GPA e Assaí separados na bolsa: valor "não faz sentido", diz Credit Suisse
"Quanto você estaria disposto a pagar por um negócio de varejo alimentar que está crescendo a uma taxa de 28% ao ano?", diz o banco
Karin Salomão
Publicado em 10 de setembro de 2020 às 11h00.
Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 11h57.
O Grupo Pão de Açúcar anunciou ontem, 9, que pretende separar as ações de sua divisão de atacarejo, com a marca Assaí , em uma listagem distinta nas bolsas de valores brasileira e norte-americana.
O objetivo, segundo a empresa, é ampliar as possibilidades de acesso a capital das duas companhias. “O propósito da potencial transação é liberar o pleno potencial dos negócios de cash & carry e varejo tradicional da companhia, permitindo que operem de forma autônoma, com administração separada e foco nos seus respectivos modelos de negócios e oportunidades de mercado”, afirmou o GPA em nota.
O Assaí é a maior marca do grupo e representa quase 40% da receita total do grupo. No segundo trimestre do ano, a bandeira de atacarejo apresentou receita bruta de 9 bilhões de reais, alta de 26,4%, de um total de 22,9 bilhões. O multivarejo, que concentra as marcas de supermercado , hipermercado e lojas de proximidade do Extra e Pão de Açúcar, teve receitas de 8 bilhões de reais, e o Éxito, divisão colombiana incorporada no ano passado, faturou 5,8 bilhões de reais.
Para o Credit Suisse, a operação escancara um problema com o valor de mercado do GPA: ele "não faz sentido". "Quanto você estaria disposto a pagar por um negócio de varejo alimentar que está crescendo a uma taxa de 28% de forma consistente nos últimos cinco anos?" escreve o banco em relatório.
O banco analisa os múltiplos entre receita e valor de mercado de concorrentes e avalia que apenas a divisão de atacarejo Assaí poderia ter valor de mercado de 17 bilhões de reais, se fossem aplicados os mesmos múltiplos.
Esse é quase o valor total de mercado do GPA, o que significaria quase nenhum valor para a divisão do Éxito, multivarejo e outros negócios, como a startup de entrega James. Para o banco, esse valor "não é justo, na nossa visão, especialmente à luz do momento forte para a operação de varejistas alimentares no Brasil, que esperamos que continue nos próximos trimestres". O valor da ação hoje está em 62,15 reais e o banco tem como preço alvo 112 reais, quase o dobro.
A visão de que o ativo está com desconto também é compartilhada pelo Goldman Sachs. De acordo com cálculos feitos pelo banco, o GPA está avaliado em uma relação de 5,2 vezes entre o valor de mercado e o Ebitda previsto para 2021, um "desconto notável" em relação à média global de 7,7 vezes e à média de 10,3 vezes nas Américas. No Carrefour, esse múltiplo é de 8,1 vezes, por exemplo.
As ações do grupo varejista (PCAR3) na B3 chegaram a disparar 20% na abertura do pregão desta quinta-feira, 10, em decorrência do comunicado na última noite, depois do fechamento do mercado. Por volta das 11h50, a alta era de 14%.