Júlio Mila, da Acelera Ventures: fundo quer atingir 20 milhões de reais em investimentos em cinco anos (Acelera Ventures/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 26 de julho de 2023 às 07h00.
Empresas tradicionais, do varejo à indústria, têm procurado maneiras de diversificar seus negócios apostando em tecnologia. Mais do que isso, estão buscando identificar como novas soluções podem se encaixar em suas operações para estancar sangrias ou ampliar a rentabilidade.
Uma das alternativas para isso é lançar fundos de investimento em startups. É o que o Grupo Oscar, calçadista paulista com 40 anos de atuação, está fazendo. A empresa de São José dos Campos, que já lançou no passado uma iniciativa de venture capital, agora se uniu a outros dois grupos para lançar o Acelera Ventures.
Trata-se de um fundo que quer investir pelo menos 20 milhões de reais em startups nos próximos cinco anos. Desse montante, cerca de 15 milhões de reais já estão garantidos pelas três empresas participantes. O restante virá com a entrada de novos investidores.
Entre as dores que querem solucinar — e por isso estão procurando startups — está a questão de logística (como entrega para o cliente final) e engajamento com o consumidor, para mantê-lo como cliente da marca e aumentar o ticket médio. Outro ponto de atenção é o de eficiência operacional, para aumentar os ganhos com a operação. O Grupo Oscar tem hoje mais de 100 lojas multimarcas e um e-commerce. Atende o interior de São Paulo, Vale do Paraíba, Triângulo Mineiro, Joinville (SC), Alagoas e Paraíba. Tem também algumas marcas próprias, como Done Head, Constantino e Diadora.
Além do Grupo Oscar, está no projeto outra empresa do ecossistema de negócios de São José do Campo. É a CMP, de gestão empresarial. Fecha a parceria a Treesales, uma consultoria digital para empresas de Ribeirão Preto.
"A CMP já prestava serviços para o Grupo Oscar há muitos anos", diz Júlio Mila, CEO da Acelera Ventures. "E a Treesales, por meio de uma indicação, também entrou há dois anos para fazer a transformação digital da calçadista. Foi assim que todos se conheceram e se conectaram".
Além do varejo, outra aposta vai ser na indústria, principalmente agroindústria. Também olharão startups que curam dores do ESG.
A principal estratégia da Acelera Ventures é fazer um trabalho “sob medida”. O que o fundo quer é (além de investir nas startups) encontrar empresas que possam usar a solução daquele negócio.
“Nosso objetivo é gerar negócios para as startups”, diz Mila. “A ideia é encontrar possíveis empresas que possam usar as tecnologias das startups e fazer indicações. Faremos isso usando a relevância das empresas que estão no nosso fundo. Se eu indicar uma startup que atua no Grupo Oscar, outras empresas vão se interessar também”.
Principalmente de varejo e indústria. No caso do varejo, há um interesse também do Grupo Oscar, que poderá usar as tecnologias para suas operações.
São startups que atuam em soluções como logística, venda e retenção e aquisição de clientes.
Já na parte da indústria, o foco será em agtech e green techs.
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“Vamos investir e fazer conexões com possíveis clientes”, afirma Mila. “Além disso, se a startup puder atender as empresas do ecossistema, ainda melhor”.
Com o lançamento do fundo, começam as tratativas para os primeiros cheques. Já há conversas com três startups. Duas delas em estágio mais inicial de negociação, e uma terceira bem avançada, já na fase de contrato.
“É uma butique de produtos digitais, e já tem umas três ou quatro soluções de portfólio que estão precisando de ajuda para fazer o lançamento”, afirma o CEO.
Além disso, deve ser lançada ainda no segundo semestre uma chamada de inovação aberta para startups.
De espaço físico, serão três operações. Um ficará em São Paulo, na região da Faria Lima. Outro, no Parque Tecnológico de São José dos Campos. E um terceiro em um hub de inovação em Ribeirão Preto.
As três empresas têm razões para criar a Acelera Ventures. No caso do Oscar Calçados, a gana vem dos próprios empresários.
"Eles são muito empreendedores", diz Mila. "São grandes empresários que investem em segmentos que não necessariamente são do core business deles. Apostam, por exemplo, em soluções relacionadas a ESG. É uma inquietude, não conseguem ficar parados".
No caso da CMP, é algo parecido. Como eles fazem parte de uma consultoria de gestão empresarial, querem dar continuidade a esse projeto.
"E na Treesales, a gente respira isso", diz Mila. "Acreditamos na força do corporate venture. Esse momento, com menos investidores tradicionais apostando no venture capital, é um chamariz para as empresas tomarem protagonismo e mostrarem suas forças".