Equinor investirá em exploração de gás no Brasil, mas vê leilão como caro
Companhia se prepara para colocar em operação campos marítimos com grande quantidade de gás nos próximos anos
Reuters
Publicado em 22 de outubro de 2019 às 16h28.
Última atualização em 22 de outubro de 2019 às 16h34.
Rio de Janeiro — A petroleira norueguesa Equinor está estudando locais no litoral brasileiro para instalar nova infraestrutura de gás natural, em um processo desafiador que pode sinalizar caminhos para a indústria que busca ampliar a produção da commodity no Brasil, disse a presidente da empresa no país à Reuters.
Isso acontece enquanto a companhia se prepara para colocar em operação campos marítimos com grande quantidade de gás nos próximos anos, ao mesmo tempo em que volta suas atenções para o megaleilão de novembro no pré-sal, cujo bônus foi avaliado como "muito alto".
Em entrevista na segunda-feira, Margareth Øvrum disse ainda que área descoberta de gás condensado chamada Pão de Açúcar, da Equinor, poderá iniciar produção em meados da década de 2020, tornando-se provavelmente o primeiro grande campo marítimo focado em gás a entrar em operação no Brasil sob a operação de uma petroleira estrangeira.
Por isso, outras empresas estarão assistindo de perto a experiência da Equinor, uma vez que a infraestrutura de escoamento de gás de campos marítimos é mais complexa que a de petróleo , devido à dificuldade de manipular o insumo. Até hoje, apenas a Petrobras conduziu iniciativas desse tipo no Brasil.
"Estamos avaliando diferentes oportunidades para levar o gás à costa", disse Øvrum à Reuters, no escritório da empresa com vista para a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, evitando dar sinais mais claros sobre as soluções que poderão ser escolhidas.
"Devemos ampliar um terminal? Construímos um novo? O que faremos sobre os líquidos de gás natural?", comentou ela.
A empresa está em conversas semelhantes a respeito de seu campo de Carcará, onde a previsão é iniciar a produção da "primeira fase" em 2023 ou na primeira metade de 2024, disse ela.
A empresa, que planeja investimentos de cerca de 15 bilhões de dólares até 2030 no Brasil, ainda não decidiu quando começará a segunda fase, acrescentou, mas isso também pode envolver a construção de infraestrutura de gás natural.
"Estávamos avaliando diferentes oportunidades para conectá-lo a alguns campos próximos. Mas, você sabe, era muito caro, então não daria certo", disse ela sobre a primeira fase de Carcará, que irá reinjetar todo o gás.
Leilão caro
Maior produtor de óleo e gás da América Latina , o país acelerou o desenvolvimento de sua prolífica região do pré-sal, nas bacias de Campos e Santos.
Muitos dos ativos da região têm quantidades significativas de gás, mas o consumo é baixo entre os brasileiros e o país possui poucos dutos e terminais para facilitar o aproveitamento das reservas.
Como resultado, as empresas optaram amplamente por "reinjetar" o gás nos poços, em um processo que aumenta a produção de petróleo.
Mas isso só funcionará por um determinado tempo. Alguns campos entrando em operação no pré-sal têm muito gás para reinjetar.
O governo lançou neste ano programa chamado Novo Mercado de Gás, que tem como objetivo reduzir a presença da Petrobras e fomentar investimentos no segmento. A expectativa é que investidores construam gasodutos, plantas de tratamento de gás, dentre outras infraestruturas.
Dois grandes leilões marcados para o início de novembro, de áreas muito promissoras, provavelmente aumentarão o dilema.
A Equinor é uma das 14 empresas inscritas para o megaleilão do governo que irá ofertar volumes excedentes do contrato da chamada cessão onerosa, em 6 de novembro, quando o governo espera arrecadar cerca de 106 bilhões de reais em bônus de assinatura, com a negociação de quatro ativos.
Embora os blocos em oferta sejam considerados únicos, uma vez que a Petrobras já realizou trabalhos exploratórios na região, algumas grandes empresas de petróleo levantaram sinais de alerta sobre os preços dos ativos.
Øvrum disse que a Equinor está estudando a lucratividade potencial das áreas, acrescentando que o Brasil compete com outras oportunidades de ativos no mundo.
"Obviamente, é um bônus de assinatura muito alto", disse ela.
"Você está competindo com outras oportunidades, seja na Argentina, no Golfo do México, na Noruega ou em qualquer outro lugar. E você não está competindo pelo volume, mas pelo valor."