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Easy e 99: todos contra o Uber

Gian Kojikovski Em junho do ano passado, Dennis Wang, co-presidente da Easy (antiga Easy Taxi) foi a Pequim, na China, para uma reunião decisiva. Sentou-se com representantes da Baidu, conhecida como Google chinês, do fundo americano Riverwood Capital e da empresa de mobilidade Didi Chuxing, para ouvir uma proposta: juntar-se com a concorrente 99 (antiga […]

UBER: projeto de lei pode inviabilizar os aplicativos de transporte de passageiros no Brasil  / Quique Garcia / Getty Images

UBER: projeto de lei pode inviabilizar os aplicativos de transporte de passageiros no Brasil / Quique Garcia / Getty Images

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Gian Kojikovski

Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 16h40.

Última atualização em 27 de junho de 2017 às 18h01.

Gian Kojikovski

Em junho do ano passado, Dennis Wang, co-presidente da Easy (antiga Easy Taxi) foi a Pequim, na China, para uma reunião decisiva. Sentou-se com representantes da Baidu, conhecida como Google chinês, do fundo americano Riverwood Capital e da empresa de mobilidade Didi Chuxing, para ouvir uma proposta: juntar-se com a concorrente 99 (antiga 99Taxi), com um aporte financeiro da Riverwood e da Didi, para fortalecer a briga contra a Uber e outros concorrentes na América Latina. Semanas depois, aconteceu um novo encontro, dessa vez com Peter Fernandez, presidente da 99, também presente.

As reuniões parecem improváveis para quem vê a ferrenha disputa pelo mercado de transporte de passageiros por meio de táxis e carros particulares nas ruas do país, mas conversas entre as empresas acontecem desde 2012 – e ambas negociam com fundos e companhias chinesas desde 2013. Em um mercado que segue se consolidando mundo afora, fazer uma sinergia contra o Uber e para alavancar os negócios na América Latina parecia fazer sentido. O Uber tem em São Paulo seu segundo e maior mercado no mundo. “Não é um mercado para ter uma só companhia por país, mas também não funciona com quatro ou cinco empresas”, diz um executivo do setor.

Na proposta final chinesa, que transformaria 99 e Easy em uma só empresa, o Riverwood colocaria cerca de 100 milhões de dólares e a Didi, entre 100 e 200 milhões. O Baidu, dono do site brasileiro de compras coletivas Peixe Urbano, e que vem tentando aumentar sua influência no Brasil, ficaria com o mérito de ter ajudado na negociação. Mas o plano não saiu do papel. A Didi desistiu do negócio, o que fez o Riverwood sair do páreo e acabando com o interesse das startups.

No fim das contas, a 99 anunciou no dia 4 de janeiro um aporte de 100 milhões de dólares da Didi. A Easy ficou a ver navios. Outros fundos que participaram do round não foram divulgados, mas um deles teria sido o próprio Riverwood, que havia sido trazido para a mesa justamente pela Easy, mas preferiu a concorrente. Procuradas, Baidu, 99 e Easy não quiseram comentar o caso com EXAME Hoje.

Para tentar diminuir os problemas que enfrenta no país, o Uber anunciou nesta terça-feira 17 que investirá 200 milhões de reais no mercado brasileiro, criando uma central de atendimento que deve gerar 2.000 empregos diretos. A startup também encontra dificuldades em entrar em países como Colômbia e Peru, onde o Easy comanda o mercado.

Logo após o acordo entre Didi e 99, o presidente do Baidu no Brasil, Yan Di, mostrou-se decepcionado e postou em chinês no WeChat, rede social de propriedade da própria empresa, a confirmação da tentativa de acordo. “No ano passado o Baidu tentou muito juntar forças para investir em uma fusão de 99 e Easy como forma de equilíbrio contra a Uber – fizemos duas viagens à China apenas para isso. Mas as empresas são surpreendentemente míopes – todo mundo está apenas se preocupando em maximizar o seu valor de mercado para os investidores. Eu não acredito que Didi fará mais do que apenas o investimento – e isto dará a Uber uma oportunidade de dividir e vencer todos”, escreveu.

A Didi trabalha com carros e até vans compartilhadas na China, além de já ter captado quase 7,5 bilhões de dólares em investimentos, o que garante que não faltará dinheiro para correr atrás de tendências da indústria. “É um movimento que faz sentido para a 99, assim como pode ser interessante para a Easy se aproximar de uma montadora, como a General Motors e a Volkswagen, que já investiram em empresas de transporte em outros país, assim como com a Cabify”, diz Paul Malicki, ex-diretor de marketing da Easy e membro do conselho da Splyt, startup especializada em monitorar apps de mobilidade urbana.

Entre os pontos que emperraram o negócio está a disputa sobre o controle da futura companhia, assim como o interesse divergente de fundos que investiram em ambos os negócios. Embora as empresas tivessem chegado a um acordo de que a 99 teria o controle do negócio, o poder de cada uma delas – e dos fundos que investiram em ambas – dentro dessa nova empresa causou atritos. O Monashees, um dos principais fundos de investimento brasileiros e que investe na 99 desde seus primeiros dias, foi um dos que não se sentiram confortáveis e também dificultou o negócio.

A onda do momento

O mercado de mobilidade urbana anda supermovimentado em todo o mundo e a Didi, investidora da 99, é uma das principais responsáveis por isso. Desde que a Uber anunciou que a China seria prioridade em seus planos de expansão, os chineses passaram a fazer movimentos estratégicos em todo o mundo na tentativa de minar os investimentos da empresa americana. Assim, passaram a colocar dinheiro nos aplicativos concorrentes da empresa americana em todos os outros mercados emergentes – e até nos Estados Unidos – como forma de impedir que os americanos colocassem 100% de seu foco no país asiático. Depois de dois bilhões de dólares perdidos somente na China, Travis Kalanick, presidente da Uber, acusou o golpe e decidiu se retirar do país em troca de um bilhão de dólares em dinheiro e uma fatia de 17,7% das ações da concorrente.

A vinda da Didi para a América Latina, último mercado emergente a entrar em seu radar, deve forçar mais um movimento. Desde antes do anúncio da nova rodada de investimentos da 99, a Easy e o espanhol Cabify, que começou a operar no Brasil em meados de 2016, têm conversado. O Cabify não trabalha com táxis, apenas com carros particulares. Uma possível fusão seria interessante porque tanto a empresa espanhola como a brasileira têm presença em praticamente toda a América Latina, o que geraria uma sinergia. O Cabify também atua em alguns países europeus, como Espanha e Portugal. Por outro lado, nada deve acontecer antes de ficar definida a estratégia que a 99 tomará após a chegada do dinheiro chinês.

Quando o anúncio do investimento foi feito, a 99 deixou claro que pretendia expandir no Brasil a categoria 99pop, de carros particulares, e depois procurar novos mercados na América Latina. A estratégia pode ser complicada. “Sair do zero em um novo mercado que já tem outros competidores dominantes é muito complicado e caro. Precisa ter muito fôlego financeiro para atrair tanto clientes como motoristas”, diz um executivo do setor. Agora, a empresa tem 100 milhões de dólares fresquinhos. A disputa entre as startups deve ficar cada vez mais acirrada.

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