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Empresa do avião da Chapecoense tem raiz em negócios obscuros

Parlamentar venezuelano está na origem da LaMia, companhia aérea dona do avião que caiu matando parte do time da Chapecoense na Colômbia

LaMia: empresa nasceu na Venezuela, mas transferiu as operações para a Bolívia (Reuters/Reuters)

LaMia: empresa nasceu na Venezuela, mas transferiu as operações para a Bolívia (Reuters/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de novembro de 2016 às 07h28.

São Paulo - Um ex-parlamentar venezuelano está na origem da empresa LaMia, companhia aérea dona do avião que caiu nesta terça-feira na Colômbia matando parte da equipe da Chapecoense, dirigentes, jornalistas e tripulantes.

Ricardo Albacete Vidal é o fundador e proprietário da empresa na Venezuela, tendo transferido as operações para uma subsidiária boliviana em janeiro de 2015.

A LaMia anunciou, em 2010, o início das operações no Estado de Mérida. Criada após um acordo com o governo de Hugo Chávez para impulsionar o setor aéreo do país, a aérea foi registrada como uma companhia de ciência e tecnologia.

Com isso, foi beneficiada com a influência do governo para levantar dinheiro junto a um fundo de investimento criado pelo governo chinês para estimular a economia venezuelana.

Os voos regulares, no entanto, não decolaram. O governador de Mérida à época, o chavista Marcos Díaz Orellana, deu todo o apoio ao projeto, mas foi apontado por Albacete como responsável pelo atraso nos repasses de investimento público e na burocracia. Em 2013, finalmente, a LaMia leva seus planos para outro Estado venezuelano: Nova Esparta.

O governador local, general Carlos Mata Figueroa - um dos mais destacados integrantes do então "núcleo duro" do chavismo - abraça o plano, mas a situação de Mérida se repete, o investimento público chega a conta-gotas e a empresa não avança.

Em janeiro de 2015, Albacete desiste da operação venezuelana, transfere as aeronaves para a Bolívia e cria a LaMia Bolívia, em sociedade com Miguel Quiroga, piloto que já voava como instrutor na escola de aviação Aerodinos e era genro do ex-senador boliviano Roger Pinto Molina. Quiroga, de 36 anos, comandava o jato que caiu nesta terça-feira e não sobreviveu ao acidente.

Ele morava no Brasil com a mulher e os três filhos. Vivia em um distrito da cidade de Epitaciolândia, no Acre, e estava construindo uma casa na cidade.

"Ele era louco por aviação; um dos melhores pilotos que conheci", disse ao jornal O Estado de S.Paulo o instrutor de pilotagem acrobática Júlio Soares, de Rio Branco.

Grande salto

Da Bolívia, Ricardo Albacete transferiu-se para a Espanha, mantendo as operações da LaMia a cargo de Quiroga. No país europeu, o fundador da companhia passou a fazer lobby para os negócios da China Sonangol, gigante chinesa do setor de petróleo com sede em Angola.

Um dos principais executivos da China Sonangol, Xu Jinghua - mais conhecido pelo nome que adotou, Sam Pa -, foi figura-chave na criação da LaMia, segundo o próprio Albacete afirmou em entrevista a uma TV venezuelana.

O vídeo, gravado em 2011, mostra Albacete afirmando que o capital da LaMia Venezuela teve ajuda do empresário chinês. "É uma empresa de todos os cidadãos de Mérida. Eu e minha família temos um capital inicial, com um apoio de um investimento chinês", afirmou.

"É um chinês amigo de muito poder aquisitivo que conheci há alguns anos. Já tive empresas na China. Ele nos apoia um pouco com essa operação. Seu nome é Sam Pa e investe em Angola".

Nesta terça-feira, Albacete afirmou que "um raio provavelmente provocou o acidente" em declarações ao jornal espanhol El Confidencial. Ele disse que sua empresa - LaMia Venezuela - apenas arrendou os aviões à LaMia Bolívia.

"Não somos acionistas nem empregados. Deixamos o mesmo nome para não perder a pintura do avião, que arrendamos a eles".

Prisão e diamantes

As operações de Sam Pa à frente de investimentos chineses pelo mundo o levaram a sentar-se à mesa com líderes como o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, e o próprio Hugo Chávez.

Sam Pa foi alvo, em junho de 2014, de sanções do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos por "prejudicar as instituições democráticas do Zimbábue" e por "participar de tráfico de diamantes".

O chinês ainda foi descrito pela seção de antiterrorismo do Departamento de Tesouro como "partidário do regime de Robert Mugabe".

"Entre outras ações, Sam Pa deu mais de US$ 1 milhão para membros do governo do Zimbábue para apoiar sua agência de inteligência repressão", disse o governo norte-americano.

"Como resultado dessas ações, congelamos todos os bens desse indivíduo dentro das jurisdições dos EUA. Qualquer transação com cidadãos americanos ou entidades do país está proibida".

As sanções americanas não impediram o chinês de continuar com suas operações em Angola, Zimbábue e tentar comprar um bloco de exploração de petróleo na Galícia - a operação não deu certo, mas, posteriormente, a China Sonangol conseguiu comprar parte de uma empresa concorrente.

A trajetória do executivo chinês, no entanto, foi encerrada abruptamente no dia 8 de outubro de 2015, quando Sam Pa foi detido pelas autoridades chinesas sob a acusação de corrupção na condução dos negócios do China Investment Fund (CIF).

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