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Dois milhões de alunos e R$ 9 bi de valor: o fenômeno Smart Fit

Maior rede de academias do Brasil recebeu investimento de fundo canadense; crescer com lucro é maior desafio da companhia

ACADEMIA DA SMART FIT: companhia abre uma nova unidade a cada dois dias na América Latina  / Leo Martins

ACADEMIA DA SMART FIT: companhia abre uma nova unidade a cada dois dias na América Latina / Leo Martins

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Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2019 às 11h53.

Última atualização em 27 de novembro de 2019 às 12h13.

Quando o empresário Edgard Corona fundou sua primeira academia, foi um fracasso. O ano era 1996 e, na época, o conceito de ginástica de baixo custo mal existia no Brasil. Mais de duas décadas depois, a família Corona se tornou proprietária do grupo Bio Ritmo, o maior do segmento fitness no país e o terceiro maior do mundo em número de unidades próprias.

Sua principal estrela, a rede de academias Smart Fit, recebeu nesta terça-feira um investimento de 1,06 bilhão de reais do fundo de pensão canadense CPPIB por 12,4% do negócio. Ou seja, a Smart Fit passou a valer 9 bilhões de reais. A rede de Corona está com essa bola toda?

Com mais de dois milhões de clientes espalhados em dez países da América-Latina e no México, no mês de agosto, a Smart Fit apareceu na quinta posição do ranking internacional IHRSA em número de frequentadores, e em terceiro lugar em número de unidades em funcionamento, com 509 lojas em 2018, ano base do levantamento.

A companhia é um fenômeno de público por oferecer unidades bem localizadas e com equipamentos modernos a preços acessíveis, que começam em 69,90 reais por mês. O problema: fazer a conta fechar é tão desafiante quanto encontrar uma esteira vaga às 18h.

Pela primeira vez em nove anos desde sua fundação, a Smart Fit conseguiu chegar no azul em 2018, com lucro líquido de 357 milhões de reais. O resultado veio com a consolidação da marca na América Latina através de aquisições de controles societários de diversos negócios locais pelo grupo Bio Ritmo, firmando a rede sob a mesma marca.

Este ano, a empresa vem conseguindo manter um crescimento de 80% no faturamento, mas o lucro de 140 milhões de reais nos primeiros nove meses de 2018 virou um prejuízo de 7 milhões de reais entre janeiro e setembro deste ano. Ganhar escala e perder margem não é uma combinação que costuma trazer tranquilidade a investidores. Reverter a tendência recente é um dos principais desafios da companhia para o próximo ano, quando pretende abrir 180 unidades, segundo Corona confirmou a EXAME. O aporte do fundo de pensão canadense deve ajudar a cumprir a meta.

Segundo o empresário, entre academias em funcionamento e lojas em processo de abertura, hoje, a Smart Fit está presente em cerca de 730 endereços do Brasil, México, Guatemala, República Dominicana, Chile, Peru, Argentina, Colômbia, Equador, Paraguai e Panamá.

Corona atribui o crescimento da marca a uma cultura de gestão horizontal que impulsiona o crescimento da rede de forma orgânica. “A gente passa por uma formação chamada metanoia, que diz que você precisa ter significado, influência e poder para todos os que trabalham na organização. Em cima disso, passamos a construir uma cultura horizontal e colaborativa que permite que a gente dê um outro impulso no crescimento”, diz.

Do fracasso à democratização do Fitness

Engenheiro químico de formação, Edgard Corona, hoje principal nome do mercado de academias de ginástica do Brasil, diz ter entrado no ramo por acaso. “Comecei por acidente. Me convidaram para comprar uma participação em uma academia e aceitei porque me parecia algo simples, não tinha que cuidar de estoque, etc. Em compensação, existe uma série de processos para comandar em uma loja desse tipo. Nossa primeira academia, em 1996, foi um fracasso, mas nós aprendemos a lição”, comenta.

A saída foi aperfeiçoar o modelo norte-americano de academias de baixo custo à realidade brasileira, de onde ainda vem dois terços do faturamento da companhia. Os negócios também estão vingando no México e em outros nove países da América-Latina, que juntos já correspondem a um terço do faturamento da rede.

“Ainda existem mercados muito desassistidos. Nós entramos na Guatemala e a primeira loja foi um sucesso retumbante, porque esses caras nunca tiveram um lugar decente para treinar. Estamos entrando em lugares não muito óbvios, com o objetivo de democratizar o fitness”, conta Edgard.

Para os próximos anos, o plano da Smart Fit é manter a expansão atual: uma inauguração a cada dois dias. “O mercado brasileiro tem 4% de praticantes de academia, enquanto nos EUA são 18%. Lógico que a renda de lá é um fator, mas ainda há onde crescer por aqui”, diz o empresário.

O preço do baixo custo

Mesmo tendo se tornado a líder no segmento de academias de baixo custo em toda a América-Latina em apenas dez anos, a manutenção crescimento da rede Smart Fit deve vir acompanhada de imensos desafios nos próximos anos, segundo um consultor do segmento fitness que preferiu não se identificar. “O maior desafio a médio e longo prazo da marca é que inúmeras outras redes com novas propostas estão crescendo na mesma velocidade”, diz.

Hoje, uma das maiores concorrentes da Smart Fit é a Bluefit, que já tem 60 unidades em operação no Brasil e espera terminar 2019 com 40 novos endereços, sendo cinco deles na Argentina e outros cinco na Bolívia. No início do ano, o negócio realizou uma captação de 140 milhões de reais por meio de private equity, o que deve sustentar a expansão.

Para o analista do setor consultado por EXAME, embora o sucesso da Smart Fit seja inatingível para as concorrentes a curto prazo, a qualidade dos serviços de uma rede tão grande a um preço baixo pode tende a ficar comprometida, o que pode fazer com que os clientes migrem para outras marcas. “O grande problema da Smart Fit é que nasceram muitas outras Fits, e é natural que uma pessoa que está em uma academia abarrotada migre para a concorrência”, diz.

No último mês, a reportagem de EXAME visitou três academias Smart Fit em diferentes regiões da capital paulista no chamado ‘horário de pico’, entre 17h30 e 19h30. Em todas as visitas, havia mais clientes do que equipamentos disponíveis, e em alguns casos, filas para fazer uso das máquinas. Nas unidades visitadas, a reportagem não encontrou problemas para receber orientação de preparadores físicos, mas o suporte só é dado quando solicitado pelo cliente.

“No Brasil, quando você pega todo o custo de ocupação, aluguéis, condomínio, IPTU, tudo que é feito dentro de uma academia de low cost, se você coloca uma carga de professores maior, como nas academias convencionais, certamente essa conta não fecharia”, diz o analista ouvido por EXAME. Para Corona, e para seus 2 milhões de clientes, a equação tem valido a pena.

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