Odebrecht omitiu indícios de corrupção em delações, aponta investigação
São mais de 13 mil documentos que mostram novos pagamentos secretos feitos a partir do setor criado especificamente para gerenciars subornos da construtora
Da Redação
Publicado em 26 de junho de 2019 às 12h42.
Última atualização em 26 de junho de 2019 às 17h40.
A Odebrecht assumiu, em 2016, que comandava um enorme esquema de corrupção em diversos países na América Latina. No entanto, o rombo pode ter sido muito maior. Uma investigação liderada pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) revela novos documentos e pagamentos realizados para fraudar licitações e obter contratos de construção que ainda não foram revelados perante a Justiça.
Registros vazados de uma divisão da Odebrecht, o Setor de Operações Estruturadas, foram obtidos pelo site equatoriano La Posta e compartilhados com o ICIJ e 17 parceiros de mídia das Américas. No Brasil, jornalistas de ÉPOCA e do site Poder 360 participaram da investigação.
São mais de 13 mil documentos que mostram novos pagamentos secretos feitos pela companhia, a partir do setor criado especificamente para gerenciar os subornos da construtora, que não haviam sido relatados até hoje.
Entre eles, estão 39 milhões de dólares pagos em conexão com a gigante usina a carvão de Punta Catalina, na República Dominicana, 17 pagamentos de cerca de 3 milhões de dólares relacionados a um gasoduto peruano, cerca de 18 milhões de dólares ligados ao sistema de metrô na Cidade do Panamá e mais de 34 milhões de dólares ligados à Linha 5 do sistema de metrô em Caracas, Venezuela.
Há ainda documentos sobre pagamentos relacionados a uma dúzia de outros projetos de infraestrutura em países da região, e e-mails discutindo pagamentos secretos que um banco da Odebrecht fez a empresas -fantasmas relacionados à construção de um sistema de metrô de 2 bilhões de dólares em Quito, capital equatoriana.
Em nota enviada ao ICIJ, a Odebrecht afirmou estar comprometida com a total cooperação com as autoridades que investigam a corrupção associada à empresa. “A Odebrecht continuará empenhada em um processo de colaboração irrestrita com as autoridades competentes”, afirmou a empresa.
Nos últimos três anos, a companhia fechou diversos acordos reconhecendo corrupção no Brasil e no exterior e delações de dezenas de executivos, está com seu controlador preso, e ainda assim terminou as obras pendentes.
Há algumas semanas, pediu a maior recuperação judicial da história,com dívidas entre 80 e 90 bilhões de reais. Na avaliação de executivos da empreiteira Odebrecht, foi a má reputação da empresa, e não o risco financeiro, que fez a Caixa executar garantias relacionadas ao estádio Itaquerão, em São Paulo.
A companhia afirma que esses desvios já haviam sido informados à Justiça. “Todos os documentos e testemunhos sobre fatos acontecidos no passado, inclusive a base completa de registros dos sistemas Drousys e My Web Day do extinto setor de Operações Estruturadas, estão há três anos sob posse do Ministério Público Federal brasileiro (MPF) e Departamento de Justiça americano (DOJ). Ou seja, as informações publicadas já foram entregues às autoridades e estão disponíveis para os países que celebraram acordos de leniência com a Odebrecht e concluíram o processo de homologação. Este é um procedimento da justiça adotado internacionalmente. Estabelece a confidencialidade da informação com o objetivo de resguardar os avanços das investigações, respeitando a soberania de cada nação e buscando a eficácia das ações legais contra os acusados", disse a empresa em comunicado.
"É equivocado afirmar que houve omissão por parte da empresa ou que todos os projetos mencionados nesses documentos têm vinculação com atos de corrupção. É importante ressaltar também que há uma parte relevante de informação disponibilizada pela empresa à Justiça, em diversos países, e que ainda não veio a público, em razão da confidencialidade dos processos. A Odebrecht espera ser reconhecida não só pela consistência de sua colaboração, que acontece de forma irrestrita e continuada, mas também pela transformação que já empreendeu em sua forma de atuação, combinando sua reconhecida capacidade de engenharia com atitudes éticas, íntegras e transparentes."