no projeto da Guide Investimentos, antiga corretora do Banco Indusval, onde liderou o projeto de renovação da plataforma de varejo para pessoas físicas – usou, inclusive, uma metodologia de inovação chamada Design Thinking na construção do projeto.
O primeiro contato com o Neon veio em meados do ano passado, quando Sigrist e Pedro Conrade, presidente do banco digital foram apresentados.
“Fui um dos primeiros clientes, comecei a dar conselhos informalmente à equipe e há pouco mais de dois meses entrei oficialmente no Conselho de Administração. Como já ficava dois a três dias da semana na startup, não demorou para o convite vir”, conta Sigrist a EXAME.
No cargo de diretor de Operações há um mês, o executivo tem a missão de estruturar novos produtos e serviços financeiros.
“Eu ajudo a pensar no que todo mundo acha chato, que é a parte financeira, de risco de crédito, de modelagem de produto”, diz.
Assim como a ida de Gustavo Franco ao Nubank, atrair nomes renomados do mercado financeiro traz credibilidade para as startups financeiras que ainda precisam se provar e se estruturar para brigar com os bancões.
Veja a entrevista que Jean Sigrist concedeu a EXAME com exclusividade:
Por que se associar a uma startup?
Desde o início da minha trajetória eu trabalho com inovação. Cheguei em um momento que eu poderia me aposentar ou participar das transformações no meu mercado. Acredito que vivemos uma fase de grande mudança na forma como os clientes se relacionam com os bancos e outros agentes do setor financeiro.
A experiência e o foco no que o cliente precisa já é primordial para quem quiser sair vencedor neste jogo. E acredito que o Neon está muito bem posicionado para aproveitar essa transformação. É hoje o único banco que já nasceu neste mundo digital, um diferencial e tanto.
Há poucos meses o economista Gustavo Franco também assumiu uma posição estratégica em outra startup. A chegada de nomes importantes dá mais credibilidade às startups?
Certamente que sim, mas a equipe do Neon já estava fazendo um trabalho excelente mesmo antes de mim. Eu fico impressionado com a facilidade com que eles desenvolvem uma solução inovadora para um produto relativamente comum, já conhecido, como, por exemplo, a conta corrente conjunta que vamos lançar em breve.
Simples, mas sofisticado. Até agora o Neon fez a parte de tecnologia muito bem, com uma proposta de valor diferente do mercado. À medida que a empresa cresce (hoje o Neon tem 350.000 usuários), a parte de finanças precisou crescer.
Quando lançamos novos produtos, a interação é com o sistema financeiro real, que tem regras rígidas e particularidades difíceis de entender. Nisso, eu posso contribuir bastante.
Qual sua principal função no Neon?
Ajudar no lançamento de novos serviços e produtos. Uma operação de cartão de crédito, por exemplo, tem 460 eventos contábeis. Esse mapeamento é chato de fazer, mas é importante porque se faz direito de largada, não tem retrabalho depois e nem impacta a experiência do cliente, que é o principal.
Estou ajudando nessa parte mais ‘chata’, porém importante. Regulação, governança e risco são algumas frentes que estou cuidando.
Quais produtos o Neon deve lançar em breve?
Queremos transformar a conta corrente num hub de financeiro, onde podemos conectar produtos de crédito e investimentos, além das transações normais.
Acredito que crédito e investimentos são as modalidades que mais precisam de inovação. Já estamos trabalhando em conta corrente conjunta e no cartão de crédito com bandeira Visa ainda para este ano. Para 2018, uma nova plataforma para microempreendedores, que terá uma interface amigável e serviços de empréstimo e adiantamento de recebíveis.
O Nubank entrou com o pedido para se tornar instituição financeira e anunciou recentemente sua intenção de criar outros produtos financeiros além do cartão. Isso atrapalha os planos de vocês?
Construir uma categoria sozinho num mercado gigantesco, de trilhões de reais, é muito difícil. Outras fintechs são importantes para ajudar a mudar o status quo. Este não é um mercado em que o vencedor leva tudo.
Assim como outras startups, o Neon ainda dá prejuízo. Qual a previsão para começar a dar lucro aos investidores?
A empresa tem ainda um bom caixa para crescer. É claro que estamos em busca de um equilíbrio. Não queremos perder o clima de startup, mas estamos olhando com seriedade para lucros e perdas.
Os novos serviços, especialmente de crédito, vão trazer mais receitas para a companhia. Não somos uma esteira de produção visando trazer dinheiro rápido. Nós planejamos com cuidado os produtos antes de lançar.