Indústria da moda pode ganhar US$ 123 bi se ficar mais sustentável
Se o modelo não mudar, 45 bilhões de euros em lucro estarão em risco até 2030, diz o relatório "Green is the new black", do banco Barclays
Carolina Riveira
Publicado em 19 de janeiro de 2020 às 08h00.
Última atualização em 19 de janeiro de 2020 às 09h00.
O modelo “pegar-fazer-jogar fora” da indústria de moda global precisa passar por uma transformação de sustentabilidade.
Segundo um relatório divulgado esta semana pelo banco Barclays, “Green is the new black”, a indústria da moda pode gerar cerca de 110 bilhões de euros (123 bilhões de dólares) em valor se abordar as principais questões ambientais relacionadas à água, energia, produtos químicos e resíduos. Mas, se o modelo não mudar, 45 bilhões de euros em lucro estarão em risco até 2030.
As “práticas da cadeia de suprimentos que consomem água, esgotam energia e desperdiçam criam uma preocupação ambiental e social que não podemos mais ignorar”, disseram os autores do estudo coordenado por Anushka Challawala e Hiral Patel.
Preocupações ambientais, sociais e de governança de investidores vieram à tona nos últimos anos, com vários lançamentos de fundos e fluxos direcionados à estratégia. A alocação de ações para os chamados fundos ESG aumentou muito, e investidores passaram a apostar em títulos verdes na busca por retornos.
A indústria da moda responde por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, mais do que voos internacionais e transporte marítimo juntos, de acordo com o Barclays. E um valor estimado em 500 bilhões de dólares é perdido a cada ano devido a “roupas pouco usadas e raramente recicladas”. Analistas do banco de Londres se basearam em estimativas do Boston Consulting Group, da organização sem fins lucrativos Global Fashion Agenda e da Ellen MacArthur Foundation, que promove o conceito de “economia circular”.
O Barclays vê os lucros ameaçados com o aumento dos custos de insumos, bem como com a iminente regulamentação, mudança da opinião pública e maior pressão dos consumidores preocupados com as mudanças climáticas e poluição por microplásticos.
Consumidores mais jovens “geralmente estão dispostos a pagar de 50% a 100% a mais do que outras faixas etárias por produtos ecologicamente corretos“, escreveu o analista da Bloomberg Intelligence, Poonam Goyal, no fim do ano passado.
O algodão convencional e o poliéster virgem respondem por cerca de 85% das fibras totais do vestuário atual. Com isso, o Barclays vê a necessidade de materiais mais sustentáveis no mix. Outras soluções propostas incluem o aumento da eficiência de recursos no processamento e fabricação de roupas, bem como a redução do desperdício pós-consumo - um problema agravado pela “era do fast-fashion e consumo excessivo”.
Na União Europeia, a Asos e o Boohoo Group estão “mais expostos” a essas questões devido à “dependência de preços acessíveis e tendências rápidas do consumidor”, segundo analistas do Barclays. Enquanto isso, a Primark, da Associated British Foods, destaca-se por seu foco em algodão e lojas físicas sustentáveis, evitando o impacto ambiental das entregas e devoluções.
A Hennes & Mauritz, pioneira em sustentabilidade, tem se interessado em ampliar materiais experimentais, como o “couro de abacaxi”, “algodão cultivado em laboratório” e “couro de cogumelo”, disse o Barclays.
Entre as empresas de vestuário dos EUA, o relatório destaca a Nike, Gap, Lululemon Athletica, PVH, Ralph Lauren e VF como “melhor posicionadas”, enquanto o EBay se beneficiaria de um modelo de negócios que enfatiza produtos de segunda mão, aluguel e direto ao consumidor.
Quanto à Amazon.com, Ross Sandler, analista do Barclays, disse no relatório que a gigante do comércio eletrônico se tornou “significativamente mais transparente” no ano passado ao divulgar suas metas de sustentabilidade e permanece “bem posicionada” na transição do setor para práticas sustentáveis.